Desde que o Brasil iniciou o seu processo de industrialização, a atividade têxtil tem exercido um papel fundamental na economia brasileira e se tornou um dos mais importantes setores industriais do país. Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (Abit), indicam que o setor, possuindo mais de 25 mil empresas em todo o país, é o segundo maior empregador da indústria de transformação, ficando atrás somente da indústria de alimentos e bebidas. Sendo assim, o segmento tem um grande impacto econômico já que é um grande exportador de produtos. Ainda de acordo com a Abit, o maior importador de produtos têxteis do Brasil é a Argentina, que entre janeiro e dezembro de 2020, importou cerca de 180,5 milhões de dólares em produtos brasileiros, seguido pelos Estados Unidos e Paraguai, que importaram 103,9 e 80,3 milhões de dólares em produtos, respectivamente.
A indústria têxtil se expandiu pelo Nordeste a partir da cultura do algodão, abundante na região, e desde então se tornou uma das mais importantes atividades econômicas. A Paraíba, por exemplo, figura como um dos principais polos têxteis da região, com destaque para o Sertão do estado, onde estão localizadas as cidades de Cajazeiras, Catolé do Rocha, Itaporanga, Patos, Pombal, Santa Luzia, Sousa e São Bento, grandes produtoras do setor, sendo esta última uma das principais.
São Bento se autointitula como a “capital mundial das redes”, fazendo referência a produção de redes de dormir que fizeram do município um grande centro de produção do setor têxtil no estado. A cidade, que é famosa em todo o país por conta de suas redes, iniciou esse ciclo comercial em meados do século passado e até os dias de hoje a atividade de tecelagem artesanal desses produtos e sua comercialização é passada de pai para filho, fazendo com que se torne não somente comercial, mas também intrínseco na cultura local.
De acordo com o Centro Internacional de Negócios da Paraíba, desde 2016 o estado vem apresentando a cidade de São Bento como a principal exportadora de redes e demais produtos da categoria, com um crescimento significativo de faturamento em suas exportações, somando um total de 82,6 mil dólares apenas em 2020, frente aos 77,9 mil dólares no ano anterior e 21,6 mil dólares em 2018, superando João Pessoa com uma exportação no valor de 7,2 mil dólares apenas em 2019.
Segundo o Mapa de Oportunidades do Estado da Paraíba de Áreas Potenciais de Investimento, organizado pela Federação das Indústrias do Estado da Paraíba - FIEP, São Bento é um dos principais pólos de produção e distribuição do setor têxtil, cujo mercado consumidor está presente também em outros países, e esse fato “dissemina efeitos positivos para municípios circunvizinhos, contribuindo para a geração de empregos e renda na Região de forma crescente e contínua”.
Uma das empresas fundadas na cidade, a Santa Luzia Redes e Decoração, é um dos grandes exemplos dessa cooperação dentro do contexto têxtil da região produtiva de São Bento. Segundo o Diretor Executivo, Armando Dantas, as atividades da empresa criam oportunidades de trabalho na região, já que os produtos têm início de produção na empresa, mas são finalizados artesanalmente fora da fábrica, o que colabora, por exemplo, para a inserção de pessoas de áreas rurais, onde não há outras fontes de renda, no mercado de trabalho.
“O impacto na economia local se dá com a inserção da cultura por meio do artesanato. Estes profissionais, principalmente mulheres que trabalham em suas próprias casas, inserem as varandas e o mamucabo, entre outros adornos e acessórios. Da fase inicial, urdimento, até o produto final, como no caso da rede de dormir, pode levar até 60 dias para um produto pronto. Ao voltarem para a fábrica estes produtos são embalados e etiquetados e distribuídos por transporte rodoviário, aéreo ou, no caso de exportação, principalmente por via marítima, em containers.”, explicou.
A empresa iniciou suas operações na década de 80 com uma pequena estrutura de produção, focada, inicialmente, em lojistas e vendedores ambulantes. Hoje possui uma capacidade de produção de aproximadamente 160 mil metros de tecidos mensais, que são utilizados como base para a fabricação dos mais diversos produtos, desde redes, mantas, almofadas, cortinas e tapetes. Além disso, a estrutura comercial da empresa é composta por um e-commerce, 4 lojas próprias nas cidades de Natal, no Rio Grande do Norte, Fortaleza, no Ceará, João Pessoa, na Paraíba, uma loja franqueada em Brasília no Distrito Federal, além de um Centro de Distribuição em São Paulo, que colabora para que os produtos estejam presentes nas principais redes varejistas do país, levando as redes de São Bento a conhecimento nacional.
Preocupada com o ambiente, a Santa Luzia Redes e Decoração alia a sustentabilidade ambiental com inovação, por meio de suas produções baseadas na reciclagem de fios e na cultura do algodão colorido sem uso de aditivos ou corantes. Segundo Armando Dantas, o processo de produção das redes envolve todo um ciclo que começa ainda na plantação do algodão. “O processo de produção envolve a cultura do algodão colorido em sistema de agricultura familiar com contrato de compra garantida. Nestes locais há o descaroçamento. As plumas são enviadas para uma fiação que transforma estas fibras em fios. Na fábrica fazemos o urdimento, a tecelagem e o desenvolvimento dos produtos. Eles são vendidos para clientes que compram não somente pelo design, mas pelo nosso compromisso socioambiental”, explicou o Diretor Executivo da empresa.
Essa cooperação da agricultura familiar na plantação do algodão colorido para a empresa não é realizada só no Sertão do estado, mas também no Assentamento Margarida Maria Alves, da cidade de Juarez Távora, Agreste da Paraíba.
Hoje, a Santa Luzia Redes e Decoração já exporta para cerca de 23 países de todos os continentes. De acordo com Armando Dantas, o que proporciona esse relacionamento internacional é a participação em eventos pelo mundo todo, nos quais, em 2019, a empresa foi reconhecida com o Prêmio de Excelência Artesanal Cone Sul pelo Conselho Mundial de Artesanato. “Nossa comercialização para exportação se dá por meio de participação em feiras e eventos nacionais e internacionais. Há também clientes internacionais que alcançamos pela internet porque construímos uma boa presença digital. Temos autoridade e relevância e nos destacamos com conteúdo qualificado no site institucional e nas redes sociais”, disse.
Visando o crescimento do mercado e o futuro da tecnologia, a empresa é a mais nova parceira do SENAI/PB. No mês de março de 2021, o Diretor Executivo da empresa, Armando Dantas, assinou contratos de consultorias para desenvolvimento de tecidos jacquard e desenvolvimento de padronagens em tecido felpa por intermédio do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção da Paraíba.
Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP), Francisco de Assis Benevides Gadelha, o desempenho de Armando Dantas enquanto empreendedor é uma importante contribuição à produção industrial e geração de empregos na região. “Ele tem sido um empreendedor nato, se preocupando com a produção do algodão, auxiliando e apoiando aquelas pessoas que querem produzir, gerando empregos diretos e indiretos, tornando São Bento uma referência na produção de redes em todo o mundo. Portanto, o Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção tem muito a absolver dos conhecimentos de Armando, bem como vai colaborar para que ele possa fazer uso de máquinas mais sofisticadas em sua produção”, destacou.
A estrutura têxtil do SENAI: um estímulo ao desenvolvimento do setor
Acreditando em um exponencial crescimento deste segmento industrial, a FIEP através do SENAI, disponibiliza no IST Têxtil e de Confecção uma planta têxtil com equipamentos de alto desempenho. Além disso, oferece soluções para potencializar o setor com inovações, tecnologia e capacitação técnica para o pequeno, médio e grande empresário, atendendo todos os conceitos da moda desde a fibra até a passarela.
A reestruturação da Planta Têxtil tem impacto direto no crescimento do setor no estado, bem como no desenvolvimento social, capacitando mão-de-obra, oferecendo um grande leque de consultorias e assessorias aumentando a competitividade dos produtos e processos das empresas têxteis e de confecção do Estado da Paraíba.
O presidente da FIEP, Francisco Gadelha, celebrou o convênio entre o SENAI e a Santa Luzia Redes e Decoração e ressaltou a importância da empresa para a cidade de São Bento, que é o símbolo da produção de redes no país. “Nós ficamos muito felizes em celebrar esse convênio com a Santa Luzia Redes e Decoração, que é um ícone para a cidade de São Bento, e São Bento é o símbolo maior da fabricação de redes no nosso país, de lá são exportadas redes para toda a América Latina, Europa e Estados Unidos. Temos um enorme prazer em ceder as nossas máquinas e receber ela que é uma das maiores fabricantes de redes do nosso país, para processar, ainda melhor, os seus produtos e também aumentar a sua produtividade, para que ela seja disseminada em todo o mundo”, disse.
O Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecção conta com especialistas de grande experiência em implantação de sistemas de produção eco eficientes, modernização da planta industrial, gestão da planta industrial, design de moda e inovação, além de ensaios laboratoriais, desenvolvimento de produtos e processos com conceito sustentável, e modelagem e adequação às normas vigentes. A infraestrutura conta com uma planta de fiação completa onde desenvolvemos inovações em artigos com algodão colorido orgânico, bem como o beneficiamento sustentável sem o uso de água através do nosso aplicador de ozônio.
O Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção, em João Pessoa, é a maior escola de fiação e tecelagem de toda a América Latina, possuindo um aparato tecnológico de última geração baseado na Indústria 4.0.
O setor têxtil e a pandemia do novo coronavírus
Assim como qualquer outro setor econômico, o setor têxtil também foi um dos grandes atingidos pelas consequências da pandemia, isso porque foi necessário realizar uma reorganização e reestruturação de cadeias produtivas dentro do segmento.
Com a intenção de colaborar com a sociedade contra a ameaça do novo coronavírus, a indústria têxtil conseguiu se mobilizar para produzir máscaras e outros equipamentos de proteção individual para prevenção do vírus, assim como desenvolveu tecidos com propriedades antivirais, que ajudam na inativação do Sars-CoV-2 e minimizam a probabilidade de contaminação pelo contato direto com infectados.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (Abit), a produção de máscaras pelas empresas do setor subiu de 6,5 milhões para 140 milhões em apenas quatro meses, período em que algumas empresas converteram suas linhas de produção para atender essa demanda, como foi o caso da Santa Luzia Redes e Confecções, que reestruturou uma parte da fábrica para produzir máscaras.
Armando Dantas comenta que precisou adaptar as produções da Santa Luzia Redes e Decoração, para não paralisar mas com segurança para os colaboradores. “Mesmo na pandemia, criamos novos arranjos produtivos. A nossa contribuição é viabilizar o trabalho e renda para a mão de obra artesanal, que pode ser mantida mesmo diante de um isolamento social. Nosso papel fundamental foi transformar esta crise em uma oportunidade e conseguir manter nosso compromisso com os colaboradores, garantindo a sustentabilidade da cadeia produtiva”, comentou.
Com isso, a empresa conseguiu crescer e obter bons resultados, mesmo durante a pandemia, tanto no mercado interno, como nas exportações, e assim colaborar com o crescimento do setor têxtil no estado.
Texto/Colaboração: Igor Batista
Créditos/Fotos: Divulgação/Empresa Santa Luzia Redes e Decoração/Paulo Rossi