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Como produzir enquanto a vacina não chega

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 24 de fevereiro de 2021

Empresários contam como estão lidando com os efeitos da pandemia

Um ano depois do início da pandemia da Covid-19 no mundo, um dos principais desafios das empresas brasileiras para garantir a recuperação da economia é a vacinação dos trabalhadores que não estão entre os grupos prioritários da campanha de imunização realizada pelo Ministério da Saúde. “Daqui para frente é muito mais continuar com os protocolos e incentivar a vacinação”, afirma Sergio Bocayuva, CEO da Usaflex, indústria de calçados com sede no Rio Grande do Sul.

“Dois meses atrás, quando percebi a possibilidade de acelerar o retorno de forma mais equilibrada, fiz uma proposição a outras empresas de calçados para que a gente conseguisse fazer uma compra coletiva das vacinas para aplicar nos colaboradores. A intenção era que fizéssemos uma compra para todas as empresas do setor, podendo até mesmo expandir para o consumidor”, lembra Bocayuva. Como não foi possível, destaca, é importante manter os protocolos de segurança na empresa, que também vende seus produtos em lojas próprias e pela internet.

Bocayuva espera um primeiro trimestre similar ao de 2020, quando a pandemia prejudicou as vendas. “As pessoas estão muito cansadas e não aguentam mais esse clima de abre e fecha. Há um cansaço emocional”, resume ele, que espera uma “explosão de faturamento” no segundo semestre. “Entendemos que grande parte do público-alvo será vacinado até março e abril e, depois, teremos uma recuperação das vendas no Dia das Mães”, prevê.

Otimista, o executivo estima que a oferta e a produção de vacinas contra a Covid-19 devem aumentar nos próximos meses, o que permitirá ao setor privado oferecer o imunizante e acelerar o processo de vacinação. “O governo vai ser obrigado a abrir a possibilidade de a iniciativa privada oferecer a vacina. Como ela é muito barata, acho que você vai ter uma vacinação em massa independente do governo”, aposta.

Brasileiro está preocupado com a economia 

Dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), entretanto, mostram que a confiança do consumidor brasileiro atingiu, em janeiro, o nível mais baixo em sete meses diante da piora da pandemia e da adoção de medidas mais restritivas para conter o novo coronavírus. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 2,7 pontos em janeiro e foi a 75,8 pontos, patamar mais baixo desde junho de 2020 (71,1 pontos), quando se iniciava a fase de recuperação das perdas sofridas no primeiro quadrimestre de 2020.

"O recrudescimento da pandemia e a necessidade de adoção de medidas mais restritivas por algumas cidades geram grande preocupação com os rumos da situação econômica do país e das famílias", explicou em nota a coordenadora das sondagens, Viviane Seda Bittencourt. "Sem o suporte dos benefícios emergenciais, as famílias continuam postergando o consumo e dependendo da recuperação do mercado de trabalho, que tende a ser lenta diante do cenário atual", completou.

Conforme o Boletim Macro de janeiro do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, “apesar da perspectiva de início da campanha de vacinação no Brasil, o recrudescimento da pandemia e o fim do período de auxílios emergenciais adicionam muita incerteza ao cenário econômico. Consumidores voltam ao mercado de trabalho e percebem a grande dificuldade de se obter emprego. Houve desaceleração da atividade ao final do ano, que pode se intensificar neste primeiro trimestre de 2021”.

Na indústria, segundo o boletim, “a recuperação se mantém e o setor deve seguir crescendo, a despeito de problemas localizados de escassez de matérias-primas. Nesse cenário, as empresas responderão a estímulos de demanda, mas tendem a continuar cautelosas com relação a investimentos e contratações”. Conforme o documento, o ritmo de novas contratações pode ser afetado nos próximos meses pelo fim do período de quarentena para as empresas que participaram dos programas emergenciais para manutenção do emprego em 2020.

Alto custo de insumos se tornou um problema

Outro problema, que afeta de maneira distinta os diferentes setores industriais, é a falta e o aumento do preço de insumos e de matérias-primas. Na construção civil, por exemplo, a falta de insumos atinge uma a cada duas empresas, segundo a pesquisa Sondagem Indústria da Construção, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no final de janeiro. Conforme a pesquisa, o problema atinge 50,8% das empresas, percentual que era de 39,2% no terceiro trimestre.

Marcelo Perillo, sócio da FBM Farma, conta que, com a pandemia, a rede de logística internacional ficou prejudicada. “Antigamente, se conseguia colocar ativos farmacêuticos nos porões de aviões de passageiros. Hoje, esse trânsito de passageiros diminuiu e o custo de logística ficou muito alto e difícil. Para trazer uma mercadoria da Índia ou da China, é preciso passar pela Europa ou pelos EUA para depois vir para o Brasil”, diz ele, também presidente do Sindicato da Indústria Farmacêutica de Goiás.

“Hoje, para produzir medicamentos genéricos, as indústrias têm que contar com essa logística mais cara e com uma regulamentação muito complexa. Houve muito aumento de custo, mas a indústria não tem condições de aumentar preço, uma vez que estes são definidos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Às vezes, a matéria-prima está disponível lá fora, mas o custo aumentou e a indústria fica impossibilitada de produzir, pois não tem como transferir o custo”, argumenta Perillo.

Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), considera necessárias novas medidas de estímulo à economia enquanto a vacinação acontece. “No primeiro trimestre, nós já devemos ter uma retração. Era esperado. Todo aquele boom veio em função do auxílio emergencial que deixou de existir. As forças de crescimento da economia para gerar empregos suficientes para compensar se enfraqueceram com o recrudescimento da pandemia”, argumenta.

Consequentemente, completa ele, “voltamos a uma situação com restrições que vão retardar o processo”. Se quiser preservar empregos, afirma Pimentel, o Brasil vai ter que adotar medidas “para mitigar riscos e minimizar os impactos desse repique pandêmico que já está afetando os negócios e reduzindo a previsão de crescimento”.

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