O movimento doméstico foi puxado pelas ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês), com um salto de 356%, para US$ 18,5 bilhões, enquanto o total internacional evoluiu 31%, para US$ 182,6 bilhões. Com isso, o Brasil dobrou, para 10%, sua fatia no mercado mundial das ofertas iniciais de ações. Em contrapartida, as emissões secundárias no País caminharam na contramão, recuando 26% em relação aos oito primeiros meses de 2006, para US$ 3,48 bilhões. Enquanto isso, as operações mundiais tiveram aceleração de 31%, para 240,8 bilhões.
Para profissionais de bancos de investimentos que coordenam ofertas, os números podem ser tomados como um primeiro medidor do apetite de empresas e investidores pelo mercado de capitais, após o início das turbulências nas bolsas de valores mundiais, em meio à intensificação da crise imobiliária dos EUA. "Pelo menos no Brasil, como os fundamentos econômicos permanecem fortes e as empresas seguem com boas expectativas de crescimento, a crise não teve grande impacto", avalia Bruno Padilha, diretor-executivo do banco de investimentos do Unibanco. A instituição coordena seis operações em andamento e diz ter outras seis para serem completadas até o final de 2007.
Para a diretora-gerente do mercado de capitais do Bradesco Banco de Investimento (BBI), Denise Pavarina, no entanto, a redução do apetite do investidor americano por papéis considerados de maior risco já está levando as empresas brasileiras a buscar maior diversificação entre investidores estrangeiros. "Em algumas operações, o road show é dividido em duas equipes. A visita a investidores na Ásia e no Oriente Médio está se tornando freqüente", conta. O BBI revela que tem mandato para coordenar outras 14 operações até o início de 2008.
Eles admitem que, apesar de o ritmo de pedidos de registro para novas ofertas permanecer aquecido (ver matéria nesta página), os profissionais dos bancos já vêm alertando as empresas que o preço de venda das ações poderá não ser tão vistoso como acontecia no início do ano. "Para bons nomes e boas histórias ainda tem mercado. Mas o investidor ficou mais seletivo", diz Denise. Companhias dos setores de manufatura, logística, energia, além dos frigoríficos, são apontadas como as próximas candidatas a se listarem na Bolsa. Setorialmente, o segmento financeiro segue liderando as operações, com 31,6% de tudo o que foi emitido em 2007.
Maior concorrência
O aumento da concorrência entre os bancos para liderar as operações é outra tendência apontada pela pesquisa da Thomson Financial. No ranking mundial, o UBS assumiu a liderança, desbancando o Morgan Stanley para a segunda colocação. O banco suíço manteve a ponta também no Brasil, seguido pelo conterrâneo Credit Suisse. No entanto, o market share de ambas vêm caindo.
Em parte, o movimento é explicado pelo aumento do número de concorrentes. No ano passado, o setor era dominado por oito instituições. Agora são 13. Com isso, a fatia do Credit Suisse, que beirava os 38% em agosto de 2006, caiu para 27%. Perdeu espaço para pontos para instituições como o próprio BBI, que nem figurava no ranking no ano passado, e para o JP Morgan, cujo market share subiu de 1,8% para 5,8%.
Para os bancos, essa disputa tende a se acelerar nos próximos meses, mesmo com o mercado aquecido. "Quando resolvemos ter um banco de investimentos, sabíamos que estávamos em mercado altamente competitivo. Mas estamos no caminho que tínhamos imaginado", diz Pavarina, do BBI.
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