Existe uma fórmula para a felicidade? É possível transformar o ambiente de trabalho em um espaço mais feliz? Para responder a essas perguntas, o Serviço Social da Indústria (SESI) convidou o especialista em felicidade Henrique Bueno para ministrar uma palestra para seus colaboradores e empresas que contam com serviços da rede nesta terça-feira (10).
Referência internacional na área, Henrique defende que “uma vida mais feliz é uma vida mais madura, em que, em primeiro lugar, aceitamos nossa humanidade, lidamos com a vida como ela é e aprendemos a fazer escolhas melhores e a praticar ações mais construtivas”.
No mês dedicado à saúde mental, o especialista conversou com a Agência de Notícias da Indústria sobre como viver uma vida mais feliz.
Uma dica: para quem curte séries, Henrique indicou Como Viver até os 100: Os Segredos das Zonas Azuis, produção documental da Netflix em que o jornalista e escritor norte-americano Dan Buettner visita locais do planeta com as populações mais longevas.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Afinal, existe um segredo para a felicidade?
HENRIQUE BUENO - Emprestando a resposta que meu professor Tal Ben-Shahar ofereceu a um jornalista ao receber essa pergunta, não existe um segredo para a felicidade, mas três: realidade, realidade e realidade!
O que ele quis dizer com essa brincadeira é que felicidade não tem a ver com a chegada a um lugar mágico e perfeito, onde tudo acontece de acordo com a nossa vontade. Todos nós passamos e sempre vamos passar pelos altos e baixos naturais da vida. Mas podemos aprender a fazer escolhas melhores a qualquer momento, construtivas e positivas.
Uma vida mais feliz é uma vida mais madura, em que, em primeiro lugar, aceitamos nossa humanidade, lidamos com a vida como ela é e aprendemos a fazer escolhas melhores e a praticar ações mais construtivas.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - Como podemos transformar nossa casa e nosso trabalho em ambientes mais felizes?
HENRIQUE BUENO - Embora os ambientes, em geral, afetem nossa felicidade, eles representam uma parcela pequena do que influencia nosso bem-estar. Podemos morar em um lugar paradisíaco e ainda assim não sermos felizes. Isso porque o ser humano se acostuma muito rapidamente com pessoas e coisas — fenômeno denominado adaptação hedônica.
Não adianta ter o ambiente perfeito se não aprendermos a modular nossa perspectiva, a ver o mundo com outros olhos e a alinhar nossas ações em direção a uma versão cada vez melhor de nós mesmos. O ambiente importa, mas o nosso protagonismo é a grande chave.
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA INDÚSTRIA - A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta dados graves de transtornos de ansiedade do Brasil. Relatório de junho de 2022 da organização, por exemplo, mostrou que, anualmente, o equivalente a 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos por causa de depressão e ansiedade, custando à economia global quase 1 trilhão de dólares. Há uma explicação para isso? É possível reverter essa situação? Como?
HENRIQUE BUENO - Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares! Existem vários fatores que afetam nosso bem-estar: nossa condição financeira, nossa expectativa de vida saudável (acesso à saúde, educação, saneamento, segurança, cultura etc.), nossa confiança em nossos governos, nossa percepção de liberdade, entre outros.
Tudo isso, combinado com a rotina de trabalho quase insana em que estamos inseridos e a alta dependência de tecnologias, tem causado, em todo o mundo, uma crise de saúde mental sem precedentes. Essa crise não é química, mas sim uma crise de estilo de vida. E há muito no estilo de vida atual do brasileiro que afeta nossa saúde mental.
Passamos, em média, quase 10 horas por dia em frente a uma tela de algum tipo, estamos conectados e produzindo 24 horas por dia, não aceitamos mais pausas ou ócio criativo, passamos mais tempo sentados do que dormindo, nos comparamos socialmente nas redes o tempo todo e vivemos correndo, achando que a felicidade está em algum lugar à frente, que temos que chegar lá a qualquer custo.
Mas felicidade e saúde mental envolvem perceber que temos ação: não podemos mudar o mundo, o Brasil, nossos chefes nem nossos maridos e esposas, mas podemos moldar nossos dias em dias melhores. Um pouquinho todo dia, cuidando do nosso bem-estar espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional. Afinal, como passamos nossos dias é como vivemos nossas vidas!
SESI e saúde mental
O SESI desenvolveu a plataforma Mentis360, em que o trabalhador poderá monitorar seus dados de saúde mental (ansiedade, estresse e depressão); acessar conteúdos customizados para seu perfil; e ser encaminhado para atendimento quando necessário.
As empresas também receberão informações consolidadas sobre o mapeamento populacional em saúde mental e partir disso receber orientações e conteúdos para intervenções organizacionais para lidar com as principais demandas.
Outra iniciativa do SESI foi o desenvolvimento de um sistema de avaliação em saúde e segurança do trabalhador da indústria, conhecido como Metodologia ASSTI. O uso desse sistema tem mostrado que a saúde mental é parte essencial da saúde integral, além de influenciar o estilo de vida e a produtividade, como mostra estudo com dados de mais de 120 mil trabalhadores do setor.