
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou nesta terça-feira (17), durante o segundo dia do Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA), em Salvador, uma lista de prioridades da indústria brasileira para o governo e empresários alemães. A Agenda da Indústria Brasileira para a Alemanha reúne 14 medidas importantes para o fortalecimento da relação bilateral e para o aumento do volume de comércio entre os países.
Entre as prioridades estão a ratificação do Acordo Mercosul-União Europeia, a retomada das negociações entre Brasil e Alemanha para a celebração de um novo acordo para evitar a dupla tributação e a criação de uma plataforma bilateral para desenvolvimento tecnológico, certificação e exportação de hidrogênio verde e outras fontes renováveis.
O superintendente de Relações Internacionais da CNI, Frederico Lamego, mencionou, durante a Reunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica, a importância dessas demandas do setor produtivo avançarem para que haja melhora do ambiente de negócios e aumento do comércio e de investimentos entre Brasil e Alemanha.
“Entre as prioridades destaco a agenda de transição energética. Gostaríamos de propor para os alemães a estruturação de uma plataforma bilateral para cooperação em hidrogênio verde, energia limpa e beneficiamento mais sustentável. Outro ponto que defendemos é a criação de uma plataforma para produção nacional de medicamentos e dispositivos médicos. Precisamos ampliar o intercâmbio nesse segmento”, destacou Lamego.
Lamego também propôs uma agenda voltada para cooperação na capacitação de pessoal para empregos verdes.
Confira o documento elaborado para o EEBA com prioridades da indústria brasileira para a Alemanha
Presente à reunião, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, afirmou que a pasta será uma grande facilitadora do comércio entre Brasil e Alemanha. Segundo ele, a política industrial conduzida pelo MDIC prioriza temas como a transição energética, digitalização, desenvolvimento da robótica, metrologia e propriedade intelectual.“São temas que interessam ao Brasil e, nesse aspecto, o setor privado alemão se destaca pelos investimentos e capacidade técnica. Reitero a absoluta indispensabilidade do nosso compromisso com o multilateralismo”, enfatizou Márcio Elias.
A secretária do Ministério de Assuntos Econômicos e de Energia da Alemanha, Gitta Connemann, ressaltou que o país está disposto e empenhado a ampliar as relações comerciais com o Brasil. “Houve uma mudança profunda na ordem global. Por isso, buscamos essa âncora de estabilidade. A Alemanha como nação exportadora gosta de confiar numa amizade como a que tem com o Brasil. Isso é muito importante para nós e para as nossas empresas. Ainda temos muito o que fazer, mas vamos contribuir com o estreitamento dessa relação”, disse.
O Brasil perdeu relevância nos últimos anos como exportador para a Alemanha. De acordo com levantamento da CNI, as exportações da indústria de transformação brasileira para o país europeu registraram resultado negativo na última década - caíram 3,4% entre 2015 e 2024. Nosso país passou de 8º para 15º colocado no ranking de fornecedores de fora da União Europeia para a Alemanha.
Na avaliação da CNI, a retomada das vendas da indústria nacional para a Alemanha é estratégica, especialmente por seu impacto na atividade econômica brasileira. Em 2024, a cada R$ 1 bilhão exportado do Brasil para a Alemanha foram criados 26 mil empregos, R$ 504,3 milhões em massa salarial e R$ 3,3 bilhões em produção. Além disso, o setor tem, atualmente, mais de 660 oportunidades comerciais no país europeu.
Grupo de trabalho para avanço da sinergia entre os países
Durante reunião bilateral no EEBA, o presidente da CNI, Ricardo Alban, propôs - ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa - a criação de um grupo de trabalho voltado para ampliar sinergias entre Alemanha e Brasil e fortalecer a indústria dos dois países. O acordo foi selado com o vice-presidente da Comissão Empresarial para a América Latina, Michael Heinz.
“Já formamos o grupo de trabalho, que terá CNI, Casa Civil, MDIC e ABDI. A nossa ideia é que possamos fazer em Hanôver, em 2026, uma reunião ainda mais produtiva e efetiva, garantindo as entregas e a cooperação efetiva entre Brasil e Alemanha. Essa parceria de complementaridade de ganha-ganha vai nos levar ao objetivo final de avanços na agenda de baixo carbono”, disse Ricardo Alban.
A próxima edição do EEBA será na Alemanha, em abril do ano que vem, na tradicional Feira de Hanôver.

PRIORIDADES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA PARA A ALEMANHA
- Ratificar o acordo Mercosul-União europeia;
- Retomar as negociações entre Brasil e Alemanha para a celebração de um novo acordo para evitar a dupla tributação (ADT);
- Estabelecer diálogo bilateral e ações de capacitação para adaptação às exigências do regulamento antidesmatamento (EUDR) e o mecanismo de ajuste de carbono na fronteira (CBAM);
- Estabelecer assistência mútua em matéria aduaneira e um acordo de reconhecimento mútuo (ARM) entre os programas do operador econômico autorizado (OEA) do brasil e da união europeia;
- Estender o período de deslocamento do acordo de previdência social entre Brasil e Alemanha para cinco anos;
- Converter projeto piloto de acordo de compartilhamento de exames de patentes (PPH) entre o INPI e o IEP em permanente;
- Estabelecer plataforma bilateral para cooperação em energia renovável, hidrogênio verde e agregação de valor na cadeira de minerais críticos;
- Estabelecer roadmap bilateral para beneficiamento e industrialização de minerais críticos no brasil com tecnologia alemã;
- Criar uma plataforma de inovação e transferência de tecnologia para ampliar a produção nacional de medicamentos, vacinas e dispositivos médicos;
- Fomentar a digitalização das cadeias produtivas e a rastreabilidade de produtos de baixo carbono, com apoio técnico e financeiro da Alemanha;
- Criar uma plataforma bilateral para desenvolvimento tecnológico, certificação e exportação de hidrogênio verde e outras fontes renováveis;
- Mobilizar recursos energéticos do global gateway, do green deal europeu e de bancos multilaterais como o banco europeu de investimento (BEI) para financiar estudos e projetos de infraestrutura que promovam a integração energética do brasil com países da américa latina;
- Ampliar a cooperação técnica e investimentos em biomassa para produção de biocombustíveis e bioprodutos de baixo carbono;
- Criar programas conjuntos de formação técnica e vocacional voltados à economia verde e à transição energética.