Um novo capítulo da educação brasileira teve início no dia 29 de janeiro de 2018, em Aparecida de Goiânia (Goiás), com o início das aulas do Novo Ensino Médio (NEM) na escola local do Serviço Social da Indústria (SESI). Poucos dias depois, cidades do Espírito Santo, da Bahia, do Ceará e de Alagoas também inauguraram as primeiras primeiras turmas com o novo currículo, em iniciativas pioneiras do SESI e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
Três anos depois, 198 estudantes foram diplomados não apenas com o tradicional certificado de conclusão do ensino médio, mas também como técnicos em Eletrotécnica. Eles inauguraram o chamado Itinerário V, que associa o ensino regular à formação técnica e profissional, implementado pelo SESI e pelo SENAI logo após a aprovação da nova Lei do Ensino Médio (Lei 13.415/2017).
“Por mais de um século, tivemos um mesmo modelo de ensino, que não acompanhou as mudanças tecnológicas e as necessidades do mercado de trabalho e da indústria. O Novo Ensino Médio é a revolução desse modelo, possibilitando aos jovens experimentarem e construírem planos para o futuro profissional”, afirma o diretor-superintendente do SESI e diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi.
Estabelecido pela Lei 13.415/2017, o Novo Ensino Médio prevê aumento da carga horária anual, de 2.400 horas para 3.000 horas, composta em 60% pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e em 40% pelos itinerários formativos: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Formação Técnica e Profissional.
Os alunos dessa primeira turma estudaram gratuitamente e 81,5% vieram de escolas públicas. O projeto foi se ampliando e, em 2020, o Novo Ensino Médio (NEM) foi ofertado em 78 escolas do SESI e do SENAI em todos os estados das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, totalizando 22 unidades da Federação, além do Distrito Federal. Foram mais de 6.538 estudantes matriculados em 139 turmas.
Entre eles está a alagoana Kettlen Rocha, de 17 anos. Para ela, o mais surpreendente no novo modelo de ensino foi o estímulo dos professores à criatividade, aos debates e ao desenvolvimento de habilidades e competências. "Eram muitos trabalhos e a gente sempre tinha algo para fazer, para nos estimular. Eu aprendi na escola que a gente tem que sair da caixinha, trazer algo mais", conta.
A mãe de Kettlen, Jedsa Rocha, também comemorou a participação da filha no projeto-piloto. "Eu achei ótima a base profissional que ela recebeu. Sinto que isso abriu um leque de oportunidades", valoriza.
O curso de Eletrotécnica foi escolhido para as primeiras turmas após pesquisa de avaliação de demanda nacional por profissionais na indústria. Por atuar em diferentes segmentos com manutenção, projeto e execução elétrica e eletrônica, o técnico em eletrotécnica é um dos mais requisitados, com salário que varia entre R$ 1.700 e R$ 3.390.
A formação se faz ainda mais necessária tendo em vista que 44,2% dos brasileiros de 14 a 17 anos de idade e 31,4% dos de 18 a 24 anos estão desempregados e em busca de trabalho.
"Caí de paraquedas no curso técnico, mas ele foi extremamente importante para me preparar para o mercado de trabalho e me ajudou a decidir que curso fazer na faculdade", conta a baiana Laura Siqueira, de 17 anos, que começará a graduação em Engenharia Civil em março.
De Aparecida de Goiânia, Alberto Junio Novaes, de 18 anos, ainda tem dúvidas sobre a carreira a trilhar. A certeza é de que as aulas no SESI ajudaram em seu desenvolvimento. "Fazíamos muitos trabalhos em grupo e apresentações. Aprendi a me expressar muito melhor", destaca.
Há mais de sete anos trabalhando no SENAI, o instrutor Gabriel Queiroz recebeu a proposta de participar do projeto-piloto como um importante desafio em sua carreira. Pela primeira vez ele precisou planejar as aulas do curso de Eletrotécnica em parceria com outros profissionais de educação e para um público jovem e mais homogêneo.
"Foi tudo novo não só para mim, mas para todos os docentes, pois o desafio de integrar de verdade é muito grande. Uma coisa é a interdisciplinaridade, mas a integração que a gente compôs junto foi algo contínuo", destaca o instrutor do SENAI de Feira de Santana, na Bahia.
Evasão escolar
Um dos principais fatores para a evasão escolar no ensino médio é a falta de renda, o que obriga muitos jovens a abandonarem os estudos para trabalhar. É por isso que o itinerário formativo técnico-profissional pode contemplar o estágio e a aprendizagem, de modo a auxiliar o jovem a ingressar no mercado de trabalho e a obter renda.
No Brasil, menos de 10% dos estudantes do ensino médio fazem educação profissional, enquanto este índice é de 48% nos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A formação confere ao aluno competências ligadas à indústria do futuro, o que contribui para sua empregabilidade e capacidade de inovação e, consequentemente, ajuda a aumentar a produtividade do país.