Às vésperas da primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para definir o patamar da taxa Selic, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que a taxa de juros elevada foi o principal problema enfrentado pela indústria da construção no 4º trimestre do ano. Segundo a Sondagem Indústria da Construção divulgada nesta segunda-feira (27), o entrave foi apontado por 34,1% dos empresários do setor, ante 25,4% no 3º trimestre.
O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, lembra que a indústria da construção é sensível à política monetária contracionista.
“A taxa de juros é bastante importante para o setor da construção. Ela condiciona tanto o lançamento de unidades quanto a própria demanda, já que as pessoas, normalmente, precisam financiar a compra de seus imóveis e empreendimentos. Por isso, a elevação da Selic traz sempre grande preocupação para o setor”, destaca.
A falta ou alto custo de trabalhador qualificado ficou na segunda posição do ranking dos principais problemas encarados pela indústria da construção no 4º trimestre, com 26,8%. A elevada carga tributária fechou o ano como o terceiro maior problema enfrentado pelo setor, de acordo com os empresários. Esse obstáculo foi assinalado por 26,6% dos entrevistados.
Acesso ao crédito, satisfação com lucro e custo de insumos pioram
Depois de recuar 2,6 pontos em relação ao 3º trimestre, o índice de acesso ao crédito da indústria da construção fechou o 4º trimestre em 37,7 pontos. Os empresários do setor apontam que a dificuldade para obter empréstimos e financiamentos cresceu no último trimestre de 2024, período imediatamente posterior à retomada do ciclo de alta da Selic pelo Copom.
O índice de satisfação com o lucro operacional também caiu na passagem do 3º para o 4º trimestre. Antes em 45,4 pontos, o indicador está em 44,8 pontos. Ao se afastar mais da linha divisória de 50 pontos – que separa satisfação de insatisfação – o índice mostra que os industriais da construção estão mais insatisfeitos com o lucro operacional de suas empresas.
No 4º trimestre, o índice de evolução do preço médio de insumos e matérias-primas subiu 2,7 pontos frente ao 3º trimestre. Agora, o indicador está em 64 pontos, revelando que o custo desses itens acelerou nos últimos três meses de 2024.
Apesar disso, os empresários se dizem menos insatisfeitos com a situação financeira das empresas. Após avançar 1,3 ponto em relação ao 3º trimestre, o índice que mede quão contentes os industriais estão com as condições financeiras de suas empresas ficou em 49 pontos no 4º trimestre.
Empresários da construção revelam falta de confiança pela primeira vez desde janeiro de 2023
Em janeiro, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) da Construção caiu 1,4 pontos e, com isso, ficou abaixo da linha divisória de 50 pontos, que separa confiança de falta de confiança. É a primeira vez que isso ocorre desde janeiro de 2023.
Esse resultado reflete a piora das avaliações dos empresários sobre as condições atuais da economia brasileira e sobre as expectativas para a economia brasileira e para a empresa. Os dois componentes do ICEI recuaram em janeiro. O índice de Condições Atuais diminuiu 1,2 ponto, para 44,9 pontos. Já o índice de Expectativas caiu 1,6 ponto, para 51,9 pontos.
Desempenho da construção recua em dezembro
O índice que mede o nível de atividade da indústria da construção fechou 2024 em 45,4 pontos. O indicador, que em novembro já estava abaixo da linha divisória de 50 pontos, afastou-se ainda mais dela em dezembro, o que revela que a atividade recuou mais intensamente do que em novembro. A queda ocorreu entre as empresas de todos os portes.
Segundo a CNI, o índice do número de empregados do setor recuou de 47,8 pontos, em novembro, para 45,7 pontos, em dezembro. Isso significa que a queda na quantidade de trabalhadores no último mês do ano foi mais forte que a queda observada em novembro. Assim como a atividade, o emprego caiu entre as empresas de todos os portes.
Na passagem de novembro para dezembro, a Utilização da Capacidade Operacional (UCO) se manteve em 67%. Em toda a série histórica do índice, iniciada em 2012, trata-se do maior valor de UCO para o mês de dezembro. O indicador está 5 pontos percentuais acima da média história para o último mês do ano, que é de 62%.
Expectativas oscilam
No primeiro mês do ano, o índice de expectativa de nível de atividade se manteve em 53,8 pontos, o que mostra que as projeções para o ano continuam positivas, segundo os empresários.
Já o índice de expectativa de compras de insumos e matérias-primas passou de 51,4 pontos para 53,7 pontos. O indicador revela que a expectativa de aquisição desses itens aumentou.
O indicador que mede a expectativa de número de empregados também cresceu. Subiu 0,6 ponto na passagem de dezembro para janeiro. Agora, marca 53,1 pontos. Isso significa que há maior expectativa de aumento de postos de trabalho no setor.
O índice de expectativa de novos empreendimentos e serviços, por sua vez, caiu 1 ponto em janeiro, na comparação com dezembro. Ao se aproximar da linha divisória de 50 pontos, o índice aponta que há menor perspectiva de novos empreendimentos e serviços para 2025.
Intenção de investir recua
Segundo a pesquisa, o índice de intenção de investimento da indústria da construção ficou em 45,1 pontos em janeiro, 0,8 ponto abaixo do registrado em dezembro. Ainda assim, permanece 7,2 pontos acima da média histórica.
Amostra
Nesta edição da Sondagem Indústria da Construção, a CNI consultou 315 empresas: 118 de pequeno porte; 130 de médio porte; e 67 de grande porte, entre 7 e 17 de janeiro de 2025.