
O entrevistado do Programa Roda Viva desta segunda-feira (4) foi o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban. Ele observou que a indústria brasileira tem o compromisso de buscar o equilíbrio e negociar junto a empresas e os governos do Brasil e dos Estados Unidos melhores condições em relação ao tarifaço. “Deveremos ter nos próximos dois ou três meses condições de criar uma mesa razoável de negociação. E é esse o nosso compromisso: queremos contribuir para que essa mesa funcione de forma mais econômica e técnica possível”, afirmou.
Alban explicou que, no primeiro momento, a negociação terá como foco a busca para que o governo norte-americano aumente a quantidade de exceções em relação às tarifas de 50% impostas sobre produtos brasileiros.
“Temos de sentar numa mesa para negociar empresarialmente. Temos uma infinidade de crises para administrar. Essa é mais uma e vai ser superada. Essa crise não é só nossa, mas a nossa está potencializada. Acho que poderá haver algumas novas exceções, motivadas basicamente por interesse da economia americana neste momento. O adiamento seria muito bom, mas não me parece que vai acontecer”, avaliou Alban.
Brasil no “teto” é injustificável, diz presidente da CNI
O presidente da CNI alertou que a situação chegou ao teto sem que haja justificativa. “Já estamos no teto. Não existe nada comercial nem econômico que justifique uma escalada mesmo porque saímos de uma situação de piso, em maio, para uma situação de teto sem justificativa comercial ou técnica”, reiterou.
Em conversas com o governo, Alban tem sido o porta-voz de um consenso entre o setor: não é hora de retaliar. “Estamos vendo um comportamento, que cobramos do governo brasileiro, para não retaliar e ter equilíbrio, moderação e bom-senso. É muito importante para a indústria a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos”, pontuou.
Questionado sobre a diversificação da pauta exportadora, ele explicou que redirecionar o produto industrial, que tem nos EUA o maior mercado, é complexo pois envolve certificações e especificidades técnicas, que demandam tempo para ajuste, ao contrário das commodities. No entanto, ele defendeu a diversificação de mercados e a busca por novos acordos bilaterais, como Mercosul-UE, México, EFTA-Mercosul.
Alban destacou medidas propostas para atenuar efeitos às empresas afetadas
Alban detalhou as principais medidas apresentadas pela CNI ao governo federal para mitigar os efeitos da taxação. Segundo ele, oito medidas foram entregues ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comério e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, a quem ele chamou de grande negociador – sendo quatro propostas com impactos fiscais e quatro sem impactos.
Entre as medidas, o presidente da CNI mencionou a antecipação pelos bancos do valor de contratos, antes do embarque da mercadoria ou da prestação do serviço, e a extensão a todas as empresas das regras do programa Reintegra – válidas, atualmente, apenas para as optantes do Simples. O Programa Reintegra permite que micro e pequenas empresas recebam resíduos tributários da produção de bens exportados.
De acordo com o presidente da CNI, o tarifaço vai atingir em cheio as pequenas indústrias.
“A nossa preocupação número um, dentre tantas outras nesse momento com relação às tarifas, são justamente as pequenas e as médias indústrias, não apenas com as que exportam, mas aquelas fornecedoras de insumos para as exportadoras. Então, é um universo relativamente considerável”, afirmou Alban.
Ele acrescentou que o impacto sobre essas empresas provoca enormes efeitos econômicos e sociais, uma vez que, embora representem 20% da economia, as PMEs respondem por cerca de 80% dos empregos.
Tarifaço explicita urgência de redução do Custo Brasil
Num contexto maior, a crise comercial com os EUA traz a tona outras vulnerabilidades brasileiras que afetam a capacidade de o país competir globalmente, sobretudo em um cenário volátil e em transformação. Taxas de juros altíssimas, que deterioram a capacidade de investimento e a tomada de crédito; um sistema tributário complexo e cumulativo; e falta de eficiência da máquina pública colocam o produto brasileiro em desvantagem no mundo.
“Precisamos eliminar os nossos custos que não são competitivos. Não podemos continuar tendo a energia mais barata do mundo para produzir e mais cara para usar. Não podemos ter um custo Brasil nesse patamar que está”, disse. “Temos de fazer a estruturação do Brasil como um todo. Vamos discutir a vero a reforma administrativa e, realisticamente, uma reforma política. Isso vai ter que ser feito. Vamos ter que enfrentar isso”, completou.

Sem indústria forte não há desenvolvimento
Alban apontou a relevância da indústria para o crescimento de um país. “Sem indústria não existe desenvolvimento econômico. A indústria faz parte do desenvolvimento social. E precisamos que seja um movimento constante”, afirmou.
O presidente da CNI falou ainda sobre a importância do Programa Nova Indústria Brasil (NIB), destacou como estratégica a relação do Brasil com os BRICs, alertou para a relevância da COP30 para o país e defendeu um pacto entre setores e poderes como caminho para a prosperidade brasileira. Ele também criticou a elevada carga tributária e os juros altos, que, segundo ele, são grandes obstáculos para a indústria e para investimentos.
Apresentado pela jornalista Vera Magalhães, o Roda Viva, da TV Cultura, é o principal programa de entrevistas da TV brasileira. Participaram da bancada para entrevistar Ricardo Alban, Juliana Rosa, comentarista de economia do Grupo Band; Thais Herédia, analista de economia da CNN Brasil; Talita Nascimento, repórter do Broadcast Agência Estado; Rafael Vazquez, repórter da editoria de Brasil do Valor Econômico; e Paulo Ricardo Martins, repórter de Mercado da Folha de S.Paulo.
Conheça o “Na Mídia”
jp Na Mídia é um quadro da Agência de Notícias da Indústria que reúne as principais matérias sobre o Sistema Indústria em destaque na imprensa. A proposta é ampliar a visibilidade das ações do setor produtivo e facilitar o acesso à repercussão nos grandes veículos de comunicação. As publicações completas podem ser conferidas diretamente nos sites dos respectivos portais.
