
Realizado na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), o Seminário Internacional SESI de Educação para Jovens e Adultos promoveu debates importantes sobre o papel da EJA no Brasil, considerando o impacto da modalidade para o desenvolvimento econômico e social do país.
“A EJA é uma ferramenta poderosa de equidade social. No SESI, ela vai além da escolarização tradicional: é um espaço de acolhimento, valorização de trajetórias e construção de novos projetos de vida”, destacou o diretor-superintendente do SESI nacional, Paulo Mól, no primeiro dia de evento.
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No painel “EJA: Curriculo da Vida e Transformação Social”, o professor espanhol Miguel Arroyo, finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico de 2024, disse que a EJA precisa de um currículo escolar próprio, em vez de reproduzir o currículo tradicional. Ele afirmou que os educadores precisam considerar os aspectos sociais para que a EJA funcione. “Que vidas chegam à EJA? Vidas quebradas pela fome, desemprego”, disse. Ele defendeu que os “saberes da vida” dos estudantes sejam valorizados. “O saber da minha mãe (não pôde estudar) eu carrego até hoje. Os saberes dela não encontrei nem na Universidade de Stanford.”
Já o professor Roberto Catelli afirmou que os estudantes da EJA são vítimas de desigualdades sociais e, por isso, merecem atenção especial. Ele defendeu que a escola deve se adaptar às necessidades dos alunos, e não o contrário. “Os educandos da EJA não precisam avançar de séries, mas ter tempo para aprender o que consideram relevante para o seu avanço nas práticas sociais mediadas pela leitura e escrita, no campo dos conhecimentos científicos e na inserção no mundo do trabalho.”

Reconhecimento de saberes da nova EJA do SESI é destaque em painel
O presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, participou do painel “Potencialidades da EJA no mundo atual” ao lado de especialistas como Cleunice Rehem (CNE), Leonardo Lapa (SESI) e Jaime Vieira (SESI), que mediou o debate. Fausto ressaltou que é fundamental entender a EJA como uma política voltada prioritariamente a trabalhadores que estudam.
“Temos que romper com um problema muito sério. Quem vem da educação, estuda educação e desenvolve política educacional, muitas vezes esquece que a educação escolar é apenas uma etapa. O centro da vida das pessoas é a produção da própria vida”, afirmou Fausto.
Ele destacou o modelo da Nova EJA SESI, que reconhece saberes e une escolaridade à qualificação profissional como formas de superar esse desafio.
A conselheira do CNE, Cleunice Rehem, chamou atenção para a baixa adesão à EJA, com apenas 2.391.319 matrículas em 2024, diante de uma demanda potencial de 68 milhões de brasileiros com mais de 18 anos que não concluíram a educação básica.
Ela alertou que 99% da oferta de EJA no Ensino Fundamental e 96% no Ensino Médio não são integradas à educação profissional, o que compromete a formação voltada ao mundo do trabalho. Para Cleunice, é necessário romper com o modelo tradicional e adotar propostas inovadoras que combinem educação, trabalho e práticas sociais.
Cleunice também defendeu que a EJA deve ser vista como uma ferramenta essencial de inclusão social, democratização do acesso à educação e desenvolvimento econômico. “Nunca é tarde para aprender e construir um futuro melhor. A EJA é a porta para um novo capítulo, onde a educação transforma vidas e abre caminhos para o sucesso”, declarou. Ela enfatizou a importância da valorização dessa modalidade como uma política pública estruturante.
Leonardo Lapa, gerente de Educação Básica do SESI, destacou o papel da EJA na promoção da segurança pública e do desenvolvimento social. Citou uma experiência em escola dentro do sistema prisional, em que um detento enxergou na EJA uma alternativa à pobreza ou à criminalidade.
Lapa também apresentou dados de 2024 que evidenciam o crescimento da modalidade no SESI: mais de 112 mil matrículas em 26 unidades federativas e índice de aprovação de 71%, contra cerca de 30% na rede pública. Para ele, “uma EJA bem aplicada e com maior participação da população pode remediar e auxiliar em um país mais seguro, desenvolvido e equitativo”.

Educação para o mundo do trabalho
No terceiro painel do primeiro dia de evento, o professor inglês Timothy Ireland disse que a EJA é mais do que escolarização e qualificação para o mundo do trabalho. “É ajudar as pessoas a aprenderem a aprender; não é enfiar conteúdos goela abaixo”. Ele afirmou que a EJA ainda não possui uma identidade consolidada no Brasil, apesar de sua longa trajetória. “A maioria dos obstáculos e desafios decorrem desta indefinição”, disse.
O superintendente de Educação Profissional e Superior do SENAI, Felipe Morgado, disse que a escassez de mão de obra qualificada é um problema no Brasil e no mundo. Entre os motivos para este quadro, destacou a mudança tecnológica, a transição verde, as mudanças demográficas e as incertezas econômicas.
Ele apresentou dados que mostram que o trabalho formal perde força como promessa de estabilidade e crescimento. “Por que estou trazendo estes dados? Porque nós temos que nos adaptar a este público”.
Já o gerente corporativo de Talentos da Tupy, Fernando Toledo, afirmou que a empresa tem a EJA como uma de suas prioridades. “Nosso compromisso é promover ações estratégicas de desenvolvimento, e a educação é alavanca para o crescimento sustentável”, destacou.

EJA como estratégia de inclusão e desenvolvimento
A gerente executiva de Educação do SESI do Para, Márcia Arguelles, apresentou a experiência com a EJA na comunidade ribeirinha de São Sebastião da Boa Vista, no arquipélago do Marajó, a 130 km de Belém (PA).
Segundo Márcia, houve aumento das taxas de conclusão do ensino fundamental e médio, redução da evasão escolar por meio de estratégias de acolhimento, monitoramento e escuta ativa, além de maior participação cidadã, valorização da identidade cultural e continuidade dos estudos. "É uma experiência que vale a pena. Quem trabalha com EJA é isso mesmo: justiça social e valorização da pessoa", destacou.
O diretor da escola SESI SENAI da Parangaba no Ceará, Paulo Botafogo, apresentou a atuação da EJA no sistema prisional do estado. O programa atende sete unidades prisionais masculinas e femininas em três regiões do estado: Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte. Para ele, a educação é uma ferramenta de cidadania, que contribui para quebrar estereótipos, promover a ressocialização e preparar os internos para o mundo do trabalho.
Entre 2015 e 2025, foram mais de 21 mil matrículas em EJA no estado, sendo 8.612 no sistema prisional. "A educação, dentro do sistema prisional, é uma contribuição ao indivíduo, é um direito".
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