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CNI

Agenda verde abre oportunidades de parcerias do Brasil com o Japão

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 09 de novembro de 2021

Empresas brasileiras apostam em soluções sustentáveis e em inteligência artificial na recuperação pós-pandemia


Soluções sustentáveis e digitalização são as principais apostas do setor privado brasileiro para o fortalecimento de parcerias com o Japão no cenário de recuperação econômica global pós-pandemia. A perspectiva de aprovação de reformas econômicas e no setor de energia no Brasil, assim como a concretização do Acordo de Parceria Econômica Japão-Mercosul podem ampliar as oportunidades de negócios entre os dois países.

Os principais pontos da agenda de fortalecimento das relações econômicas bilaterais foram discutidos na 24ª reunião plenária do Conselho Empresarial Brasil-Japão (Cebraj) nesta terça-feira (9/11). O evento online foi organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela contraparte no Japão, Federação Empresarial do Japão (Keidanren).

Participante do painel sobre o panorama econômico, o gerente executivo de economia da CNI, Mário Sérgio Telles, afirmou que a aprovação da reforma tributária poderá fazer com que o Brasil retome o ritmo de crescimento pré-pandemia. “Com a terceira rodada de reformas e o resultado da segunda rodada, o Brasil  tem capacidade de voltar a um nível de crescimento bem acelerado e empresários japoneses e brasileiros poderão se beneficiar dessa aceleraçãol”, disse.

A segunda rodada de reformas - já aprovadas - inclui a autonomia do Banco Central, marcos legais das startups, do gás e do saneamento e a Lei da Liberdade Econômica, dentre outros. As mudanças geraram melhoria de eficiência e competitividade de acordo com Telles, mas ainda não foi possível colher frutos devido à crise sanitária. A expectativa para o PIB brasileiro em 2021 é de 4,9% e de 1,7% em 2022. 

Além da revisão da tributação sobre o consumo e sobre a renda, Telles ressaltou a necessidade de manutenção do teto de gastos, concretização de acordos de livre comércio, aprovação da reforma administrativa, da nova lei de licenciamento ambiental e da regulação da infraestrutura do setor elétrico. Sobre o último ponto, a reformulação será fundamental para promover a redução do custo da energia com aumento da concorrência no setor, gerando mais eficiência.

O embaixador do Japão no Brasil,  Akira Yamada, por sua vez, destacou avanços na agenda bilateral, como a visita do ministro de negócios estrangeiros japonês ao Brasil em janeiro, quando foram anunciados acordos para uso de nióbio e grafeno e um memorando sobre biodiversidade. O diplomata ressaltou que apesar da proximidade das eleições de 2022, “o governo e o Congresso  continuam mantendo a vontade de fazer reformas estruturais necessárias para o Brasil”, como a tributária e a administrativa.

Quanto ao cenário econômico japonês, a expectativa é de que o desempenho volte a patamares pré-pandemia a partir de 2023, de acordo com o diretor executivo do MUFG Bank, Fukumoto Nobuyoshi. Ele apontou para o potencial de crescimento nos investimentos estrangeiros diretos (IEDs) no Brasil, especialmente nos setores de recursos naturais, agricultura e em fintechs, além de possíveis parcerias em ações para alcançar uma sociedade descarbonizada. “No Brasil, 60% do território é de florestas e o país pode gerar US$ 100 bilhões em crédito de carbono, o que é um fator de competitividade”, afirmou.

Acordo de Parceria Econômica Japão-Mercosul

Embaixador do Brasil no Japão, Eduardo Saboia,  reforçou a necessidade de aprovação do Acordo de Parceria Econômica Japão-Mercosul. “A demora em concretizar o APE provoca desvio de comércio e perda de fatia de mercado em ambos os lados. Nosso intercâmbio hoje é quase a metade do nível alcançado há 10 anos. Precisamos corrigir essa trajetória. É preciso  lançar com urgência as negociações para o acordo. Se adiarmos essa tarefa, estarmos condenados a ver a relação Brasil-Japão perder relevância diante de outras parcerias, como China, Coreia do Sul e Índia”, alertou.

O diplomata também destacou que o Brasil apresenta soluções efetivas para descarbonização, como o uso do etanol combinado com a tecnologia elétrica de automóveis. “Estamos prontos para selar uma forte parceria com o Japão na transição para uma economia de baixo carbono. Os biocombustíveis e a bioeconomia no Brasil representam ótimas oportunidades de negócios com soluções práticas e economicamente viáveis”, afirmou.

Para o presidente da Seção Japonesa no Cebraj, Tatsuo Yasunaga, a perspectiva de implementar um capitalismo sustentável, com garantia da segurança alimentar e diversificação da cadeia de fornecimento pode aprofundar as discussões da cooperação bilateral. Ele também apontou o APE como uma importante base institucional para maior fortalecimento das relações econômicas entre os dois países.

Já o presidente da Seção Brasileira no Cebraj e presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, apresentou soluções sustentáveis da empresa para alcançar a neutralidade de carbono até 2050, como o briquete verde, que permite reduzir em 10% a emissão de gases de efeito estufa (GEE) na produção de aço. O portfólio inclui ainda mudanças para ampliar o uso de renováveis na matriz energética e melhores práticas para operação de metas básicas para suprir a demanda global de níquel e cobre de alta qualidade para baterias de veículos

Infraestrutura e Digitalização nas parcerias Brasil-Japão

No painel sobre Infraestrutura e Digitalização, empresas brasileiras e japonesas apresentaram projetos em curso e oportunidades futuras de negócios, como o veículo aéreo de mobilidade urbana desenvolvido pela Eve Urban Air Mobility, startup ligada à Embraer. A expectativa é de que o produto 100% elétrico e carbono neutro esteja disponível a partir de 2026. O custo para o passageiro é seis vezes menor na comparação com o uso do helicóptero e o ruído é 90% menor. 

De acordo com diretor-executivo da EVE Embraer, Andre Stein, Tóquio é o maior mercado do setor. “O Japão é um grande mercado de mobilidade aérea urbana. Esperamos operar 50 mil unidades nos próximos 15 anos, sendo 3 mil no mercado japonês”, afirmou. A perspectiva é de movimentar US$ 750 trilhão de dólares nos próximos 20 anos. Além de testes do produto, a empresa tem desenvolvido serviços de manutenção, treinamento de pilotos e de mecânicos, assim como buscado soluções para o controle do tráfego aéreo e para a logística de abastecimento de energia nos vertiportos.

Diretor industrial da Indústrias Romi, Douglas Alcântara, apresentou o case da Romi MASS digitalização, que permitiu o aluguel de máquinas em um modelo chamado “machine as a service”. A proposta foi desenvolvida na pandemia como uma forma de atender à demanda das empresas em meio à incerteza provocada pela crise sanitária. A solução exigiu investimentos em digitalização e inovação. “As máquinas devem estar conectadas aos clientes pela internet mandando informações para que a empresa faça o melhor uso”, explicou. Ele ressaltou que as soluções de conectividade são cada vez mais relevantes na Indústria 4.0.

Do lado japonês, o diretor executivo da Divisão de Unidade de Negócios e Projeto de Infraestrutura da Mitsui & Co, Yukinobu Nakano, destacou a importância do Business Process Engineers (BPEs). A empresa desenvolveu junto com a Modec um modelo de predição de falhas para melhoria da produtividade de energia por meio de inteligência artificial em que é feita análise em tempo real. O sistema identifica comportamentos atípicos dos equipamentos, notifica o centro de monitoramento remoto, que propõe medidas e notifica  operadores in loco. “Temos mais de 700 modelos de predição de falhas sendo usados na operação. Conseguimos diminuir em 87% o tempo de inatividade do equipamento”, afirmou.

CEO da NEC na América Latina, Yasushi Tanabe, por sua vez, ressaltou que a infraestrutura digital fortalece a transformação e destacou a importância dos cabos submarinos para conectividade. A empresa já implementou 300 mil km de cabos, o equivalente a mais de sete voltas no globo terrestre. Para Tanabe, o 5G irá permitir um avanço da internet das coisas, especialmente nas fábricas. “O tráfego internacional de dados teve taxa média de crescimento de 45% ao ano desde 2017 e deve haver uma alta ainda maior com o 5G”, afirmou.

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