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As chaves para acordos comerciais bem-sucedidos

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 12 de março de 2020

Especialista avalia que acordos devem ser graduais e transparentes

Um dos mais atentos especialistas em comércio exterior no país, Dan Ioschpe tem MBA pela Tuck School of Business (EUA) e, no ano passado, assumiu a presidência do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), think tank com sede em São Paulo, fundado em 1989 para atuar na formulação de uma política industrial mais eficiente.

O executivo, ex-presidente da fabricante de rodas automotivas Ioschpe-Maxion, vê com otimismo o novo ciclo de abertura comercial do país, iniciado em 2019, mas alerta para a importância do gradualismo. “Na medida em que você tem instrumentos acordados e que toda a cadeia de valor está razoavelmente na mesma velocidade de integração, tudo tende a funcionar melhor”, defende.

Ele conversou com a Revista Indústria Brasileira. 

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Como o senhor avalia a atual política comercial do país e seus desdobramentos para o setor industrial?

DAN IOSCHPE - A integração do Brasil com o mundo é muito favorável, inclusive o país estava atrasado nessa agenda. A adoção de acordos comerciais é uma prática bastante positiva, desde que não sejam contratos unilaterais. Isso porque, para que sejam vantajosos, esses pactos precisam atender a três critérios essenciais: devem ser adotados de forma gradual, respeitando a velocidade de integração e a melhoria das condições competitivas; devem ser horizontais, para que não sejam eleitos vencedores e vencidos; e devem ser transparentes, para que todos os agentes econômicos tenham o claro entendimento da política e de seus contornos.

REVISTA INDÚSTRIA BRASILEIRA - Em relação à tendência de redução das medidas protecionistas, tem havido equilíbrio entre a abertura comercial e a defesa de setores sensíveis?

DAN IOSCHPE - Como acreditamos na horizontalidade, não vemos muito essa lógica setorial. Na medida em que você tem instrumentos acordados e que toda a cadeia de valor está razoavelmente na mesma velocidade de integração, tudo tende a funcionar melhor. A busca por arranjos diferenciados, especialmente dentro de uma mesma cadeia, acaba por eleger vencedores e vencidos. Por isso, a importância do gradualismo, já que o “custo Brasil” não se resolve do dia para a noite, e da horizontalidade. 

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), até novembro de 2019 o consumo de bens importados no país cresceu 3,6% ante o recuo de 0,6% de bens nacionais. Quais medidas são necessárias para tornar a indústria brasileira mais produtiva e competitiva tanto para o mercado externo quanto para o interno?

DAN IOSCHPE - Da porta para dentro existe bastante competitividade. Contudo, quando envolvemos aspectos como infraestrutura, logística, tributação e segurança jurídica, fica evidenciada a grave ineficiência brasileira em relação a boa parte do mundo. De modo geral, a solução para o aumento da competitividade global é sistêmica e está relacionada ao avanço das pautas da modernização da indústria e do combate ao “custo Brasil”.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - O Ipea também constatou que, até novembro de 2019, a produção industrial do país havia recuado em 1,1%. A que o senhor atribui esse desempenho?

DAN IOSCHPE - Acredito que o principal fator seja a crise da Argentina, destino importante do produto industrial brasileiro, que teve redução muito expressiva na sua demanda doméstica. No setor automotivo, por exemplo, a demanda caiu em 50%. Fora isso, a indústria brasileira tem apresentado pequenos avanços nos últimos tempos, mas tem avançado.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Para 2020, quais são as expectativas do setor industrial e em que medida elas dialogam com a política comercial do país?

DAN IOSCHPE - A aposta é em um crescimento mais robusto do que o verificado em 2019. Ao menos aparentemente, o setor da construção civil terá um avanço mais significativo, puxando a atividade industrial, bem como a geração de emprego e de renda. Em relação ao cenário das exportações, a questão da Argentina não deve ter uma alteração favorável, então seguiríamos tendo esse freio, mas com um crescimento doméstico mais significativo em relação ao verificado no ano passado.

AGÊNCIA CNI DE NOTÍCIAS - Algum espaço para resolvermos questões estruturais como o “custo Brasil” neste ano?

DAN IOSCHPE - Sobre o “custo Brasil”, não creio que aconteçam alterações relevantes a curto prazo. Se pegarmos como exemplo a questão tributária, os projetos em tramitação preveem transições de cerca de dez anos. Sendo assim, espero que a política de integração com o mundo prospere respeitando essas circunstâncias e que o país siga avançando na confecção de acordos comerciais e garantindo, em todos os processos, o gradualismo, a horizontalidade e a transparência. 

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