O mercado de trabalho brasileiro está mais maduro. Em 2006, profissionais com mais de 50 anos representavam 12,6% dos postos ocupados. Em 2020, esse índice saltou para 19%: um aumento de 51%. Em números absolutos, o salto, no período, foi de 4,4 milhões para 8,7 milhões de trabalhadores. Os dados são do Ministério do Trabalho e Previdência, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).
O crescimento reflete um fenômeno natural da sociedade: o número de brasileiros com mais de 50 anos subiu 58,8% entre 2006 e 2020, passando de 34 milhões para um total de 54 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O envelhecimento da população, no entanto, traz uma série de desafios. “A sociedade brasileira tem que repensar sua estratégia de capacitação e focar a questão do aprendizado, do aperfeiçoamento contínuo. O trabalhador tem que continuar se capacitando para permanecer no mercado de trabalho”, destaca Márcio Guerra, gerente-executivo do Observatório Nacional da Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
De acordo com Guerra, a participação de pessoas com mais de 50 anos pode ser uma oportunidade porque, além de estimular a implementação de programas de capacitação continuada, fomenta mais investimento na saúde do trabalhador, a adaptação da jornada de trabalho e de ambientes, entre outros fatores.
Matrículas no SENAI
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) também registrou um aumento significativo no número de matrículas de pessoas com mais de 50 anos em seus cursos. Nos últimos quatro anos, houve um salto de cerca de 34%: eram 92 mil pessoas dessa faixa etária matriculadas em 2018, contra mais de 124 mil apenas entre janeiro e outubro de 2022.
Uma delas é o gaúcho Mário Augusto Januário da Silva, que está prestes a completar 58 anos. Teólogo e professor de Educação Física, ele atuou nos últimos 30 anos como personal trainer e, nas horas vagas, fazia bicos na área de elétrica. Em 2021, matriculou-se no curso profissional em Eletrônica do SENAI de Porto Alegre, pensando em uma mudança de carreira. Poucas semanas depois, foi contratado para trabalhar na área de manutenção e segurança eletrônica de uma empresa, onde está há mais de um ano.
“O fato de estar estudando me ajudou a conseguir este emprego. Se uma pessoa parou no tempo, o mercado de trabalho a ignora, mas, se ela tem uma idade mais avançada e está disposta a aprender, é sua capacitação que vai garantir oportunidades”, defende Mário, que planeja fazer, também, um curso de robótica.
Diversas ações da entidade pelo país, como o Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI), têm estimulado a matrícula de pessoas com idade avançada. Em Tocantins, por exemplo, foram abertas, em dezembro, vagas num curso de operador de computador exclusivo para pessoas com mais de 48 anos. Já as turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do SESI e do SENAI certificam milhares de estudantes com mais de 50 ou 60 anos em todo o país.
Outro grupo que vem ampliando a busca pelos cursos do SENAI é o dos aposentados. Entre janeiro e agosto de 2022, foram mais de 5,6 mil matrículas com esse perfil, principalmente nos cursos de costureiro, eletricista, confeiteiro e em Excel.
Ações das empresas
Na Europa, diversos países têm adotado políticas públicas para estimular a contratação de profissionais dessa faixa etária – e têm colhido bons resultados. A multinacional francesa Leroy Merlin, rede de lojas de materiais de construção, acabamento e decoração, anunciou, no início deste ano, que pretende ampliar de 11% para 16%, ainda em 2023, o total de trabalhadores com mais de 50 anos nas lojas da Espanha. O país tem uma das maiores expectativas de vida do mundo, atualmente em 84,6 anos, além de possuir, hoje, mais de 20 mil habitantes com mais de 100 anos de vida.
Entretanto, seja na Europa, seja no Brasil, uma das maiores barreiras para contratar profissionais com mais de 50 anos é o preconceito. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Maturi, empresa especializada no mercado 50+, em parceria com a consultoria EY Brasil, divulgada no ano passado. Segundo o levantamento, 60% das empresas disseram ter dificuldade em contratar profissionais dessa faixa de idade. Oito em cada dez afirmaram não possuir políticas específicas e intencionais de combate à discriminação etária em seus processos seletivos, apesar de 78% dos entrevistados considerarem as organizações etaristas. Um total de 191 profissionais de empresas de 13 setores participaram da pesquisa.
Apesar desse gargalo, iniciativas positivas têm se destacado nos últimos anos. Entre as empresas que já possuem ações de combate ao etarismo está a PepsiCo Brasil, que lançou, em 2016, um programa específico visando ampliar a admissão de profissionais 50+. Deste então, mais de 400 pessoas já foram contratadas.
“Treinamos os nossos times de recrutamento e seleção e trabalhamos a desconstrução de estereótipos relacionados a pessoas de determinada faixa etária para que todos(as) os(as) profissionais sejam tratados(as) de maneira igualitária. Os nossos processos seletivos são focados na experiência e nas habilidades de cada pessoa e no valor que a diversidade de talentos pode agregar para a companhia”, ressalta Carlos Domingues, gerente da PepsiCo Brasil.