Com 32 países pela primeira vez, a Copa do Mundo de futebol femino promete quebrar vários recordes. Um deles já foi alcançado antes mesmo de o torneio começar: foram vendidos mais de um 1 milhão de ingressos.
O Brasil estreia na segunda-feira (24) no mundial disputado na Austrália e Nova Zelândia com um time de milhões. O valor de mercado é de 2,03 milhões de euros, de acordo com levantamento da Soccerdonna divulgado pela Forbes.
Ainda que as disparidades com o universo masculino do esporte sejam gigantes, os números mostram como o interesse por elas é crescente.
A copa de 2019, na França, foi a mais vista da história. A audiência projetada é de 1,12 bilhão de espectadores, quando somadas as plataformas digitais.
Nesse meio tempo, houve alguns avanços. Relatório da Fifa publicado em 2022 mostra que 77% dos campeonatos femininos eram patrocinados, contra 66% identificados no relatório anterior. Os clubes relataram aumento de receita comercial ano a ano de 33% e os honorários de transferência internacional de uma profissional atingiram o recorde de US$ 2,1 milhões em 2021, um aumento de 73% em comparação com 2020.
Além de movimentar os grandes clubes e torcidas pelo mundo, a presença delas em campo também tem contribuído para a inovação, aberto possibilidades de produtos e serviços e contribuído para a economia brasileira.
1) Mais diversidade = mais inovação
Uma das novidades desta Copa é a tecnologia desenvolvida pela Nike para os uniformes usados por pessoas que menstruam. Foi feito um short avulso, para ser usado por baixo do calção, com um revestimento ultrafino e absorvente que ajuda a proteger contra vazamentos menstruais.
De acordo com a Nike, a criação foi feita a partir de sugestões das jogadoras e todas as 13 equipes patrocinadas pela marca estarão com eles em campo.
O processo de produção contou com tecnologias de mapeamento do corpo das jogadoras, para ajustar os materiais pensando em resistência, mobilidade e ventilação. O tecido também é sustentável, feio 100% feito a partir de garrafas plásticas recicladas.
2) Mais gente nos estádios
Você compra o ingresso, vai até o estádio, faz um lanche. Agora imagina o impacto para o comércio com as arquibancadas cada vez mais lotadas?
Esta deve ser a copa com maior público. A Fifa espera atingir 2 bilhões de pessoas, um quarto da população mundial. Contam a favor o aumento de países participantes, com a estreia de Filipinas, Haiti, Irlanda, Marrocos, Panamá, Portugal, Vietnã e Zâmbia.
Mas não precisa ir longe para encontrar multidões. Em 18 de setembro de 2022, 36.330 torcedores se juntaram no primeiro jogo da final do Brasileirão Feminino no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Foi o maior público em uma partida de mulheres entre clubes no Brasil.
Seis dias depois, esse recorde foi batido, quando 41.070 torcedores assistiram a final entre Corinthians e Internacional na Neo Química Arena, em São Paulo. A renda bruta neste jogo foi de R $900.981,00.
3) O que fica depois da Copa
O Brasil é um dos países cotados para sediar o mundial feminino em 2027. Seria a primeira vez que um país da América do Sul receberia o torneio que começou em 1991. No Brasil, a história da seleção feminina teve início três anos antes.
A escolha será feita em maio de 2024, no congresso anual da Fifa. Os outros candidatos são: África do Sul; Bélgica, Holanda e Alemanha, pela União das Associações Europeias de Futebol (UEFA); e Estados Unidos e México, pela Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf).
Para ganhar essa disputa, o Brasil pretende fomentar a participação feminina no esporte a partir de ações variadas. Lançada em março, a Estratégia Nacional para o Futebol Feminino inclui a definição de critérios para aumentar a permanência das atletas nos clubes, incluindo período mínimo de contrato e número máximo de atletas amadoras por competição.
Na Oceania, junto com a Copa, veio um plano de legado, que busca implementar benefícios de longo prazo. Foram liberados A$ 357 milhões para projetos diversos na Austrália, como mudanças na infraestrutura dos estádios para torná-la mais inclusiva para mulheres. Hoje apenas 41% dessas estruturas do país são pensadas para elas.
O plano australiano conta ainda com aumento de 150% no patrocínio entre 2020 e 2023 e apoio e recursos para desenvolver capacidade e culturas inclusivas em mais de 2.400 clubes. Os benefícios devem alcançar 2 milhões de pessoas.
Mas não precisa esperar muito. Nos próximos dias, mais de 55 mil turistas estrangeiros devem assistir às 35 partidas, de acordo com a Football Australia, a federação australiana. A expectativa é de que eles adicionem US$ 159 milhões na economia do país.
4) Na tela: transmissão, jogos e filmes
Em 2019, os jogos do Brasil na copa feminina foram transmitidos pela primeira vez na TV aberta brasileira. Neste ano, sete jogos (com preferência para os do Brasil) serão transmitidos pela Globo e o Sportv exibirá todas as 34 disputas. A CazéTV, canal do streamer Casimiro, também transmitirá os jogos via YouTube e Twitch.
A presença do futebol nas telas não para por aí. Cada vez mais os videogames têm ampliado as possibilidades de inclusão de jogadoras femininas, além dos filmes e documentários sobre o tema. Esse mercado movimentou R$ 13 bilhões no Brasil só em 2021.
A presença feminina também foi reconhecida em Cannes. O curta “Lea”, que conta a história da primeira árbitra reconhecida oficialmente no futebol brasileiro, foi premiado na última edição do Cannes Lions, maior festival de criatividade do mundo.
O vídeo conta a história da brasileira que precisou driblar a Confederação Brasileira de Desportos que, na época, proibia as mulheres de atuarem profissionalmente na área. Ela chegou a ser questionada por colegas se poderia apitar jogos quando estivesse menstruada.
E o melhor: promover equidade de gêneros
Além de apresentar vários caminhos para estimular a economia, torcer por elas tem uma motivação especial: apoiar as causas femininas. Essa é a principal razão para assistir aos jogos apontada no estudo da Universidade de São Paulo (USP) Motivação para o consumo de futebol feminino no Brasil: um estudo sobre escalas.
A tese de mestrado na Economia analisou o que mobiliza os espectadores de esporte. Identificação de fã e auto estima foram outros motivos apontados. Os resultados estão alinhados com estudos de outros países, como um dos Estados Unidos de 2018 que também aponta “apoiar oportunidades das mulheres no esporte” como principal fator para assistí-las jogar.