"Muitos países não estão na trajetória de cumprirem as suas próprias promessas de redução de emissões e isso vai nos levar a um aquecimento maior, evidentemente”, afirma o pesquisador David Montenegro Lapola.
A primeira avaliação do Acordo de Paris – tratado internacional sobre mudanças climáticas adotado em 2015 – indicou que, a despeito dos compromissos estabelecidos para limitar o aquecimento global, o planeta está caminhando para um aumento de 2,4°C a 2,6°C na temperatura média global em relação aos níveis anteriores à Revolução Industrial. A alarmante conclusão reitera que se os compromissos de longo prazo de neutralidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE) forem totalmente implementados, o mundo poderá limitar o aquecimento entre 1,7°C e 2,1°C.
“Não estamos no caminho de seguir o Acordo de Paris, de limitar o aumento da temperatura global em 1,5° conforme acordado”, diz o ecólogo David Montenegro Lapola, mestre em Meteorologia (INPE) e doutor em Modelagem do Sistema Terrestre que hoje atua em pesquisas em ecologia de mudanças climáticas na Amazônia.
Lapola foi autor contribuinte do 6º Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e é hoje coordenador científico do programa de pesquisas científicas AmazonFACE – experimento de campo que busca resolver uma das maiores fontes de incerteza em relação ao futuro da Amazônia: como o aumento de gás carbônico (CO2) atmosférico afeta a floresta amazônica, a biodiversidade que ela abriga e os serviços ecossistêmicos que ela fornece à humanidade? O pivô central do programa irá expor uma área da floresta madura na Amazônia a uma concentração de CO2 50% maior que a encontrada atualmente na atmosfera.
“Talvez consigamos com muito esforço limitar o aumento da temperatura global para 2°C, mas isso parece bastante improvável hoje”, lamenta o pesquisador. Lapola explica por que o aumento foge do estabelecido pelo Acordo de Paris.
“Teríamos um nível de aquecimento mais baixo se os países que fizeram suas NDCs — ou seja, suas promessas de reduções de emissões — estivessem mantendo esses compromissos. Muitos países não estão na trajetória de cumprirem as suas próprias promessas de redução de emissões e isso vai nos levar a um aquecimento maior, evidentemente”, completa o pesquisador.
As consequências deste aumento ainda maior que o previsto são também mais contundentes, é claro, quanto a ondas de calor e eventos climáticos extremos; ao degelo no Ártico; ao aumento no nível do mar; à extinção da biodiversidade e de ecossistemas.
- Para conhecer melhor esses impactos, acesse o infográfico no Indústria Verde.
Compromissos climáticos do Brasil e a COP28
Em setembro, o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima e o Crescimento Verde (CIMV) brasileiro aprovou a correção da NDC brasileira e o retorno ao nível de ambição climática de 2015. Até então, a meta do Brasil era reduzir em 37% suas emissões até 2025 e em 50%, até 2050, em relação aos índices de 2005. Com a revisão, a nova meta de redução gases de efeito estufa passa a ser de 48% até 2025 e 53% até 2050 (limite de emissões de 1,32 GtCO2e e de 1,20 GtCO2e, respectivamente).
A discussão sobre as NDCs e as ambições dos países será levada à COP28, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece de 30/11 a 12/12, em Dubai. Esta será a primeira vez desde que o Acordo de Paris foi assinado que as nações farão uma avaliação do progresso feito até agora no combate às mudanças climáticas. E, após a COP28, os países terão até 2025 para apresentar os novos planos nacionais para o cumprimento das NDCs.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os planos nacionais são instrumentos que garantem o monitoramento e acompanhamento efetivo da implementação das metas, por isso a CNI considera fundamental que os países comuniquem com transparência e estratégia as medidas setoriais e as políticas a serem tomadas para implementar a NDC.