O encontro anual de um dos blocos econômicos internacionais mais importantes da última década será na próxima quarta-feira (23), em Joanesburgo, na África do Sul. Criado em 2011, o Brics é uma organização de cinco países em desenvolvimento - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - que atua para construir uma agenda de cooperação em diversos setores. O setor privado passou a ter atuação mais forte nos debates em 2013, quando o Conselho Empresarial do Brics (Cebrics) foi criado. No Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) é secretária-executiva do mecanismo.
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Apesar de a cúpula com chefes de estado acontecer no dia 23, a agenda do conselho empresarial na África do Sul começa no dia 19, com reuniões de alinhamento presenciais entre os integrantes até reunião plenária. O objetivo, ao final, é que o Cebrics consolide e entregue aos chefes de Estado um documento com recomendações dos setores privados dos países envolvidos.
Como secretária-executiva brasileira, a CNI facilita a atuação dos membros brasileiros e coordena as tratativas com as outras seções, contribuindo para a construção dos posicionamentos brasileiros.
“O Brasil reúne grandes condições para atrair cada vez mais investimentos internacionais. A revitalização da indústria no Brasil é relevante por este ser o setor que mais move o desenvolvimento da economia pela inovação e pelo avanço tecnológico. A estrutura de missões de política industrial, uma vez adotada, não só contribuirá para apoiar empresas na conquista de mercados e reduzir a distância que hoje existe para as potências econômicas, mas também alcançar soluções para problemas coletivos, como o acesso à saúde, a segurança no abastecimento energético, alimentar e sanitário internos, e a criação de empregos”, afirma o presidente eleito da CNI, Ricardo Alban, que lidera a missão empresarial brasileira para o evento na África do Sul.
O que é o Cebrics?
O Conselho Empresarial do Brics é formado por 25 empresas, cinco membros de cada país do grupo econômico, e tem o objetivo de fortalecer os laços econômicos e comerciais e ampliar os investimentos entre as comunidades empresariais do Brics. Com presidência anual rotativa, tem a África do Sul como presidente do conselho e sede da cúpula do grupo em 2023. A seção brasileira do Cebrics é formada pela Vale, pela WEG, pelo Banco do Brasil, pela BRF e pela Embraer que se reúnem uma vez por ano para definir as prioridades estratégicas para a defesa de interesses.
Como funciona o conselho?
O Cebrics tem uma estrutura com nove grupos de trabalho, que contam com mais de 90 representantes brasileiros e funcionam de forma consultiva para formular recomendações por temas. Após discussão entre os grupos e aprovação do conselho, as propostas passam a integrar um relatório anual do Cebrics que é apresentado aos governos durante a cúpula do Brics, com sugestões de políticas públicas para melhoria do ambiente de negócios.
Os grupos de trabalho do Brics são divididos entre os temas de agronegócio, aviação, desenvolvimento de competências, desregulamentação, economia digital, energia e economia verde, infraestrutura, manufaturados e serviços financeiros.
Dez prioridades em discussão pelo setor privado:
- Estabelecimento de acordo multilateral de serviços aéreos, considerando que os acordos bilaterais que já existem são restritivos para o transporte aéreo;
- Colaboração para o desenvolvimento de fertilizantes inteligentes, biofertilizantes e fertilizantes minerais, e de padrões para certificação de fertilizantes ecoeficientes;
- Desenvolvimento de padrões para 50 qualificações futuras, permitindo unificar critérios para competições internacionais e programas de treinamento entre os países;
- Criação de um fundo para financiar projetos de energia limpa no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB);
- Cooperação para o desenvolvimento de infraestrutura digital que aumente a conectividade, inclusive em áreas remotas dos países do Brics;
- Desenvolvimento de programas de competências digitais para meninas e mulheres;
- Elaboração de carteira de projetos prioritários de infraestrutura nos países do Brics para aumentar a visibilidade de financiamento;
- Desenvolvimento de rotas comerciais com investimentos em portos de pequeno porte, ferrovias e transporte marítimo de curta distância, para diminuir a pegada de carbono;
- Criação de plataforma de colaboração entre governo, setor privado e academia para buscar soluções para novos problemas de infraestrutura;
- Harmonização de padrões de regulação para produtos manufaturados, para facilitar a incorporação nas cadeias de valor.
Quais os principais resultados do Cebrics nos últimos anos?
O apoio para instalar escritórios regionais do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) na África do Sul, em 2017, e no Brasil, em 2019; o relatório sobre barreiras não tarifárias; a cooperação para o desenvolvimento de ferrovias entre Rússia, Índia e África do Sul; e as rodadas e feiras de negócios no Brasil, em 2014, e na Índia, em 2016 e 2021.
Qual a relevância do Brics para o Brasil?
O comércio bilateral dos países do Brics com o Brasil é de US$ 177,8 bilhões. O país tem a China como primeira parceira comercial e a Índia, a Rússia e a África do Sul, respectivamente, no 5º, 14º e 42º lugar do ranking. Além disso, em 2020, quase 400 empresas do bloco econômico operavam no Brasil.
Em relação a investimentos estrangeiros diretos, o estoque do Brics na economia brasileira cresceu 167% entre 2012 e 2021 (US$ 34,2 bilhões). E no que diz respeito a oportunidades, um levantamento da Apex identificou cerca de 1,8 mil possibilidades para exportações brasileiras para o bloco econômico em setores como proteína animal, alimentos processados, rochas ornamentais, plásticos, couros e produtos químicos. O maior número de oportunidades está na África do Sul, com 612 produtos.
Além de ter 42% da população mundial (3,2 bilhões de pessoas) e representar 25% do PIB mundial (US$ 25,8 trilhões), o Brics é formado por países com muitos recursos naturais - com grandes reservas de petróleo, gás natural, minério de ferro, ouro, água - e milhões de hectares de áreas cultiváveis com soja, milho e trigo, além de produção de proteína animal.