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Educação infantil na pandemia: pedagogas criam estratégias para manter ensino lúdico e afetivo

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 22 de fevereiro de 2022

Com os protocolos sanitários de prevenção do vírus em sala de aula, educadoras do SESI se reinventam para manter a qualidade, ludicidade e afetividade no ensino de crianças com até 6 anos


Professores realizaram adaptações em sala de aula e criaram outras estratégias de ensino.

Sem pique-pega, abraços ou compartilhamentos de objetos. A pandemia da Covid-19 trouxe consequências para as escolas, que vão de um novo jeito de ensinar ao sorriso espontâneo das crianças escondido por trás das máscaras. Diante do “novo normal”, professores realizaram adaptações em sala de aula e criaram outras estratégias de ensino.  

Na educação infantil, onde as crianças de até seis anos têm o seu primeiro contato com a vida escolar, o impacto foi grande. Essa fase, repleta de ludicidade e afetividade, é essencial para que ela se desenvolva nos campos cognitivo, motor, social e cultural.  

A Agência de Notícias da Indústria ouviu três pedagogas da educação infantil do Serviço Social da Indústria (SESI) que apontaram esses dois aspectos, o lúdico e o afetivo, como uma das principais perdas decorrentes das restrições para a aprendizagem das crianças.  

Atividades em grupo viram brincadeiras individuais 

Além do distanciamento social e do uso constante de máscaras e álcool em gel, a dinâmica das salas de aulas teve que ser mudada. A professora Marlene Ferreira, que trabalha no SESI Crixás, em Goiás, conta que brincadeiras, jogos e atividades em grupo deixaram de ser realizadas. 


“Em sala de aula, usamos recursos como bambolês, cadeirinhas e demarcações no chão para manter as crianças longe umas das outras. As brincadeiras são mais individualizadas, tipo corrida de saco, competição, dinâmica, jogo da memória com objetos da sala, entre outros”, explica a pedagoga. 


As brincadeiras estão muito presentes na educação infantil e a professora Ana Emília, do SESI Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, chama atenção para outro fator que deve ser evitado, o suor. A transpiração umedece a máscara e reduz a sua eficácia na proteção.  

“Cuidamos para não se movimentarem muito, causando suor. No momento das brincadeiras, vemos o que é necessário mudar ou improvisar, adaptando para ser realizada de forma segura, com cuidados, sem perder a ludicidade”, destaca. 

O que antes era realizado de forma livre, agora é direcionado pelas professoras. O momento da escovação, a hora da leitura, do lanche, exigem cuidados e muita atenção para que o distanciamento seja respeitado pelos pequenos. 

Uso da máscara e desenvolvimento da fala 

Nessa fase de descobertas, a linguagem oral das crianças está sendo consolidada e a consciência fonológica está em construção. Diante disso, a educadora Ana Emília explica que o uso da máscara atrapalha esse processo e gera consequências na fala. 


“Nessa idade, elas estão aprendendo a pronunciar e ainda fazem trocas de letras e sílabas, pronunciando palavras de forma incorreta e, com a máscara, dificulta a escuta e a compreensão mais ainda. Podendo também deixar a criança envergonhada e com receio de não ser compreendida”. 


Além da percepção sonora, as crianças desenvolvem a fala por meio da imitação visual, aos prestarem atenção nos movimentos da boca de quem está conversando com elas e, mais uma vez, a máscara torna-se um obstáculo nesse processo, conforme destacado pela professora.  

Uma solução encontrada por Ana Emília é o uso da máscara transparente, em especial no momento da contação de histórias. Dessa forma, as crianças conseguem visualizar a articulação da boca e compreender melhor o que está sendo dito. 

Rodas de conversa para contornar bloqueios emocionais e afetivos 

Na primeira infância, período entre zero e seis anos de idade, a troca entre pares é fundamental para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. A falta de contato físico, por conta das normas de distanciamento, afetou esse processo natural. 


“Nessa fase, a afetividade é primordial para o desenvolvimento da criança na escola. O toque, ou seja, o contato físico, é uma das principais pontes que nos leva a alcançar essa afetividade, que com a pandemia ficou bem difícil”, relata a professora Marlene Ferreira. 


Ela conta, ainda, que os educadores tiveram que encontrar outras formas de demonstrar sentimentos para as crianças, já que a linguagem corporal é a mais compreendida por elas. 

Os impactos gerados pela pandemia exigem um olhar mais individualizado dos professores.

Uma estratégia utilizada pela docente Gislene Bastos, do SESI Crixás, são as rodas de conversa, onde seus alunos conseguem expressar o que estão sentindo e criam um vínculo maior com ela. 


“Uma das principais consequências desse período para essa geração de estudantes estará na questão do lidar com as emoções, com os sentimentos, com as frustrações, que na sua grande maioria, não são trabalhados”, pontua a pedagoga. 


Já a professora Ana Emília ressalta que o atual contexto em sala de aula não favorece a valorização da escuta, a construção de vínculos de amizade e atitudes de cooperação e solidariedade. Para ela, as crianças tendem a ficar mais ansiosas, individualistas e imediatistas. Nesses casos, o acolhimento, a escuta sensível e um ambiente alegre são fundamentais para que haja mudanças comportamentais. 

Os impactos gerados pela pandemia exigem um olhar mais individualizado dos professores, pois cada aluno ficou com lacunas educacionais diferentes, que serão reparadas a longo prazo e requer uma parceria entre escola e família. 

Atualmente, a rede SESI conta com 76 unidades que ofertam educação infantil em quase todos os estados brasileiros, são mais 7,4 mil estudantes matriculados.  

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