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Educação precisa ser o centro do projeto de país ou não teremos futuro, diz diretor da CNI

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 01 de junho de 2022

Rafael Lucchesi participou do último seminário do ciclo de debates sobre o bicentenário da Independência. Especialistas afirmaram que crescimento econômico e cidadania passam pela qualidade da educação


O diretor de Educação e Tecnologia da CNI, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), o economista Rafael Lucchesi, afirmou que o Brasil corre o risco de perder a quarta revolução industrial, porque ainda não entendeu que Educação, Ciência e Tecnologia precisam estar no centro das discussões do projeto de país.


“Sem priorizar a qualidade da educação e investir em inovação, não teremos futuro”, afirma o economista.


Lucchesi participou do seminário Educação e Cidadania, último ciclo de debates com o tema geral 200 Anos de Independência – A indústria e o futuro do Brasil, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Poder 360.

No evento os debatedores trataram da: qualidade da educação básica, da importância do novo ensino médio, da necessidade de qualificar e valorizar os professores, da urgência de se apostar em projetos que deram certo e fechar a torneira dos gastos públicos ineficientes no setor educacional, de comparativos internacionais e como as desigualdades sociais perpetuam a desigualdade educacional. Assista o seminário completo abaixo.

Participaram do debate a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), ex-secretária-executiva do Ministério da Educação e ex-secretária de Educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, o ex-ministro da Educação e ex-secretário de Educação dos Estados do Amazonas e de São Paulo, Rossieli Soares, e o educador e economista, ex-diretor-geral da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e ex-chefe da Unidade de Políticas de Formação da OIT (Organização Internacional do Trabalho), Cláudio de Moura Castro.

O professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e ex-senador, Cristovam Buarque, abriu o evento e afirmou que o Brasil tem três desafios: universalizar a qualidade, adaptar as escolas às transformações digitais que ocorrem no mundo, e adaptar o conteúdo. “Como fazer uma missão Brasil?”.

Confira as fotos do seminário

Brasil está alheio da nova geopolítica que surge voltada para o domínio profundo das novas tecnologias

De acordo com Rafael Lucchesi, o Brasil perdeu a terceira revolução industrial e está bem próximo de perder a quarta revolução industrial.


“No mundo hoje, há uma guerra industrial. A guerra na Ucrânia é uma guerra do século XX, mas está nascendo uma nova geopolítica polarizada por dois países que investem US$ 500 bilhões por ano no domínio profundo nas novas tecnologias que vão estabelecer as cadeias de valor do futuro: são China e Estados Unidos”, explica o economista.


Mas não são apenas esses dois. A Alemanha investe US$ 150 bilhões, a França tem um programa de reconversão energética de US$ 100 bilhões e outro voltado para novas tecnologias de US$ 50 bilhões. No Brasil, dedica-se cerca de US$ 20 bilhões ano. “Vamos regredir, porque falta uma consciência estratégica de projeto de país”, afirma.

O diagnóstico da educação brasileira é severo. A desigualdade começa em casa. O vocabulário das famílias dos segmentos de baixa renda reúne de 10 a 15 mil palavras. Dos pais de nível universitário é de cerca de 200 mil palavras. Na faixa dos 0 a 2 anos, a criança enfrenta seu primeiro obstáculo. Além disso, nessa faixa etária, elas têm o agravante de lidar com doenças e riscos da falta de saneamento. “Isso tem uma desvantagem absurda na igualdade. E estamos falando de 0 a 2 anos. Com 15 anos, a desigualdade é muito maior”, avalia.

Rafael Lucchesi é diretor de Educação e Tecnologia da CNI

Transição demográfica e produtividade

Ocorre que, no Brasil, a formação é toda voltada para o academicista. E cerca de 80% dos jovens que não vão para a universidade não têm uma identidade social. Esse é mais um problema que reforça a desigualdade. Rafael Lucchesi lembra que o Brasil passa por uma transição demográfica acelerada, com envelhecimento rápido da população. Esse é mais um motivo, além da garantia da cidadania, de que é preciso ampliar a qualidade da educação para assegurar que o país não precisará de 4 trabalhadores para ter a mesma produtividade do que 1 americano. 

“Temos que fazer política pública com evidência, com alocação eficiente do recurso. A Coreia do Sul tem um bom sistema educacional e gasta 3% do PIB. Claro que eles têm um déficit educacional menor do que o Brasil, mas isso porque eles investiram em educação no passado. Quem estuda a revolução educacional sul-coreana, sabe que a inspiração foi no Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), em 1964, do Brasil. Mas eles fizeram para valer. O Brasil capotou em 1980 e nós regredimos. É claro que isso tem um custo social, um custo de cidadania, um custo de possibilidades”, lembra o diretor do SESI e SENAI.

Sistema estruturado de ensino

Segundo Rafael Lucchesi, o SESI tem um sistema estruturado de ensino proprietário, digital e adaptativo, que pode ajudar muito a revolução educacional necessária para o Brasil, com um padrão de tecnologias educacionais. O SESI realiza o maior torneio de robótica do Brasil. E não é a robótica pela robótica. É educação do século XXI, é educação com resolução de problemas, é educação com capacidade de lidar com educação inovadora, porque o ciclo tecnológico está cada vez mais curto. 

O projeto educacional do SESI privilegia a formação continuada dos professores, sobretudo no desafio da base nacional comum do curricular, por ser uma agenda decisiva para o país. “A CNI tem uma visão generosa de apoiar a rede pública. Pensamos nos 54 milhões de alunos no Brasil. Nós temos uma agenda que é o SENAI mais digital. A CNI dialoga com essa agenda de país, que é de construir um projeto de país que nos encaminhe para dobrar a renda de país”, diz.

Ele lembra que a produtividade do trabalho do Brasil está estagnada. A Coreia do Sul multiplicou por quatro sua produtividade em poucas décadas, mas o Brasil deu um cochilo de 60 anos. “Temos que reverter isso”, declara.

A CNI tem feito o possível, por meio do SESI e do SENAI, para se colocar como parceiro de uma agenda que é fundamental para o Brasil: a educação. Não existe projeto de futuro sem educação inclusiva. A agenda de inclusão social não vai ser resolvida pelo assistencialista, mas pela educação. A educação é um caminho único na sociedade do conhecimento como projeto de país.

 

A presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro


Nem a elite de estudantes brasileiros alcança a média da OCDE no PISA, afirma presidente do CNE

A qualidade ruim da educação brasileira dominou a fala da presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), ex-secretária-executiva do Ministério da Educação e ex-secretária de Educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro.


“A educação brasileira ampliou a desigualdade nos últimos anos. Eu vejo que o avanço do ponto de vista do acesso, do direito, da inclusão é um fato, mas do ponto de vista da qualidade as desigualdades aumentaram. Daqui para frente, no pós-pandemia, os desafios só aumentam. A pandemia afetou a educação no planeta, Estados Unidos, França, China... Países mais desenvolvidos do que o Brasil estão enfrentando situações complexas para superar os efeitos da pandemia e, no Brasil, a impressão que se tem é de que está tudo resolvido”, avalia.


Maria Helena Castro lembra que o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) foi aplicado pela primeira vez no Brasil em 2000 e, nesse ano, será aplicado novamente. O que revela? “Que o Brasil manteve mais ou menos o mesmo patamar de mediocridade, não melhoramos”, afirma. O ponto positivo é a inclusão de novos alunos. Em 2000, o país tinha uma população inscrita para a prova que representava 31% dos jovens de 15 e 16 anos. Em 2018, subiu para 64%. 

“O alarmante é que mesmo os estudantes de nível socio-econômico mais elevado não conseguem ter uma nota na média da OCDE. A educação básica é ruim até para a elite brasileira. E só se resolve com formação de professores. A formação de professores é um desastre. Sem formação de professor e um projeto de país é impossível melhorar”, alerta.

Rossieli Soares foi ministro da Educação

Um dos temas centrais na educação de qualidade é professor, alerta ex-ministro da Educação

A educação deveria ter o mesmo peso das discussões do plano econômico nos governos e nas eleições. Essa é avaliação do ex-ministro da Educação e ex-secretário de Educação dos Estados do Amazonas e de São Paulo, Rossieli Soares. Ele diz que a precarização da formação dos professores precisa ser atacada, no entanto, a valorização do professor não passa apenas por melhores salários, mas pela própria sociedade. 


“O desincentivo em querer ser professor vem da sala de aula. Atualmente, os professores são mal formados, a escola não é atrativa e o estudante ouve diariamente sobre as dificuldades da profissão do próprio professor. Por isso, a valorização tem que ser de sociedade. A Finlândia não paga grandes salários, mas o respeito e o reconhecimento que a sociedade dá a seus professores é enormemente maior”, diz.


Segundo ele, a tecnologia é um passo importante, mas o salto de qualidade só ocorrerá quando os professores forem valorizados. “Sempre vou defender mais recursos para a educação, mas o que a gente realmente precisa é melhorar gasto. Não adianta colocar mais recursos se na prefeitura a educação não for prioridade e de qualidade. As gerações não sabem o que é uma educação de qualidade. Precisamos gastar melhor e olhar para as coisas que dão certo”, defende. 

O economista e educador Cláudio de Moura Castro

O maior problema da educação? Os brasileiros acham que a sua educação é boa, avalia Cláudio de Moura Castro

Escolhido para falar por último, o educador e economista, ex-diretor-geral da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e ex-chefe da Unidade de Políticas de Formação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Cláudio de Moura Castro, brincou. “Espera-se que um pesquisador diga coisas originais, mas eu tenho que repetir, não há razão para ser original. Temos um passivo de 400 anos em que não se fez nada. No século 18, o Brasil tinha 3% da população alfabetizada. A formação de professores é trágica”, começou.

Ele lembra que, no fim do século XX, o crescimento quantitativo da educação foi impressionante. O Brasil conseguiu criar uma elite intelectual de primeira grandeza, como massa crítica e reconhecimento internacional. “Sabemos o que fazer na educação, é um ativo a nosso favor. Se não fazem, a razão é outra”.

No entanto, na avaliação do especialista, o maior problema da educação brasileira é que os brasileiros acham que a sua educação é boa. “Como um administrador vai mexer na educação, se os brasileiros estão satisfeitos? Se 70% acham que a sua educação é boa. Qualidade é a maior prioridade da educação brasileira. E o esforço nessa linha tem sido pífio”, alerta.

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