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Entre a universidade e a indústria: SENAI faz elos importantes para viabilizar inovação no país

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 26 de outubro de 2020

Instituição contribui para fortalecer setores estratégicos no Brasil

Desde 2019, três bolsistas de doutorado do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), localizado em São Carlos (SP), desenvolvem um projeto de automação baseado em big data e inteligência artificial para aumentar a produtividade de fábrica de uma multinacional do setor de alimentos.

Em um momento que o financiamento público para pesquisas teve corte de recursos, os alunos receberam bolsa fruto de projeto financiado pela empresa em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, de Florianópolis (SC). 

“Isso foi incrível. O Brasil precisa de mais pessoas com pós-graduação no mercado de trabalho para aproximar a indústria da universidade, pois mestres e doutores podem contribuir muito para alavancar a inovação nas empresas do país”, destaca o professor da USP Cláudio Toledo, que orienta os alunos que desenvolvem projeto no Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados.

Hoje, dos 802 profissionais dos 27 Institutos SENAI de Inovação espalhados pelo Brasil, 308 são mestres e doutores. Desses, 41 são bolsistas ligados a universidades.

Toledo diz que o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) criou uma estrutura qualificada para absorver esses profissionais, capazes de fazer a conexão entre a indústria e a universidade. Inclusive, o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados empregou um ex-aluno de Toledo, que foi o responsável por identificar a capacidade do ICMC-USP de apoiar o projeto na empresa de alimentos. 

“Ele tem forte diálogo com a universidade e entende bem essa realidade, então foi capaz de trazer esses profissionais para a indústria”, relata o professor.

Profissionais do SENAI promovem harmonia na relação entre indústrias e universidades

É essa capacidade de entender as necessidades da indústria e o ritmo da universidade que faz com que profissionais do SENAI liderem projetos que atendam às duas realidades. com resultados rápidos. 

“Muitas vezes vimos discussões de um lado querendo mudar o outro: a empresa desejando resultados em prazos mais curtos e a universidade focada no médio e longo prazo”, afirma José Eduardo Fiates, diretor de Inovação e Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), entidade que abriga o Instituto de Inovação em Sistema Embarcados. 

Um desses profissionais é o engenheiro mecânico Renan Bonnard, responsável pela parceria da USP com a empresa alimentícia. A experiência que ele acumulou na França, onde nasceu, ajudou Bonnard a construir as pontes no Brasil. “Na França, ainda há mais incentivos para essa interação que no Brasil, como editais e impostos reduzidos à pesquisa aplicada, voltada à inovação”, conta.

“O SENAI está cumprindo o seu papel ao lançar editais de inovação que promovem o estreitamento da parceria de indústrias com universidades e Institutos de Ciência e Tecnologia para trazer soluções às demandas do mercado”, elogia Bonnard. Dos 1.086 projetos desenvolvidos pelos Institutos do SENAI desde 2012, cerca de 15% envolvem esse tipo de parceria.

Inovação será fundamental para retomada econômica

Pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), encomendada ao Instituto FSB Pesquisa, mostra que a inovação será decisiva para acelerar a retomada da atividade e do crescimento da economia no Brasil. Entre as mais de 400 empresas ouvidas, 83% afirmam que precisarão de mais inovação para crescer ou mesmo sobreviver no mundo pós-pandemia.

Na visão da diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, uma das formas de promover esse ambiente favorável aos negócios é com interação entre diversos atores e otimização de recursos para pesquisas com resultados para a sociedade. "Quando pensamos sobre os principais parceiros para a inovação, nenhuma dessas interações chama tanto a atenção quanto a relação universidade-empresa", afirma.

Segundo Gianna, a atenção especial para esse tipo de interação tem duas razões: a primeira decorre do crescente conteúdo de ciência, embutido em quase todas as inovações tecnológicas – principalmente nas mais disruptivas. E também pela recorrente constatação de que a parceria deve ser mais estimulada. A diretora observa que um dos grandes desafios dessa interação é a administração das diferenças entre o mundo acadêmico e o mundo empresarial.

"A Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) tem trabalhado fortemente para entender as necessidades das empresas e promover essa aproximação, com foco em melhorar as políticas públicas e a formação de recursos humanos para empresas", pontua.

Cláudio Toledo, da USP, reforça que as atuais tendências tecnológicas demandam naturalmente que as universidades formem mais mestres e doutores e as empresas tenham capacidade de absorver esses profissionais mais qualificados. “Como vamos construir as cidades inteligentes e a Indústria 4.0 com engenheiros recém-formados? Isso não é possível”, alerta. Infelizmente, destaca Toledo, o país está bem longe do ideal.

Levantamento da CNI com dados do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, mostra que o Brasil tem cerca de 7,6 doutores para cada 100 mil habitantes, número bem inferior ao de países desenvolvidos. Na Inglaterra, são 41 a cada 100 mil. Na Alemanha, 34,4 e na Itália, 17,5. 

Apesar de serem poucos, os doutores ainda enfrentam altas taxas de desemprego no Brasil. Segundo o levantamento da CNI, enquanto a taxa de desocupação global gira em torno de 2%, por aqui, a média é de 25%. Entre os mestres, a situação é ainda pior: 35% não conseguem emprego.

Parceria está contribuindo para criar soluções rápidas no enfrentamento à pandemia

O SENAI está entre as 10 instituições privadas que mais investiram no enfrentamento à pandemia da Covid-19, segundo ranking da revista Forbes. Ao todo, a mobilização da entidade junto ao setor industrial destinou, até junho, cerca de R$ 467 milhões ao combate à pandemia.

Desses, R$ 20 milhões se destinaram a projetos de pesquisa e desenvolvimento – boa parte realizados em parceria com universidades –; R$ 21 milhões em cursos técnicos gratuitos; R$ 8 milhões em manutenção de respiradores; e R$ 423 milhões na produção de equipamentos de proteção individual.

Segundo o diretor de Operações do SENAI, Gustavo leal, é papel da instituição fazer o elo entre demandas atuais e futuras da sociedade para promover o desenvolvimento da indústria brasileira.


“A rede de Institutos SENAI de Inovação e de Tecnologia é fruto de um trabalho de oito anos. Portanto, nos preparamos realmente para suprir essa lacuna, promovendo a interação do setor industrial com as universidades para acelerar a disponibilização de soluções essenciais para a população”, destaca.


Prova disso é a parceria do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos, no Rio de Janeiro (RJ), com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para desenvolver testes de diagnóstico sorológico para coronavírus mais baratos e precisos do que os existentes no mercado. A tecnologia está sendo desenvolvida no formato de teste rápido e de ensaio do tipo ELISA. A inovação deve ser chegar ao mercado em breve.

As pesquisas são coordenadas pela professora Leda Castilho, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ). Em fevereiro, ela iniciou os estudos para modificar geneticamente células cultivadas em laboratório, que passaram a produzir a proteína das pontas do vírus, conhecidas como espículas. Contudo, praticamente não havia recursos disponíveis para continuar os trabalhos.

“Foi neste momento que, por outro motivo, telefonei para o diretor do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos, Paulo Coutinho, que conheço há muitos anos e junto com o qual oriento uma tese de doutorado na Coppe”, conta Leda. “Por coincidência, naquele momento o SENAI tinha acabado de lançar um edital para financiar projetos voltados ao enfrentamento do coronavírus e surgiu a ideia de estabelecer uma parceria”.

Pouco tempo antes da parceria com o SENAI, a professora havia sido procurada pelo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa de biotecnologia Advagen Biotech, Eduardo De Nicola, interessado em usar a proteína do coronavírus desenvolvida no Brasil para fabricar testes. A Advagen acabou virando parceira no projeto da UFRJ e do SENAI, juntamente com o Instituto Biomanguinhos da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), que será responsável por produzir em escala testes rápidos e, assim, levar as inovações ao sistema público de saúde. A CTG Brasil também entrou como patrocinadora da iniciativa.

“Esses projetos podem garantir a independência nacional para insumos necessários na produção de testes rápidos para o monitoramento de infecção pelo novo coronavírus”, afirma Sotiris Missailidis, vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Bio-Manguinhos, ligado à Fiocruz.

Nicola, da Advagen Biotech, destaca que o papel do SENAI foi fundamental para agilizar os projetos, cujos protótipos estão na fase final de testes. “Para mim, foi uma surpresa porque não conhecia esse viés de inovação da instituição, que tem mostrado grande competência para gerir os projetos e cobrar respostas rápidas tanto da academia, quanto da empresa”, destaca.

Ele lembra que, há alguns anos, teve de abrir mão de um projeto de pesquisa com duas universidades e uma financiadora porque faltou um gestor de projetos como o SENAI para agilizar o processo e os resultados.

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