Apesar da crise gerada pela pandemia de coronavírus, que atingiu todas as áreas, em especial a da Educação, especialistas acreditam que o momento pode ser uma oportunidade para a implementação de mudanças capazes de mudar a desigualdade educacional do Brasil.
Uma das mudanças seria o ensino híbrido, parte presencial, parte à distância, com uso de tecnologia, como plataformas e aplicativos. Uma das grandes vantagens disso, na visão deles, seria a possibilidade de o país poder expandir o acesso para alunos de regiões de baixa renda, que poderiam ter acesso aos mesmos conteúdos.
“Esse momento abre uma oportunidade de nós levarmos o debate para o modelo de ensino híbrido, no sentido de acelerarmos para uma direção de equidade”, afirmou Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diretor-geral do SENAI, e diretor-superintendente do SESI.
Para a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Claudia Costin, além da crise causada pela pandemia do coronavírus, o Brasil já enfrenta, há anos, uma grave crise na Educação, e lembrou que, em 2016, foi divulgado um estudo mostrando que apenas 9,1% dos estudantes que chegam ao ensino médio possuem conhecimentos considerados adequados em Matemática.
“Dos 79 países que participaram do PISA, teste internacional de qualidade da Educação, o Brasil ficou em segundo lugar de país mais desigual, então, há um problema grave”, disse ela.
Nesse contexto, veio a pandemia e ampliou ainda mais as desigualdades para crianças de baixa renda, sem acesso à internet, nem livros em sua residência. Ainda assim, a diretora acredita que as redes de ensino estaduais conseguiram se organizar para as aulas à distância, ainda que com ações de “mitigação de danos”, com aulas pela televisão e até pelo rádio em algumas cidades do país.
“Eu prefiro ser otimista e olhar o copo meio cheio. Houve um aprendizado muito intenso dos gestores educacionais e professores que estiveram na linha de frente”, disse. “E é nessa capacidade de se reinventar que a gente vai poder construir um futuro pensando em coisas como ensino híbrido, quando houver a volta às aulas”, afirmou.
No ensino híbrido, só há espaço para professor qualificado
Os especialistas debateram o assunto durante live realizada nessa semana para tratar de mudanças na Educação após a pandemia. Na visão do professor Mozart Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira IEA-USP Ribeirão Preto, outro benefício da adoção do ensino híbrido será a necessidade de capacitação dos professores. Isso porque 74% dos professores afirmam não se senetirtem preparados para o desafio, o que na visão dos especialistas é natural já que o ensino à distância pegou todos de surpresa.
Para ele, o caminho mais curto para enfrentar os problemas da Educação no país é qualificar o professor. “Com professor bem formado, a gente consegue fazer a mudança”, disse ele.
E a mudança seguirá necessariamente, segundo ele, um novo formato. “A pandemia foi o grande catalizador para trazer de vez a questão do ensino mediado por tecnologias”, disse.
“Esse é o momento de se pensar esse futuro, que é agora, e que nos leva ao ensino hibrido. Vai ser um ensino em que o conceito de aluno em tempo integral será cada vez mais relevante, o aluno vai ter parte de suas atividades na escola, no campo presencial, e a parte não presencial será desenvolvida por essas atividades, tanto síncronas, quanto assíncronas, utilizando essas novas tecnologias e aplicativos. Eu acho que esse é o momento da escola se reinventar”, concluiu.
Rafaell Lucchesi destacou que, no Brasil, o debate sobre uso da tecnologia, muitas vezes, segue a linha da polêmica em torno da substituição do professor pela inovação, o que acaba prejudicando o avanço de mudanças importantes. “O papel do professor não diminui com o uso das tecnologias, assim como a importância dos médicos não diminuiu com a telemedicina”, disse.
A Indústria contra o coronavírus: vamos juntos superar essa crise
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