Alunos de unidades do Serviço Social da Indústria (SESI) do Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul participaram da simulação de conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), na Universidade de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos. A Harvard Model United Nations (Hmun) ocorreu entre os dias 26 e 29 de janeiro e é a maior e mais prestigiada conferência diplomática do mundo para estudantes do Ensino Médio e do 9º ano do Ensino Fundamental.
O evento reuniu 4 mil alunos de 57 países para simular papéis de diplomatas, juízes, deputados ou jornalistas nos comitês da ONU. Os estudantes são selecionados por meio de um processo seletivo composto de redações em inglês demonstrando o interesse em participar e a experiência em conferências anteriores. O objetivo principal é debater e encontrar solução para problemas de ordem mundial.
Entre os 12 alunos do Colégio SESI da Indústria do Centro de Curitiba (PR) estava Giulia Menezes. A estudante de 16 anos participou como representante da Agência Internacional de Energia Atômica da Polônia (International Atomic Energy Agency - IAEA). Desde pequena, sempre teve vontade de fazer intercâmbios culturais. Quando o SESI abriu uma seleção para o clube de simulações, o SESIMUN, ela decidiu se aventurar e entrou para a equipe.
O grupo fez a inscrição como delegação para a Hmun e esperou a aprovação. Na experiência, Giulia aproveitou para fazer diversas conexões, mas o principal desafio foi se impor durante as discussões.
“Uma das coisas mais importantes é saber se impor entre as outras delegações e isso é uma ação bem difícil, porque todo mundo lá está com o mesmo objetivo. Então, é sempre uma disputa constante”, disse.
"Apesar de todas as dificuldades, a Hmun é mágica e quando acaba a gente fica com aquele gostinho de quero mais no peito.”
Esta é a segunda participação da unidade na simulação. Na primeira, a delegação representou a República Dominicana no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Desta vez, os alunos representaram a Polônia em sete comitês diferentes, e a França no Conselho de Segurança da ONU. O SESI planeja sediar a primeira simulação entre escolas do Paraná.
Na visão do professor de Língua Inglesa, Portuguesa e Produção Textual Tiago Cantuario da Silveira, o evento é essencial para a formação dos alunos e testemunhar a transformação dos jovens com a experiência é, segundo ele, o sonho de qualquer professor.
“Participar reafirma todo o trabalho realizado em sala de aula, atestando que nossos alunos têm capacidade para discutir problemas internacionais com adolescentes de todo o mundo. Além disso, a experiência de intercâmbio é inesquecível e possibilita um crescimento e uma mudança de pensamento para eles não têm preço”, comemora.
“Amedrontador, mas supriu as minhas expectativas”
No SESI-SP, quem correu atrás de novos horizontes foi o estudante João Lucas Oliveira Silva, 17 anos. O aluno da Escola SESI Mococa (SP) sempre gostou de falar, debater e se engajar em projetos extracurriculares. No 1º ano, conheceu as simulações por meio de uma amiga, mas não tinha tempo, porque estudava on-line e estava envolvido com outras atividades. Até que no ano seguinte, ele resolveu parar de adiar o sonho e percebeu que “aquilo era para mim, para a minha personalidade e para quem quero me tornar no mundo”.
Após participar do projeto de simulação on-line MUN CGS, ele foi convidado pelo chefe da delegação para integrar a equipe que estaria na Hmun. João chegou a ficar na lista de espera, mas o sim chegou.
“Lembro de ver o resultado na aula de Artes e quase chorar no meio da aula, porque foi uma coisa grande. Você nunca espera passar num negócio tão grande, e Harvard sempre foi uma universidade que tive muito apreço”, conta. “Então, ter isso no meu currículo é algo de encher o coração", diz João.
Para ele, a primeira simulação presencial foi um pouco amedrontadora, mas “supriu as minhas expectativas”. Ele compôs a delegação da Eslováquia e conta que fez parceria com estudantes de países pouco conhecidos do Brasil, como São Tomé e Príncipe e Burundi. "São países que você nunca espera ver numa simulação, mas fazem papel fundamental e é lindo ver pessoas delegando junto com você", descreve.
Apesar do cansaço pelas sessões que duravam até 4 horas, de falar outra língua e de lidar com o clima diferente, os aprendizados foram maiores. João praticou oratória, aprendeu sobre diplomacia e percebeu que o evento foi só o início. "Ter esse primeiro contato com outra língua e fazer um discurso inicial que foi aplaudido foi algo gratificante para mim.” Agora, ele quer inaugurar a primeira simulação nos modelos da ONU no SESI.
Aulas que estimulam o senso crítico
A professora de Geografia do SESI Mococa Daniela Cristina Pereira de Souza acompanha João Lucas desde o 6º ano do Ensino Fundamental e foi uma das incentivadoras do estudante. Os temas discutidos em sala de aula contribuem para que os jovens, em especial João, se preparassem para debater e argumentar em qualquer situação. Daniela também estimula a participação dos estudantes nas Olimpíadas de Geografia.
“Sempre pauto as minhas aulas em investigação, produção e argumentação. Isso fez com que o João se tornasse esse estudante crítico, que busca a informação, se interessa pelo que está acontecendo no mundo e que pensa que, por meio do trabalho dele, ele pode fazer a diferença”, ressalta.
Para Daniela, o feito de João simboliza o conceito educacional do SESI para formar novas gerações. “Sinto um orgulho imenso de saber que um aluno que tenho desde o 6º ano de repente foi para fora dos muros da escola e levou esse protagonismo que o SESI trabalha tanto.”
Um novo Mundo se abriu
Assim como João Lucas, a estudante Isadora Urio Fernandes, 17 anos, tem como objetivo organizar uma simulação no escopo da Hmun no SESI Gravataí (RS). Participar da simulação em Harvard aumentou a vontade da aluna do 3º ano de compartilhar a experiência com mais pessoas.
Desde que ingressou no Ensino Médio no SESI, desenvolveu grande interesse por política e outros temas sociais. Foi pesquisando na internet que descobriu as simulações da ONU.
A primeira experiência com simulações da ONU veio em 2021, quando Isadora estava no primeiro ano. “Foi uma experiência on-line e um pouco desafiadora, especialmente porque aquele ambiente ainda era novo para mim. Mas, conforme fui participando de mais conferências, fiz daquele ambiente o meu novo MUNdo”, conta. O trocadilho com a sigla da simulação fica na conta de Isadora.
Para participar da seleção, ela enviou algumas redações e se preparou. Foram horas de estudo sobre Guiné-Bissau, delegação que ela representou. Isadora pondera que é difícil resumir tudo o que aprendeu, porém “estar em um ambiente global me fez perceber o quão vasto o nosso mundo é de cultura e realidades”.
Orgulho para as escolas
Durante a viagem, a professora de Física do SESI Gravataí Cláudia Germano acompanhou Isadora. Ela explica que a escola segue uma metodologia baseada em projetos e trabalha o desenvolvimento da argumentação e da resolução de problemas reais. Para Cláudia, as simulações são experiências que “instigam o aluno a se colocar no lugar dos diplomatas e, a partir da sua política, crença e ideologia, praticando a empatia, propor soluções viáveis e concretas para os problemas”.
O colégio deu todo o apoio para a preparação. “Ela sempre foi aquele tipo de aluna que se destaca em tudo pela dedicação. Ela foi aprovada no mesmo tipo de evento na Universidade de Yale, nos EUA, elabora e media clubes de debates na escola (similares às simulações da ONU), participa de eventos on-line e lê bastante. É uma menina de ouro”, confessa a professora.
Cláudia também aproveitou a oportunidade para conversar com outros participantes e entender sobre a realidade deles.
“São todos geniais e cheios de sonhos. Fiquei impressionada com uma menina da Angola que ultrapassou diversas barreiras para estar lá também”, compartilha. “Foi uma semana de muito conhecimento e muito rica para mim.”
Gostinho da vida universitária
Após as simulações, os estudantes conheceram a Universidade de Harvard. Para João Lucas, que sempre foi apaixonado pela instituição, entrar lá “foi coisa de outro mundo”. Ele visitou a biblioteca, viu outros jovens andando pelo campus e deseja retornar, quem sabe, como aluno. "É um lugar que você se sente em casa”, resume. Ele e outros amigos também visitaram o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, a Babson College e a Northeastern University.
Para Isadora Urio, a palavra Harvard sempre esteve muito distante da realidade. A possibilidade de pisar no campus parecia irreal, mas fez a jovem perceber que tudo valeu a pena. “Observar todos aqueles estudantes focados me motivou a alçar altos voos e fazer parte daquele lugar um dia”, sonha.
Harvard também causou esse efeito na estudante do Colégio SESI da Indústria do Centro de Curitiba Giulia Menezes. Segundo ela, “só de andar pelo campus já foi uma experiência mágica”. Giulia conta que um dos maiores desejos é se graduar no exterior. Ela acredita que ter uma simulação da ONU no currículo irá ajudá-la no processo. “Me dá mais chances de ser aprovada. Eu particularmente sou uma pessoa muito tímida e introvertida, e a Hmun me ajudou muito a soltar esse lado meu”, finaliza.