A formação de professores precisa ter foco na prática para que os docentes sejam capazes de desenvolver nos alunos as competências e habilidades exigidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A avaliação de especialistas em educação que participaram do primeiro dia de debates do 2º Seminário Internacional SESI de Educação - Educação para o Tempo Presente, nesta segunda-feira (9), é de que o currículo dos cursos de Pedagogia deve ser redesenhado para o que o futuro docente tenha contato efetivo com a experiência de sala de aula desde o primeiro ano da graduação.
“O conhecimento sobre a docência é desenvolvido na prática, ou seja, sendo professor, mas não é um conhecimento espontâneo, que nasce do nada. É necessária uma base de conhecimento que não é apenas teórica, é composta também pelas técnicas (de ensino)”, afirmou a diretora da Faculdade de Educação da Universidade Diego Portales, em Santiago, Chile, Paula Louzano, durante o painel Formação de professores: ensinar – agir na urgência e decidir na incerteza: tradição e inovação na formação docente.
Segundo ela, a literatura demonstra que o professor deve ter três tipos de conhecimento: do aluno e seu contexto social; do conteúdo da disciplina e o saber ensinar. É necessário, por isso, que a formação inicial e continuada do professor seja também de metodologias pedagógicas e técnicas de ensino e não apenas dos conteúdos a serem ensinados, como ocorre na maioria das vezes.
“O conjunto de saberes se materializam na prática. Eu só posso dizer que eu sei sobre meus alunos, sobre minha disciplina e que eu sei ensiná-la, isso só importa na medida em que consigo colocar o conhecimento em prática na sala de aula, e, para fazer isso, é preciso integrar os conhecimentos”, explicou a especialista. “O que diferencia um médico de um biólogo e de um químico não é o conhecimento sobre o corpo humano ou sobre a química, mas a capacidade de colocar em prática conhecimentos diferentes de maneira integrada a serviço da saúde de um paciente específico”, comparou.
Docente tem de se adaptar a situações inesperadas
Para o presidente do Instituto Singularidades, Alexandre Scheiner, que também participou do painel, o docente precisa ter o domínio de diversas metodologias para ser capaz de se adaptar a situações inesperadas, como a que aconteceu durante a pandemia do novo coronavírus. “Devemos formar o professor em diversas metodologias para que ele possa atuar em situações como a que a gente está vivendo hoje ou futuramente com o uso da tecnologia”, defendeu.
Na sua opinião, o desafio do Brasil nesse campo é do tamanho do universo de professores do país. O Brasil tem 2,6 milhões de professores, dos quais 2,2 milhões na educação básica. Todos precisam de formação continuada para responder aos desafios impostos pela BNCC. Além disso, é preciso mudar a formação inicial para que seja mais voltada à prática, sendo que 60% dos profissionais são formados hoje à distância.
“A gente tem dois grandes desafios: mudar a formação inicial no país para que seja baseada em uma articulação entre o como fazer e aquilo que deve ser ensinado, algo que é um desafio enorme em um país que forma à distância e que mesmo os cursos presenciais não têm essas características”, explicou. “No caso da formação continuada, além de realizar a formação para aquilo que o país declarou que deve ser ensinado e aprendido nas escolas, também em metodologias e práticas novas. Não é um desafio trivial”, afirmou.
Para que isso se concretize, Alexandre Scheiner avalia que é necessária grande articulação com estados e municípios, responsáveis pela educação básica. “A gente vai precisar, em um país que não tem um sistema nacional de educação, buscar uma articulação entre estados e municípios para formação dos professores”, complementou.
É preciso recuperar papel importante do coordenador escolar
Durante o debate desta segunda, o gerente de Educação Básica do Serviço Social da Indústria (SESI), Wisley João Pereira, também defendeu que é preciso recuperar o papel do coordenador escolar de articulador da formação multidisciplinar do estudante. É o ocorre na rede SESI, especialmente nas turmas que já adotam o novo modelo de ensino médio, baseado em itinerários formativos com foco no desenvolvimento de competências e habilidades.
“A formação na rede SESI é de professores, mas também de gestores e coordenadores. O coordenador, no Brasil, perdeu sua função, deixou de ser o articulador do currículo e de formação de professores. A gente tem de resgatar esse papel fundamental dos coordenadores”, argumentou.
Na sua opinião, o professor precisará de grande ajuda para “virar a chave”, em uma velocidade muito maior devido à pandemia. Segundo ele, o SESI conseguiu, em quatro dias, migrar todos os seus alunos para o ensino remoto, pois já se preparava para o uso intensivo de novas tecnologias. “Precisamos pensar em como podemos ajudar os mais de 2 milhões de professores neste momento em que dois grandes normativos precisam ser implementados em um cenário em que o professor precisa se reiventar em uma velocidade acelerada pela pandemia”, defendeu.
Em 2019 foram capacitados mais de 3 mil professores de 350 escolas da rede SESI para utilização pedagógica do Minecraft Education Edition e do Office 365, com mais de 30 recursos e ferramentas como Forms, Sway, Classnotebook e Teams. O SESI também desenvolve há 12 anos um programa de Robótica Educacional na educação básica, que oferece serviços de suporte técnico, assessoria pedagógica e formações para os docentes, proporcionando o engajamento nas metodologias e novas formas de aprender e ensinar.
No ano passado, foram realizadas mais de 400 horas de qualificação com 496 docentes formados. Em 2020, em virtude da pandemia, essa demanda aumentou por parte das escolas, e até o momento mais de 2 mil docentes foram formados.
Durante o primeiro dia do seminário, o professor unidocente de Eduação de Jovens e Adultos (EJA) da Fundação Roberto Marinho, João Filipe Brasil, também apresentou sua experiência de formação continuada. Até sexta-feira, especialistas nacionais e internacionais debatem temas fundamentais da escola do século 21, que estimule o envolvimento ativo dos alunos com experiências da vida real, por meio da solução de problemas, da investigação, da descoberta e da inovação.
Os encontros são sempre das 17h às 19h, no YouTube do SESI. Nesta terça-feira (10), um dos palestrantes é o professor adjunto da Universita Cattolica del Sacro Cuore di Milano, Pier Cesare Rivoltella. O especialista é um dos pesquisadores europeus que mais tem produzido no campo de mídia-educação e participará do painel Tecnologias Educacionais: a experiência de aprender no mundo 4.0.