“Não há como pensar na neoindustrialização sem pensar em inovação e em tecnologia”, enfatizou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban. A afirmação foi feita na abertura da reunião de líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), realizada na manhã desta sexta-feira (24), no escritório da CNI em São Paulo. Este foi o primeiro encontro da MEI conduzido por Alban, que tomou posse no último dia 31 no cargo de presidente da entidade.
Alban ressaltou a importância da MEI para a indústria nacional e para a ampliação da cultura da inovação no Brasil. Ao lado de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o presidente da CNI pontuou que a Confederação será uma forte aliada do governo para catalisar as ações voltadas para o fortalecimento da indústria, especialmente com iniciativas de transformação energética e inovação.
“Queremos e estamos dispostos a ser um catalizador das políticas públicas para transformar o paper em ciência aplicada. Pretendemos ser um transformador dos planos do governo em efetividade para a indústria, para a inovação e para a tecnologia”, destacou Alban.
“Esperamos não perder mais uma vez o que o mundo está nos oferecendo”, completou, referindo-se às oportunidades que o Brasil tem de ser protagonista na agenda climática.
Protagonismo do Brasil em segurança alimentar e energética
O vice-presidente da República alertou que o Brasil está no centro de três grandes debates globais da agenda verde, o que coloca o país em condições de ser protagonista nesses temas: segurança alimentar, segurança energética e clima. Alckmin destacou que a MEI tem enorme relevância ao contribuir, por meio da inovação, para que possamos aproveitar as oportunidades dessa agenda.
“Não há nada mais importante para o país do que ter sociedade civil organizada trabalhando por melhorias”, disse Alckmin.
Alckmin enumerou as recentes iniciativas do governo federal voltadas para a neoindustrialização, inovação e descarbonização do Brasil. Ele lembrou do enorme potencial do país para biocombustíveis e na geração de energias limpas. O vice-presidente também comentou que o país precisa investir em medidas de simplificação e desburocratização para reduzir o custo Brasil e aumentar suas possibilidades de investimentos em áreas estratégicas. “Só na questão regulatória podemos reduzir R$ 190 bilhões”, estimou.
Converter pesquisas em patentes
O assessor especial do Ministério da Fazenda, Rafael Dubeux, destacou a importância que a agenda climática tem ganhado a cada ano. Para exemplificar, ele mencionou que o volume total de investimentos mundiais em energia eólica e solar vai superar este ano os recursos aportados para óleo e gás. Ao mencionar o potencial do Brasil na área de inovação, ele defendeu que o país converta as pesquisas que produz em entregas efetivas.
Dubeux pontuou que o Brasil e a Coreia do Sul produzem, em média, 100 mil artigos científicos por ano, mas há um abismo entre os dois países na conversão desses papers em patentes, produtos e serviços. “Eles conseguem converter esses 100 mil artigos em 23 mil patentes e a gente só em 250 patentes. Temos um claro desafio aqui”, alertou. “Precisamos canalizar esses recursos para atividades ligadas à descarbonização da economia e direcionar cada vez mais recursos para atividades que integrem a academia e o setor produtivo. O Brasil tem publicações cientificas robustas”, acrescentou Rafael Dubeux.
Segundo ele, o plano para a transformação ecológica do país está focado em três objetivos: aumento da produtividade brasileira; cálculo da curva de crescimento econômico para reduzir emissões de gases de efeito estufa; e garantia de um crescimento bem distribuído, com ganhos para todos.
Protagonismo na transição para economia de baixo carbono
Convidada para falar sobre o apoio do setor privado às fontes potenciais de financiamento para a descarbonização no país, a head do Systemiq na América Latina e cofundadora da AYA, Patrícia Ellen, estima em ao menos US$ 100 bilhões por ano o valor necessário para investimentos no Brasil em infraestrutura, indústria, mobilidade e energia.
“O Brasil está muito bem-posicionado com ativos estratégicos para liderar a transição global para uma economia de baixo carbono. Temos o dever e a responsabilidade de liderar a agenda global de transformação e espero que a CNI seja a grande protagonista dessa jornada”, afirmou Patrícia.
Durante a reunião, o coordenador da MEI, Pedro Wongtschowski, enumerou uma série de realizações da mobilização ao logo dos últimos 15 anos – o grupo coordenado pela CNI foi criado em 2008 e hoje reúne mais de 500 empresas. Entre os feitos da MEI estão a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), da rede de institutos SENAI de Inovação e de Tecnologia, do MEI Tools, além de contribuições decisivas para o descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), para melhorias na Lei do Bem e para a implantação das novas diretrizes curriculares dos cursos de engenharia.