O mundo nem venceu a pandemia de Covid-19 e especialistas já afirmam que uma nova epidemia de proporções globais virá entre cinco a dez anos. Por isso, o investimento robusto e permanente em inovação nos próximos anos será fundamental para que a sociedade esteja mais preparada da próxima vez que uma crise surgir. A avaliação foi feita por participantes de debate online promovido pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), realizado nesta quarta-feira (8) no Youtube e no LinkedIn da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A avaliação do diretor de Aceleração e Tecnologia da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (Cern), da Suíça, Frederick Bordry, é que a sociedade deve estar preparada, por meio da pesquisa e inovação, para outras crises fora da área médica que também devem acontecer.
“Nós não sabemos qual será a próxima crise. Pode ser uma nova pandemia, uma nova crise sanitária, mas pode ser também uma crise climática, energética ou um ciber ataque. Por isso é tão importante investir em ciência”, afirmou Bordry.
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O diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Luiz Eugênio Mello, reforçou que, por isso, o investimento em inovação deve ser permanente. “Quando consideramos investimento, não é algo para amanhã, é para o longo prazo. Precisamos ser relevantes amanhã, mas definitivamente também precisamos ser relevantes no longo prazo. É algo que precisa ser feito além do imediato, da necessidade visível”, sintetizou ele, que mediou a live Por que o investimento em inovação é imprescindível no pós-crise.
Educação flexível é a chave para enfrentar novas crises
O investimento em pesquisa, seja básica ou aplicada, e em educação será ainda mais importante para preparar a humanidade para enfrentar com os desafios que virão, complementou o diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Antônio José Roque.
“Educação é a palavra-chave. Nós vemos que precisamos ter pessoas preparadas para as novas tecnologias que estão surgindo cada vez mais rapidamente. Precisamos preparar nosso pessoal para ser capaz de aprender e adaptar-se tão rápido quanto a nova tecnologia aparece”, defendeu. O aprendizado remoto, difundido durante a atual pandemia, afirmou Roque, é um dos caminhos para reforçar essa educação.
O treinamento dos jovens pesquisadores, cientistas e empreendedores deve ser flexível a fim que eles sejam capazes de lidar com qualquer tipo de crise que surgir, afirmou Frederick Bordry. Na sua opinião, a pandemia de Covid-19 mostrou que o mundo está fortemente interconectado, o que torna qualquer problema surgido em uma região do planeta um desafio de todos.
“É importante que haja flexibilidade no treinamento dos jovens para endereçar qualquer crise que venha a ocorrer. Estamos em um mundo, e podemos ver isso na pandemia, em que uma crise que começa em qualquer canto do planeta espalha-se para todos os lugares. Estou convencido de que qualquer crise climática, energética, ciber ataque será global. Temos de estar preparados cada vez mais para fazer pesquisa globalmente”, defendeu o diretor da instituição suíça.
A inovação e a pesquisa também serão essenciais para responder às necessidades da economia do futuro, defenderam ainda os debatedores. Na visão do vice-presidente do Centro de Pesquisa Técnica (VTT) da Finlândia, Jussi Manninem, soluções voltadas à economia de baixo carbono e eficiência de recursos devem estar na mira dos institutos de ciência e tecnologia, da universidade e das empresas.
“Temos de começar a olhar, do ponto de vista do desafio, em soluções ‘low carbon’, em eficiência de recursos. A tendência é que não seja apenas uma questão tecnológica, mas que se conjugue com problemas da sociedade, com políticas públicas. Temos de olhar mais na direção da interação da ciência e tecnologia com políticas públicas”, defendeu Manninem.
Os representantes dos ICTs apresentaram ainda os esforços feitos para ajudar seus países a enfrentar a pandemia de Covid-19, como as pesquisas desenvolvidas na Finlândia em busca de uma vacina contra o novo coronavírus e pelo CNPEM, no Brasil, de um medicamento para tramento dos doentes.
Estudo do CNPEM identificou, nos testes in vitro, medicamento que demostrou ter 93,4% de eficácia em combater a infecção causada pelo Sars-Cov-2. Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, serão testados cerca de 500 pacientes em cinco hospitais militares no Rio de Janeiro, um em São Paulo e outro em Brasília para confirmar o efeito benéfico da droga.