O desenvolvimento de novas fontes de energia renovável e de novos produtos a partir do uso eficiente de recursos naturais, como bioinsumos, cosméticos e fármacos, são exemplos de iniciativas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa adotadas pela indústria nos últimos anos. Estas contribuem com o processo de descarbonização.
Em 2022, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), as fontes renováveis foram responsáveis por quase 92% da energia elétrica produzida no Brasil, por meio de usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa em geração centralizada. Quando se pensa na matriz energética como um todo, que também inclui fontes para movimentar carros ou preparar a comida no fogão, a participação das renováveis está hoje em 45%, mais que o triplo da média mundial, que é de 14%.
“O Brasil tem muito a contribuir com a mitigação das mudanças climáticas no planeta e a indústria brasileira tem desempenhado um importante papel na promoção de práticas sustentáveis e na redução das emissões de gases de efeito estufa”, afirma Mônica Messenberg, diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em 10 anos, diz Mônica, a estimativa é de expandir em 30% a oferta interna de energia e, mesmo assim, a participação das fontes renováveis na matriz energética deve se manter próxima de 84%. “O Brasil se encontra na vanguarda da transição energética, com elevada participação de fontes renováveis na matriz, e segue uma trajetória sustentável, ampliando e diversificando, cada vez mais, o uso dessas fontes limpas”, argumenta ela.
No caso da geração de energia elétrica, diz a diretora da CNI, a situação é ainda mais animadora. “Estima-se, em 10 anos, a necessidade de expansão da oferta de energia elétrica em 40%, mantendo-se a participação das energias renováveis em 84%”, conta Mônica.
Essa expansão na oferta interna de energia promete ter efeitos incrementais muito positivos sobre o faturamento da indústria. Estudo da Embrapa Energia estima que, até 2050, o avanço da bioeconomia poderá gerar um faturamento industrial anual de US$ 284 bilhões.
Realizado em parceria com a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI/CETIQT) e outras entidades, o estudo, divulgado em janeiro de 2023, considerou três frentes para a implementação total da bioeconomia: as atuais políticas para mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no país; a consolidação da biomassa como principal matriz energética em setores importantes da economia; e a intensificação de tecnologias biorrenováveis.
O argentino Agustin Torroba, especialista internacional em biocombustível e energias renováveis do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), destaca que o processo de descarbonização é importante para a economia mundial e, em especial, para a brasileira. “Caso não se encare o processo de redução das emissões de carbono de maneira decidida, os efeitos das mudanças climáticas vão impactar negativamente não só o desenvolvimento econômico, mas também o social”, diz.
Ele ressalta que o Brasil, como referência em fontes de energia renovável na América do Sul e no mundo, tem um papel importante no processo de descarbonização. “Todas as políticas adotadas no país vão contribuir com o processo global de redução das emissões de gases de efeito estufa. Além de compartilhar sua experiência, o Brasil pode ajudar outros países nesse processo. Um exemplo são as pesquisas para o desenvolvimento do etanol como combustível para veículos”, afirma.
Larissa Basso, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), diz que a descarbonização é o principal desafio atual e que o Brasil pode ser um dos líderes desse movimento se avançar em algumas frentes.
Primeiro, diz ela, é preciso conter a perda de vegetação natural nos diferentes biomas brasileiros, florestas ou não. “Sem vegetação natural perdemos recursos hídricos e biodiversidade, e ocorrem mudanças nos padrões de chuvas e ventos, alterando as bases da nossa organização econômica e social. Conter essas perdas é fundamental”, explica.
Além disso, complementa Larissa, é necessário reverter o aumento do uso de combustíveis fósseis e ampliar a participação das fontes renováveis de energia. “O Brasil é um dos países mais bem posicionados para fazer a transição energética e precisamos tirar vantagem disso para avançar mais rápido”, diz.
É preciso, ainda, segundo ela, avançar em ações nos setores nos quais estamos atrasados, como tratamento de resíduos e aumento da produtividade sistêmica da economia, implementar políticas públicas e desenvolver novas atividades econômicas alinhadas à bioeconomia.
“É necessário assegurar condições de mercado adequadas para que a indústria se desenvolva, absorva as inovações tecnológicas requeridas e possa se beneficiar da complementaridade das fontes de energia renovável, fazendo uso delas tanto para tornar os seus processos industriais mais eficientes e descarbonizados quanto para desenvolver novos negócios que permitam aproveitar as oportunidades nos mercados internacionais que buscam reduzir sua pegada de carbono”, diz Mônica, da CNI.
“As práticas propostas pela economia circular, que envolvem a otimização de processos, a recuperação de recursos, a extensão da vida útil, a virtualização e o compartilhamento, são oportunidades para o desenvolvimento de novos modelos de negócio na busca pela redução de riscos e de emissões", defende a diretora.