
O Brasil investiu 1,19% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 2023, sendo metade do investimento do setor privado. O levantamento mais recente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que mostra estabilidade dos dispêndios na comparação com 2022, foi apresentado pelo secretário-executivo da pasta Luis Fernandes na reunião do Comitê de Líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), nesta sexta-feira (19), no escritório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em São Paulo.
O percentual nos coloca bem distante de países desenvolvidos e que são referência em inovação, como Israel (6,35%), Coreia do Sul (4,96%), Estados Unidos (3,45%), Alemanha (3,11%) e China (2,58%). Olhando para os últimos 10 anos, o país atingiu maior percentual investido em 2015 (1,28%) e o menor em 2017 (1,12%).
“Temos certa estagnação nos dispêndios em P&D em relação ao PIB. Nosso papel é fomentar com instrumentos adequados e financiamento público a inovação empresarial. Esse diálogo no âmbito da MEI é fundamental para melhorar execução desses instrumentos e atender efetivamente as necessidades da indústria”, afirmou o secretário-executivo da pasta Luis Fernandes.
O representante do MCTI destacou avanços recentes, como a recomposição do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que, neste ano, alcançou maior orçamento: R$ 14,6 bilhões. Segundo o Planejamento Plurianual do FNDCT 2025-2029 apresentado pelo secretário, dos R$ 96 bilhões previstos para o fundo em cinco anos, os programas Pró-Infra (R$ 12,2 bi), Mais Inovação (R$ 60,2 bi), Conhecimento Brasil (R$ 5 bi) e Conecta e Capacita Brasil (R$ 1,5 bi) devem responder pelos maiores aportes, além de Projetos Estratégicos Nacionais (R$ 5,5 bi).
O diretor de Desenvolvimento Industrial, Tecnologia e Inovação da CNI, Jefferson Gomes, observou que a MEI tem monitorado as políticas de inovação, especialmente as da Nova Indústria Brasil (NIB), por meio dos Grupos de Trabalho (GTs).
“Nas últimas semanas, tivemos a sanção do Projeto de Lei 847, que vai possibilitar a liberação de cerca de R$ 22 bilhões do FNDCT via crédito para projetos de inovação nas empresas; o julgamento da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), de onde vêm cerca de 74% dos recursos do FNDCT; e o lançamento do ReData, programa de atração de data centers. São todas políticas relevantes para o nosso setor e para a inovação”, alertou o diretor da CNI.

Impactos da inovação no ecossistema de CT&I
O diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Gustavo Leal, e o diretor da Fraunhofer IPK, Holger Kohl, apresentaram o estudo de impacto da rede SENAI de inovação.
“Trouxemos os resultados em primeira mão, porque a rede nasceu aqui, em 2011. Os dados nos mostram a importância da continuidade em projetos estruturantes, persistência e trabalho coletivo”, pontuou Leal.
Em oito anos, a rede SENAI de inovação contribuiu com 0,66% médio anual no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. De 2012 a 2019, os 26 institutos de inovação foram responsáveis por uma adição de cerca de R$ 1 mil no PIB per capita das localizações geográficas onde sua operação foi alcançada - o PIB per capita médio no período analisado foi de R$ 52 mil.

Um dos responsáveis pelo estudo, o diretor da Fraunhofer reconheceu o desafio de mensurar o impacto da inovação e mostrou os dados da rede alemã. A instituição, que tem quase 80 anos de trajetória e hoje é a maior rede de pesquisa aplicada da Europa, com 75 institutos, contribui para 1,6% do PIB alemão.
“Ao avaliar o impacto da rede SENAI, parabéns pelo que vocês alcançaram em pouco tempo. E não pode parar por aí. Para o futuro, esse impacto pode ser ainda maior se tiver os desenvolvimento da rede, colaboração e internacionalização, qualificação e desenvolvimento de talentos e aumento da performance e excelência, além de avaliações de impacto regularmente”, sugeriu Kohl.
Em seguida, o diretor-presidente científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Frederico de Oliveira Graeff, também apresentou os dados da instituição, que, em 30 anos, desembolsou R$ 24,9 bilhões, sendo R$ 10 bilhões em bolsas. E, de 2012 a 2025, os 39 centros de pesquisa aplicada contrataram R$ 290 milhões. “Para cada R$ 1 de recurso público desembolsado, foram aportados R$ 4,80 pelas empresas e instituições parceiras”, comparou.
Índice Global de Inovação 2025
O conselheiro da MEI, Pedro Wongtschowski, apresentou às lideranças os resultados do Índice Global de Inovação 2025, divulgado na última terça-feira (16). O Brasil ficou na 52ª posição, entre 139 países, perdendo a liderança na América Latina para o Chile e se firmando como o 5º país nas economias de renda média-alta.
“Como o índice tem dados com certa defasagem, a colocação não reflete cenário mais recente. Por exemplo, recursos da Finep nos últimos dois anos mais que dobraram, e temos o BNDES, com os recursos da NIB. Há expectativa de que Brasil melhore sua posição nos próximos índices”, ponderou Wongtschowski.
Líderes debateram autonomia financeira do INPI
Wongstchowski também defendeu o fortalecimento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Apesar de o tempo médio de análise de pedidos de patentes ter caído de quase 8 anos para 3,3 anos, as reduções orçamentárias e limitações para contratação e reposição de examinadores levam à perfomance insatisfatória da instituição, que ainda amarga cerca de 108 mil pedidos pendentes de análise (backlog).
“Tivemos um progresso, lento, mas ainda assim um progresso. O problema é orçamento e pessoal, para avaliar os pedidos. A proposta é transformar o INPI em autarquia especial para maior autonomia e recurso”, adiantou o conselheiro da MEI.

Prêmio Nacional de Inovação
Bruno Quick, diretor técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), anunciou o lançamento da 9ª edição do Prêmio Nacional de Inovação (PNI). A iniciativa do movimento Juntos pela Indústria, que reúne Sistema Indústria e Sebrae, é voltada para empresas de diferentes portes do setor industrial, pequenos negócios de todos os setores, empresas incentivadas pela Lei do Bem e ecossistemas de inovação do país, além de pesquisadores.
“Hoje trabalhamos com mais de 200 ecossistemas no país, entre ICTs e aceleradoras, muitas com inovação aberta, além de 20 mil startups. Vamos mobilizar para alcançar todos”, afirmou.
Quick lembrou ainda que, em oito edições, o PNI recebeu mais de 16 mil inscrições e, que neste ano, o prêmio tem nova metodologia e novas categorias. As inscrições abrem no dia 22 de setembro de 2025.