O setor de energias renováveis está em franco crescimento no Brasil e deve bombar cada vez mais nos próximos anos, afinal, investir nessa tecnologia significa evitar emissões de gases do efeito estufa e, por consequência, preservar o nosso planeta. Tem coisa mais importante do que isso?
Mas como desenvolver essa área de forma consistente? Uma das chaves é garantir que o crescimento do setor aconteça de forma justa, diversa e inclusiva, o que inclui mais mulheres envolvidas no processo.
Pensando nisso, um grupo de mulheres se uniu e lançou o Meninas em Ação - Imersão Interligadas em Energias Renováveis, um programa para estimular a presença feminina em programas de formação técnica e no mercado de trabalho de energias renováveis.
O projeto piloto foi em novembro de 2022, no Rio Grande do Norte, e reuniu 40 meninas do ensino médio de escolas públicas de Natal no Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER), do SENAI-RN.
As estudantes visitaram a indústria potiguar SterBom, uma das que mais tem investido na geração de energia a partir de módulos fotovoltaicos no Rio Grande do Norte e tiveram a oportunidade de ouvir depoimentos de mulheres que trabalham na área de energias renováveis, tirar dúvidas com elas e se inspirar.
Depois foram estimuladas a debater soluções para alavancar a presença de mulheres nas indústrias de energia eólica e solar, e resolveram desafios tecnológicos nas áreas de elétrica e segurança do trabalho. Uma das missões era fazer conexões de fios e conseguir acender uma lâmpada em até 30 minutos.
Já no laboratório do CTGAS para treinamentos de trabalho em altura, elas foram estimuladas a inspecionar validade, cintos, fitas, fivelas, costuras de segurança e outras partes de um kit de equipamentos de proteção individual. O grupo que vestisse corretamente e mais rápido um cinto paraquedista, usado no trabalho em altura, ganhava.
Os grupos vencedores dos desafios ganharam ingresso para um tour aprofundado pelo Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN, complexo que sedia o CTGAS-ER e o ISI-ER, principais referências do SENAI no Brasil, respectivamente, em educação profissional e Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) com foco em energias renováveis e sustentabilidade, incluindo novas tecnologias como o hidrogênio sustentável. Além disso, o SENAI disponibilizou a todas acesso gratuito ao chamado “Combo de Energia Solar”, do CTGAS-ER, com cursos 100% EAD com carga horária entre 20 e 30 horas e bolsa de estudo para cursos técnico no SENAI na área.
O Meninas em Ação faz parte da ação coletiva Interligadas, uma iniciativa da Rede de Mulheres na Energia Solar (MESol). As atividades são desenvolvidas pelo Projeto Profissionais do Futuro, do Ministério da Educação (MEC) e da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Institutos Federais.
A estudante Giovana Gomes, de 16 anos, diz que viveu um momento único e agora está considerando trabalhar no setor de energias renováveis. “A minha experiência foi incrível! Obtive muitos conhecimentos no fórum de energias renováveis e nas atividades práticas no SENAI. Nunca tinha visto nada daquilo e me surpreendeu bastante”, lembra.
Energia que se renova
Mesmo quem já atua na área ou escolheu o mercado de energias renováveis para se especializar, conta que a ação foi transformadora.
A estudante Nathalia Ferrazoni, de 25 anos, já estuda Engenharia de Energia em um Instituto Federal do Rio Grande do Norte e disse que a experiência foi um propulsor para continuar nesse caminho. “Sem dúvidas o momento que mais me marcou foi o encontro com as profissionais que já atuam na área. Não consegui segurar a emoção ao ver mulheres que vencem barreiras e entram nesse mercado que é predominantemente masculino. É lindo e inspirador!”, lembra.
Já Ana Carolina do Nascimento, de 22 anos, que hoje trabalha em uma empresa de perfuração de poços de petróleo, fazendo manutenção, instalação de sensores e acompanhamento de dados, foi uma das convidadas pelo Meninas em Ação para ser palestrante.
Ela decidiu seguir na área de energias renováveis quando estava no ensino médio, entre 2015 e 2017. Na época, participou de um workshop organizado pelo SENAI e a GIZ, que já se mobilizavam em torno da pauta da equidade de gênero. “Foi uma experiencia incrível porque há uns anos eu estava ali sentada, passando por aquela experiência, e agora estou do outro lado. Então para mim foi maravilhoso. Se eu fosse resumir em duas palavras o que o SENAI e a GIZ fizeram na minha vida, seria: ‘momentos inesquecíveis’”, rememora.
Mais mulheres, por favor!
Uma pesquisa da Global Women´s Network for the Energy Transition (GWNET) mostra que uma força de trabalho diversa promove, não apenas melhores resultados em termos de aumento de criatividade e potencial de inovação, mas também em relação à melhores tomadas de decisão e maiores benefícios econômicos. Portanto, considerar a diversidade de gênero e a inclusão é crucial no processo de transição energética.
Essa meta, no entanto, ainda está longe de ser alcançada. Dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena) indicam que as mulheres ocupam apenas 32% dos empregos relacionados às energias renováveis no mundo, setor que tem previsão de gerar até 42 milhões de empregos em escala global até 2050.
Um dos propósitos estabelecidos pelo Meninas em Ação é, até o final de 2023, elevar de 7% para 20% o número de mulheres formadas em cursos de formação profissional técnica nos SENAIs do país e nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs).
Ensinar para contratar
Caroline Dutra lembra que foram feitas entrevistas com algumas indústrias para entender a posição dos gestores sobre a equidade de gênero e que todos os gestores ouvidos disseram que tem interesse em chegar a uma equipe formada por 50% de mulheres.
“Só que isso é impossível atualmente, porque só temos 7% de mulheres se formando em cursos da área. A conta não fecha. Ou seja, temos que começar nas escolas para mudar esse setor”, conclui a engenheira eletricista.
A assessora de Mercado e Projetos do SENAI-RN, Amora Vieira, que lidera ações de diversidade na instituição, explica que é justamente esse o papel do SENAI no programa.
“A nossa intenção é abrir as possibilidades para que elas percebam que o SENAI pode ser um caminho. A ideia é mostrar a elas o que é esse mercado e as oportunidades que existem nele”, resume.
Como participar?
A diretora executiva da Mais Argumento, Fabiana Dias, responsável por conduzir os cursos com as participantes, explica que o Meninas em Ação é um projeto coletivo voluntário e um convite para que empresas do setor interajam com a causa da equidade de gênero.
“Existe uma série de iniciativas que podem ser propostas e as empresas são livres para sugerir: desde uma ação afirmativa de gênero no processo seletivo da companhia, até um programa de mentoria pensado especificamente para mulheres, por exemplo.”
Até o momento, mais de 50 empresas e profissionais participam das ações. Para entrar na rede, os interessados devem preencher um formulário online disponível no site da MESol. Quem entrar para o time, além de contribuir para as metas do programa, ganha o Selo de Compromisso Interligadas.
Depois do projeto piloto no Rio Grande do Norte, o Meninas em Ação vai passar por outros quatro estados, de modo que o programa contemple todas as regiões do país até o final de 2023. As ações serão desenvolvidas no SENAI dos estados ou em Institutos Federais.