A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a parceria entre o Brasil e a União Europeia nunca esteve tão forte e ainda tem um potencial enorme a ser explorado, e que este é o momento para dar impulso. A declaração foi feita nesta segunda-feira (12), ao lado do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, durante a conferência O Futuro da Parceria União Europeia-Brasil. O encontro com o setor privado foi realizado pela Delegação da UE no Brasil e pela CNI, no espaço de Arte, Ciência e Tecnologia SESI Lab, em Brasília.
“Eu vim ao Brasil logo na minha primeira escala na América Latina. Nossas regiões têm laços fortes. Mas não temos tirado todo o proveito desse potencial. Juntos, devemos combinar nossas forças para defender interesses comuns e encontrar soluções para enfrentar os desafios comuns”, afirmou von der Leyen.
Além de abordar temas comuns como a digitalização e a transição energética, a presidente da Comissão Europeia manifestou o grande interesse na conclusão do Acordo Mercosul-UE o quanto antes, destacando que os dois blocos já são parceiros comerciais muito próximos e que há muitos fatores que ainda limitam a relação bilateral.
“Há duas décadas debatemos esse acordo, que é o maior e mais ambicioso negociado por ambas as partes. Estamos perto da linha de chegada e este é o momento de cruzá-la. Eu e o presidente Lula nos comprometemos a concluir este acordo o mais rápido possível. Sabemos que ele vai dar às nossas empresas mais benefícios, vai atrair mais investimentos e tornar nossas cadeiras mais integradas e competitivas. O acordo não será o fim de vinte anos de negociação, será o novo capítulo em nossa relação comercial e de amizade”, disse a presidente da Comissão Europeia.
Para indústria, acordo Mercosul-União Europeia é a melhor oportunidade para aprofundar parceria
A importância do acordo também foi destacada pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. Para o setor empresarial brasileiro, o tratado é a melhor oportunidade para aprofundar a parceria entre o Brasil e a UE, considerada fundamental para a promoção conjunta da indústria e para o fortalecimento das relações econômicas, comerciais e políticas, e ajudar a economia brasileira a se inserir, de maneira pragmática e competitiva, no concorrido mercado internacional.
“O acordo é um instrumento eficiente para incrementarmos nossa parceria e criarmos um ciclo virtuoso de ampliação do comércio, dos investimentos e do emprego nos dois blocos. Nós defendemos a conclusão formal do texto acertado em 2019, sem reabertura das negociações. A entrada em vigor do tratado contribuirá para a diversificação dos nossos parceiros comerciais, um aspecto cada vez mais importante no contexto mundial, e também ajudará a reverter a crescente perda de participação da indústria nas exportações brasileiras”, declarou o presidente da CNI.
A integração dos dois blocos é crucial porque o Brasil e a União Europeia têm perdido relevância mútua em suas relações comerciais. Em 2001, o Brasil era o oitavo parceiro comercial extrabloco da União Europeia, e vinte anos depois a economia brasileira caiu para a 13ª posição entre os parceiros mais importantes do bloco. No mesmo período, a UE recuou da primeira para a segunda posição entre os parceiros comerciais brasileiros, perdendo fatias do mercado para o território chinês.
Acordo entre os blocos econômicos promove agenda de sustentabilidade
O tratado entre o Mercosul e a União Europeia também conta com um arcabouço institucional moderno que extrapola as questões econômicas e promove ações concretas na agenda de desenvolvimento sustentável - uma das prioridades da indústria brasileira.
As indústrias brasileiras têm compromisso com os princípios de governança ambiental, social e corporativa (ESG) e com a descarbonização da produção, e tem feito investimentos significativos em práticas ambientalmente corretas, socialmente justas, e em sistemas de governança corporativa eficientes e inclusivos.
Indústria é parte vital da solução de desafios contemporâneos
O presidente da CNI enfatizou a capacidade de contribuição da indústria, de forma decisiva, para desenvolver soluções eficazes para os desafios que estão cada vez mais presentes no cenário global atual, provocados pelas tensões geopolíticas, pela emergência climática, pelos choques macroeconômicos e pelo avanço da digitalização.
Diante da atual conjuntura, as nações mais desenvolvidas têm adotado políticas robustas de apoio à indústria, reconhecendo a importância do setor e o papel da inovação e da transição energética para o enfrentamento de desafios e para o desenvolvimento econômico e social.
A União Europeia, por exemplo, tem um programa de apoio às cadeias produtivas domésticas e à descarbonização da produção que envolve investimentos de cerca de 662 bilhões de euros. Nos Estados Unidos, esses planos alcançam pelo menos 700 bilhões de dólares.
“No Brasil, desafios específicos da nossa economia tornam ainda mais necessária e urgente a implementação de uma estratégia consistente de revitalização do setor industrial. Esse é o caminho mais adequado para o país incentivar os investimentos e a produtividade das empresas e promover o crescimento sustentado e o bem-estar da população. Por essa razão, a CNI lançou, recentemente, o Plano de Retomada da Indústria”, mencionou Robson Braga de Andrade.
Painel debateu desafios e oportunidades de negócios entre Brasil e Europa
Além da abertura com a presidente da Comissão Europeia e o presidente da CNI, a conferência contou com um painel de debate das prioridades, oportunidades e desafios para a parceria estratégica entre a União Europeia e o Brasil, principalmente diante da nova realidade geopolítica do mundo. Participaram da discussão a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri; a CEO da Bayer Brasil, Malu Nachreiner; e o vice-presidente global de relações institucionais da Embraer, José Serrador. O diálogo foi mediado por Creomar de Souza, CEO da Dharma Politics Risk and Strategy.
O Acordo Mercosul-UE também foi pauta no debate entre os painelistas. Constanza Negri enfatizou que a perda de relevância da indústria brasileira nos últimos anos foi significativa - o setor já representou 48% do PIB e hoje representa 24% -, e que este cenário pode ser revertido com a entrada em vigor do tratado entre os blocos econômicos.
“O acordo contribuirá para a diversificação do que vendemos internacionalmente e para quem vendemos. A oferta da UE cobre cerca de 91% do universo tarifário e das exportações brasileiras de 2022 ao bloco, e 90,6% de todos os produtos que vão entrar, de imediato, com tarifa zero na UE, correspondem a bens industriais. Esse ganho de acesso a mercados é fundamental quando consideramos, também, que a rede brasileira de acordos em vigor compreende 8% de todas as importações mundiais. Se o Acordo já estivesse em vigor, estimamos que o valor saltaria para 37%, alavancando a integração internacional da nossa economia”, explicou a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI.
Setores privados pedem conclusão do acordo
Em declaração conjunta divulgada na manhã desta segunda-feira (12), a CNI e a Confederação das Empresas Europeias (BusinessEurope) celebraram a aproximação que a agenda com a União Europeia promove e manifestaram apoio ao Acordo Mercosul-UE.
As instituições destacaram que, ao estabelecer uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, que cobriria quase um quarto da economia global e 31% das exportações mundiais de bens, o acordo proporcionará benefícios concretos para ambos os blocos, inclusive no sentido de atingir a neutralidade climática.
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Declaração Conjunta - CNI - Business Europe.pdf (154,7 KB)