A indústria brasileira reagiu de forma rápida e efetiva às necessidades impostas pelo novo coronavírus, mas é necessária uma agenda de política pública voltada à produção local no mundo pós-pandemia, afirmaram participantes de bate-papo da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) realizado, nesta quinta-feira (25), no Youtube e no LinkedIm da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A avaliação é que o Brasil terá de voltar a produzir internamente não apenas medicamentos e itens de proteção à saúde, mas insumos e componentes de outras áreas estratégicas para evitar a dependência de produtos importados.
O diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, avaliou que é preciso alterar o arcabouço institucional brasileiro e a legislação em algumas áreas para fortalecer a produção nacional. “Teremos de repensar as agências reguladoras, a Lei de Informática com um enfoque mais forte para a produção industrial brasileira, tendo uma agenda com maior ambição para a produção local”, avaliou ele, durante o bate-papo.
“Será preciso ‘carregar tinta’ em fontes de recursos, que estejam nas agências reguladoras, na agenda de política pública para fazer política industrial com evidências e fortalecer a estrutura de agregação de valor no Brasil”, defendeu.
O entendimento é que, por precaução, as cadeias de suprimento longas, com fornecedores estrangeiros prontos a entregar insumos e baixos estoques dará lugar a cadeias mais curtas, nacionais. “Durante muitos anos, as indústrias e os países privilegiaram a eficiência sobre a resiliência, com cadeias muito longas de suprimento e concentração de determinados insumos por competitividade. A discussão será de encurtamento dessas cadeias e políticas públicas que tragam de volta indústrias ou cadeias de valor que hoje estão fora”, analisou o diretor global de Inovação e Tecnologia da Braskem, Gilfranque Leite.
Além do custo, fatores como a proximidade vão ditar as decisões de negócio das empresas. “Outros fatores que não apenas a lógica de mercado serão relevantes, como a existência de infraestrutura muito perto da indústria apoiando a indústria com inovação aberta”, acredita Rafael Lucchesi.
Embrapii negocia novo modelo de atuação com startups
Nesse sentido, a rede de 27 de Institutos SENAI de Inovação e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) demostraram, durante a pandemia, que são estruturas essenciais para a indústria no mundo pós-Covid, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Ultrapar, Pedro Wongtschowski, um dos líderes da MEI.
“Os Institutos SENAI de Inovação têm tido um papel muito importante de disseminar o conhecimento por todo o parque industrial brasileiro e o modelo Embrapii se revelou um grande sucesso pelo enorme número de projetos já executados, pela demanda de pesquisa por parte do setor industrial e principalmente pela melhoria do padrão das unidades Embrapii”, avaliou ele, durante o bate-papo, do qual foi mediador.
O diretor-presidente da Embrapii, Jorge Guimarães, contou que a empresa já está trabalhando em um novo modelo de atuação, com ênfase na atuação colaborativa entre startups e grandes empresas, a fim de atender às necessidades do mundo pós-Covid. Segundo ele, está em negociação com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações projeto para retomada da economia com foco na nacionalização de componentes. A proposta, inspirada no programa Rota 2030, vai prever que, para realizar projetos com a Embrapii, uma grande companhia deve estar associada a uma pequena empresa ou startup.
“As nossas 56 unidades estão prontas para isso. Teremos projetos mais colaborativos, especialmente no caso de pequenas e médias empresas, e adotando um ciclo completo para o apoio às startups, em toda a faixa de demanda operacional: prova de conceito, produção de lotes-piloto, certificação e homologação, propriedade intelectual, incumbação e aceleração de startups”, anunciou Guimarães.
Segundo o presidente da Embrapii, a empresa também está apostando nas tecnologias da chamada Indústria 4.0, especialmente nos segmentos em que o Brasil tem grande déficit na balança comercial: química, nanotecnologia e biotecnologia.
SENAI prestou apoio à indústria têxtil para produzir mais EPIs
Os dirigentes das instituições também apresentaram iniciativas que foram adotadas para enfrentar a pandemia de Covid-19. O SENAI prestou apoio, por exemplo, à indústria têxtil para reconversão de plantas industriais a fim de fabricar equipamentos de proteção individual (EPIs) e realizou projetos inovadores que geraram patentes, como novo espessante para produção de álcool em gel.
Segundo Jorge Guimarães, a resposta imediata aos desafios impostos pelo coronavírus ocorreu porque a organização já estava preparada. Do portfólio da Embrapii, por exemplo, 110 projetos (12% do total) são na área médico-hospitalar. “Entramos na crise com uma vantagem enorme de já ter unidades com experiência, empresas que entendiam qual era a necessidade mais urgente, o que põe um contraponto em um setor em que o Brasil está bastante fragilizado, que é o setor da biologia e da biotecnologia de saúde”, analisou.
A Indústria contra o coronavírus: vamos juntos superar essa crise
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