A indústria da construção civil é considerada o termômetro da economia brasileira devido aos seus encadeamentos produtivos. A relação de interdependência econômica da construção civil com os demais setores da economia brasileira proporciona uma relação com o nível de emprego. Isto é, em momentos de aquecimento econômico, há geração de mais empregos, enquanto em momentos de retração econômica muitos postos de trabalho são perdidos. Além disso, a oferta e a demanda no setor geram encadeamentos produtivos nos mais variados setores, desde o setor de siderurgia até a prestação de serviços imobiliários ou de serviços financeiros.
No segundo trimestre de 2019, mesmo com a economia estagnada, a Construção Civil foi um dos únicos segmentos que cresceu algo em torno de 2%, no Brasil. O presidente do Sindicato da Sindicato da Indústria da Construção e do Mobiliário do Estado da Paraíba – SINDUSCON – PB, Hélder Campos, foi entrevistado nesta quinta-feira, 05/09, na rádio CBN Campina Grande, onde apresentou um panorama do Setor da Construção Civil na Paraíba.
“O setor da Construção Civil atravessa uma dificuldade em decorrência dessa crise que estamos vivenciando em nosso país. Porque quando se vai comprar um imóvel, o propenso cliente ele tem que ter uma responsabilidade, uma vez que ele está fazendo um investimento a longo prazo. Então esse comprador tem que ter uma segurança, tem que ter confiabilidade que vai estar bem no emprego, que vai assumir aquele compromisso é que conseguirá honrar aquelas prestações, para sair do aluguel e realizar o sonho da casa própria”, comentou Helder.
Helder falou que em meio a incerteza econômica, o setor da Construção Civil apresentou um pequeno crescimento este ano. “Em 2010, tivemos um crescimento do Produto Interno Bruto - PIB da ordem de 7,5%, e de lá para cá a gente vem perdendo esse crescimento do PIB. Temos uma sinalização de que esse ano, o único setor da indústria brasileira que ascendeu, teve um pequeno crescimento foi a Construção Civil, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria - CNI apresentados no último dia 28 agosto, referentes ao segundo trimestre de 2019, crescemos 2% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas mesmo assim continuamos com um estoque reprimido de alguns tipos de imóveis, de vários padrões, e quando eu falo isso, estou me referindo, a uma realidade de Campina Grande, da Paraíba e do Brasil de uma forma geral. Esse cenário é genérico, agora o Estado de São Paulo já vem pontuando uma certa melhora. E onde é que agente vê a sinalização de um crescimento no setor, são nos lançamentos, quando você tem lançamentos, agente já visualiza o crescimento, porque quando há o lançamento vai haver a comercialização, justificou.
Outro problema que tem afetado o setor é o atraso nos subsídios repassados pelo Governo Federal para o Programa Minha Casa Minha Vida, explicou o presidente do SINDUSCON-PB.
“Hoje estamos enfrentando um problema sério que são os repasses, por parte do Governo Federal, na questão dos subsídios. Vamos falar da habitação popular, porque hoje, o Programa Minha Casa Minha Vida detém 2/3 do Mercado Brasileiro, para entendermos a importância do Programa. No Minha Casa Minha Vida temos a faixa I, que são aqueles imóveis populares, como aqueles do Complexo Habitacional Aluízio Campos, que já estão prontos, e que receberam o subsídio do governo. Mas há 90 dias, o Governo não repassa o subsídio para as construtoras que trabalham com a Faixa 1,5, a Faixa 2, e a Faixa 3. No momento estão sendo feitos pela Caixa Econômica Federal, apenas financiamentos pela linha de crédito FGTS e SBPE que é feito com recursos oriundos da Poupança, para um público de renda maior, da classe média e alta.
“Em relação ao Minha Casa Minha Vida hoje até existe o financiamento, só que o Governo não está liberando a contrapartida dele, para liberar os financiamentos. Exemplo se eu for comprar hoje um imóvel no valor de R$ 120 mil, e pelo meu perfil tenho R$ 20 mil de subsídio, então eu iria financiar só os R$ 100 mil, o restante o governo deveria aportar, e a Construtora receberia o valor total de R$ 120, mas o problema é que o Governo não está fazendo a parte dele, não está liberando o subsídio, e com isso está inviabilizando as vendas, porque há uma reprovação nos cadastros dos clientes, e sem recursos, surgem mais dificuldades, o que acaba trazendo um prejuízo para o setor”, afirmou .
Enquanto isso, segundo Helder, os empresários estão aguardando a regularização, e muitas construtoras já estão suspendendo as atividades.
“O Governo vem sinalizando, prometendo a cada semana fazer o descontigenciamento de um Ministério para o outro, então estamos no aguardo. Mas está uma situação realmente incontrolável, principalmente para as empresas que estão construindo imóveis da Faixa I, que possuem grandes medições, grandes volumes de recursos, e as empresas não estão recebendo recursos, o que tem causado a paralisação de muitas construtoras, outras colocando os trabalhadores em Aviso Prévio, porque infelizmente não tem recursos, tem empresas que fizeram acordo com o Sindicato Laboral para suspender temporariamente os Contratos de Trabalho em decorrência desse cenário”, disse.
O dirigente do SINDUSCON- PB comparou o volume de recursos que o Programa Minha Casa Minha Vida perdeu ao longo dos últimos anos.
“Tivemos um aporte financeiro em 2017 de R$ 5,8 bilhões, em 2019 de R$ 4,6 bilhões e para 2020 estão previstos apenas R$ 2,7 bilhões, ou seja, é um redução enorme, um problema sério. Se esse ano os R$ 4,6 bilhões estão sendo insuficientes, já estão esgotados, imaginemos no próximo ano com essa demanda reprimida, com recursos em atraso. Em anos anteriores tínhamos investimentos da ordem de R$ 10 a R$ 11 bilhões ano, então mostra como o setor vem declinando ano após ano, por falta de políticas públicas, recursos oriundos do governo que deveriam ser aportados na Construção Civil”, ressaltou.
Durante a entrevista Helder falou também sobre as mudanças no perfil dos empreendimentos e dos clientes da Construção Civil. E reforçou que investir em imóveis é sempre uma alternativa rentável, desde que seja algo planejado.
“Percebemos que muitas pessoas estão migrando para casas em condomínios, e tivemos vários lançamentos nos últimos meses desse novo conceito de moradia que é voltado para o perfil da classe média e alta. Eu diria que investir em imóvel sempre é favorável, agora depende do perfil do cliente que quer comprar o imóvel. A demanda sempre vai existir, quando se tem a procura. Evidente que fabricamos demais, e ouve uma queda na procura, por conta do atual cenário, mas pelo fato de deixarmos de lançar novos produtos, os imóveis foram desovando, e com isso ouve uma procura por novos projetos, que estão mudando também, porque o perfil do comprador vem mudando, em decorrência de que as pessoas estão casando mais tarde, estão diminuindo o número de filhos, muitas não querem ter filhos, e estão procurando apartamentos com melhor localização, menores que ficam nas proximidades do centro das cidades. Porque hoje, esse novo perfil de investidores, quer compartilhar, não está mais apegado àquela situação de que essa cozinha aqui do meu apartamento, não, hoje temos prédios com uma torre com suas suítes, e um ambiente compartilhado com salas de TV,coworking, cozinha e espaço gourmet. Então isso é uma tendência em ambientes residenciais. Eu diria que o imóvel será sempre o melhor investimento, desde que comprado numa área bem localizada e de uma construtora de credibilidade”, finalizou.