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Receita para inclusão: programa Cozinha & Voz capacita pessoas trans

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 21 de julho de 2023

Conheça a ação do SENAI, da OIT e do MPT, que transforma a vida de pessoas trans e promove diversidade no mercado de trabalho


O programa Cozinha & Voz é a porta de entrada para o mercado de trabalho na vida de pessoas trans

Em um país com recordes de homicídios de pessoas trans, ter acesso à educação muitas vezes pode parecer uma realidade distante. É para contribuir com a construção de novas possibilidades de futuro que nasceu o “Cozinha & Voz”, projeto do Programa de Ações Inclusivas do SENAI (PSAI).  

O nome “Cozinha & Voz” é dividido em duas frentes: o curso na área da Alimentos e Bebidas e o foco em comunicação e expressão. E o motivo? Um dos maiores desafios das pessoas trans é a comunicação e autoestima. Por isso, trabalhar conceitos de oratória e confiança são essenciais na vida das alunas e alunos. 

As cores da educação: inclusão e diversidade segundo as alunas transexuais do SESI e SENAI 

O dado da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostra que apenas 4% da população trans estão em empregos formais. É por isso que o PSAI atua não apenas na aprendizagem das pessoas desse grupo, mas também na inserção dentro do ambiente profissional, no pós-contratação e na permanência dessas pessoas nos empregos.  

O “Cozinha & Voz” é um projeto para promover oportunidades e acesso para todos, com liberdade, equidade, segurança e dignidade. Uma ação desenvolvida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo Ministério Público do Trabalho (MPT e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com parceria da Casa Poema e da chefe de cozinha Paola Carosella.  

Até o momento, 108 pessoas trans e travestis foram formadas e capacitadas pelo "Cozinha e Voz".


"O projeto é uma iniciativa do PRIDE - Promovendo Direitos, Diversidade e Igualdade no mundo do trabalho, projeto iniciado na OIT que, por meio do desenvolvimento de capacidades profissionais e de habilidades socioemocionais, promove o trabalho decente e a inclusão", explica a Gestora do Programa SENAI de Ações Inclusivas, Suzana Figueiredo. 


Depois do projeto, as pessoas formadas são acompanhadas pelo Instituto + Diversidade e pela Rede Cidadã, que facilitam a formação continuada e orientada ao mercado de trabalho e a busca ativa de potenciais empregadores. 


Camila Almeida, coordenadora de projetos da OIT e do projeto PRIDE, explica que o programa é orientado a impulsionar a inclusão de pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social no mundo do trabalho. A ação que se originou em 2017 está dividido em duas partes:


"O componente 'Cozinha' é uma forma de oferecer qualificação profissional em uma área onde há demanda de mercado e  com possibilidades de acesso com requisitos básicos. Já o componente voz é uma abordagem para trabalhar autoestima e combater os efeitos da discriminação que atravessam esses grupos historicamente excluídos", explica Camila. 


Um cenário difícil, mas que pode ser mudado! 

Falar de diversidade e inclusão na comunidade trans é encarar uma difícil realidade: o Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas transexuais no mundo pelo décimo quarto ano consecutivo*. Além dos altos índices de violência, as pessoas trans ainda lidam com exclusão socioeconômica, falta de acesso à escolaridade e discriminação social. 

Victor Almeida, 24 anos, foi um dos alunos que participaram do programa. Mesmo não atuando no setor de alimentos atualmente, explica que o curso abriu portas para conhecimento e novas amizades.  


"O programa melhorou minha vida em 100%. Tudo que aprendi nas aulas de cozinha e poesia consigo colocar em prática na minha vida profissional e pessoal", afirma Victor. 


O jovem relembra também que, por morar numa comunidade pequena do Rio de Janeiro, a Vila do João, não conhecia outras pessoas trans. Estar sempre no meio de pessoas cisgênero era algo que o incomodava.  

"O programa me deu a oportunidade de conhecer outros alunes e ter o primeiro contato próximo com pessoas trans. Estava dentro de um ambiente de acolhimento, em uma das melhores instituições, que é o SENAI", conta.  

Além de aprenderem conceitos práticos e teóricos, os alunos do programa desenvolvem competências socioemocionais

Minha voz também importa!  

O componente “Voz” do programa é coordenado pela atriz e professora Geovana Pires. Nesta parte, o programa traz oficinas, onde os alunos e alunas, por meio das poesias, podem desenvolver e aperfeiçoar comunicação interpessoal, inteligência emocional e comunicação no contexto profissional.  

"A poesia age como uma ferramenta de ensino para o exercício da cidadania. O componente VOZ é uma forma de potencializar a voz de cada pessoa, com um trabalho de autoconhecimento e autoestima", afirma Geovana.  

Por mais diversidade no trabalho: conheça o guia do Programa SENAI de Ações Inclusivas. 

A poesia possibilita "ser o que a gente é", como diz a Pires. O aluno olha o poema e consegue traduzir sentimentos e emoções. A partir disso, são trabalhados componentes comportamentais: como falar? Como ter melhores diálogos? Como colocar a fala a seu favor? Além de evitar comportamentos de baixa autoestima, por exemplo o de abaixar a cabeça quando está falando.  

"É um despertar para a vida dessas pessoas. Estamos atuando com alunos que têm medo de se expressarem e de serem vistos. Nossa missão é romper barreiras e traumas. É fazer com as pessoas trans entendam que podem 'ser e fazer' o que quiserem", afirma Pires, que também é uma das coordenadoras pedagógicas e idealizadoras do componente Voz do programa.   

Dentro da cozinha, um mercado de oportunidades 

Criado em 2017, o "Cozinha & Voz" atua na formação técnica e profissional das pessoas trans, que estão fora do mercado de trabalho e/ou em situação de exclusão socioeconômica. Desde então, o programa passou por muitas mudanças e ganhou cara nova em 2022, com a entrada do SENAI no projeto!  

A parceria da Paola Carosella resultou na formação de um currículo profissional básico para o curso de Assistente de Cozinha. Outros nomes também foram importantes, como o das convidadas Neide Rigo e Fernanda Cunha, também chefes de cozinha. 

A grade curricular tem o propósito de incluir pessoas de baixa escolaridade, com ensino fundamental incompleto. A escolha pela culinária foi trazer um certificado para uma profissão digna, com salários acima da média e oportunidade de crescimento. 

Desde 2017, o Cozinha & Voz passou por diversas etapas e agora está crescendo pelo país

Do Sudeste para o Brasil todo!  

O "Cozinha & Voz", em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), foi inaugurado em 2022, com duas turmas no Rio de Janeiro, dentro da unidade Tijuca. Em 2023, o projeto seguiu para o ABC Paulista, com três novas turmas no curso de Assistente de Cozinha. Atualmente, o programa é voltado para toda a comunidade LGBTQIAPN+, com foco prioritário na população trans e travesti. 

SENAI-ES abre turmas de eletricistas exclusivas para pessoas trans 

Neste mês de julho o programa alcançou novos horizontes no Pará e no Amapá. Uma nova turma já começou em Belém (PA), na segunda-feira, 17 de julho, e conta com 25 participantes. Para saber mais sobre o andamento das aulas e tirar dúvidas, é só acessar o site do SENAI-PA.  A turma do Macapá (AP) vai começar nesta segunda-feira, 24 de julho. 

Um grande nome da cozinha abre as portas para a diversidade 

Ações como essas ajudam a mudar um cenário brasileiro que desfavorece minorias, além de conectar novos talentos com grandes nomes do mercado. No evento de lançamento do "Cozinha & Voz", em 2022, Paola Carossella afirmou que quer "fazer com que todas as pessoas se sintam acolhidas e possam ter ferramentas e oportunidade para crescer profissionalmente".  

A ideia é construir um caminho para mudar o cenário atual. Só em 2022, segundo dados do dôssie da Antra, 131 pessoas trans foram assassinadas no país. E dentro da educação o cenário também não é dos melhores. De acordo com o levantamento da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, 82% das pessoas trans largam o ensino médio, entre 14 e 18 anos.  

Outro dado, da pesquisa “Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: Por que frequentam?”, mostra que 19,3% dos alunos de escola pública não querem ter um colega travesti, transexual ou transgênero nas salas de aula. O estudo ouviu 8,2 mil estudantes, de 15 a 29 anos no ano letivo de 2013.  

O "Cozinha & Voz" promove, além das aulas com a Paola, sessões de acolhimento emocional e workshops com especialistas do mercado. No final do curso, Paola empregou os cinco melhores cozinheiros nos seus restaurantes.  

* Relatório divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). 

Confira, a seguir, o vídeo de abertura do programa:

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