A indústria brasileira quer ampliar o número de projetos do setor privado apoiados pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) no Brasil, que hoje correspondem a 26% da carteira de projetos no país. Em encontro de mais de uma hora, o presidente eleito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, e a presidente do NDB, Dilma Rousseff, conversaram sobre linhas prioritárias de financiamento para projetos com impacto na indústria nacional. O diálogo foi em Joanesburgo, África do Sul, às vésperas da cúpula do Brics - encontro anual do bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Durante o encontro, os três eixos de maior destaque foram: infraestrutura, com foco principalmente nas obras do PAC (recém-lançado); energias limpas, renováveis e sustentáveis e, por último, projetos que tenham impacto com desenvolvimento social.
“O Brasil carece de linhas de financiamento competitivas. O custo desses recursos é alto, o que não acontece no caso da China. A CNI defende uma nova estratégia para desenvolver a indústria brasileira, com propostas aderentes às áreas de atuação do banco, como descarbonização industrial; energia limpa e eficiência energética; infraestrutura de transporte; e infraestrutura digital”, afirmou Alban. Ele toma possa como presidente da CNI em outubro.
Indústria da construção precisa ser revitalizada
Dilma e Alban concordaram a respeito da necessidade e da urgência de se ter um programa para revitalizar a indústria da construção pesada, que respondeu por grandes obras no país e hoje são importantes para tocar obras no novo PAC.
“O Brasil perdeu muito com o impacto nas grandes construtoras. Atualmente, quase não temos mais empresas de grande envergadura que possam tocar obras grandes e importantes para o país”, comentou Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil.
Dilma explicou a Alban que projetos em busca de financiamento pelo NDB precisam chegar bem estruturados do ponto de vista técnico para poder “disputar” os recursos do banco. Em média, a tramitação entre a apresentação do projeto e a liberação do financiamento dura seis meses.
Economia sustentável é inata ao Brasil, diz Alban
Para Alban, é necessário encontrar as melhores alternativas para financiar projetos envolvendo energias limpas e sustentáveis.
“O Brasil tem esta vocação naturalmente - seja pela nossa matriz energética limpa ou pela rica biodiversidade. Somos candidatos inatos à economia sustentável. O Brasil não pode perder a janela de oportunidade da economia verde e sustentável para desenvolver projetos”, completa Alban.
A presidente do NDB reforçou a importância de dar condições para que as indústrias brasileiras consigam aumentar investimentos e atender demandas de infraestrutura e de inovação.
Dilma Rousseff fez um balanço dos projetos brasileiros até o momento. O Brasil já apresentou 30 projetos - 21 aprovados e os demais em tramitação - que somam US$ 9 bilhões em recursos ofertados pelo banco.
Das 21 operações em andamento, 73% têm garantias soberanas. O Nordeste é a região com o maior número de projetos (9), seguido pelo Sudeste (6).
Projetos devem prever interesses comuns ao bloco
Na conversa, Alban disse que tem consciência de que há grande disputa, mas recursos limitados no banco. Por isso, segundo ele, é necessário que a indústria brasileira trabalhe na busca de convencimento e apresente melhores projetos que possam conversar com interesses comuns a outros integrantes do BRICS.
“É interessante que possamos trabalhar juntos, governo e iniciativa privada, para que sejamos pragmáticos nas decisões e conseguirmos as melhores entregas para promover desenvolvimento e crescimento social”, completa Alban.
O que é o Novo Banco de Desenvolvimento? (NDB)
Criado em 2014, o NDB mobiliza recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países membros do Brics. Ao todo, já foram aprovados 94 projetos em operações de crédito nos cinco países do grupo, com um total de US$ 32 bilhões.
A CNI cedeu, na forma de comodato, espaços em Brasília e São Paulo para os escritórios do NDB no Brasil. A presença do banco no território brasileiro, desde 2019, foi essencial para aumentar a carteira de projetos no país. Em 2018, havia US$ 600 milhões e, atualmente, são US$ 6.2 bilhões.
Durante a pandemia de Covid-19, o NDB atuou excepcionalmente na área social e de saúde, por meio de linha especial de crédito, que alocou US$ 2 bilhões para pagamento do auxílio emergencial em 2020 e para repor recursos do fundo garantidor de crédito de auxílio emergencial em 2023.