São Paulo é o único cluster de ciência e tecnologia da América Latina e Caribe entre os 100 maiores do mundo, segundo a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI). Os critérios avaliados são o número de patentes internacionais depositadas – via Tratado de Cooperação de Patentes (PCT) – e artigos científicos publicados.
A maior cidade do Brasil ficou em 73º lugar, com 727 depósitos PCT entre 2019 e 2023 e 25.214 artigos entre 2018 e 2022. No ano passado, a capital paulista tinha ficado na 72ª posição. Lideram a lista cidades do leste da Ásia, em especial da China, e dos Estados Unidos.
O ranking dos clusters é uma prévia do Índice Global de Inovação (IGI), que será divulgado em setembro pela OMPI e parceiros, entre eles a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para o diretor de Inovação e Tecnologia da CNI, Jefferson Gomes, o desafio está em transformar a produção científica e tecnológica da academia em novos processos e produtos que chegam ao mercado.
“O ecossistema de São Paulo continua forte, com um corpo técnico altamente qualificado nas universidades e indústrias que mantêm esforços de inovação. Tanto que o reconhecimento como cluster é puxado pelas áreas da saúde e química, que seguem pujantes. Mas existe o desafio de conectar a produção acadêmica com o setor produtivo e superar o problema cultural de baixo investimento em inovação, por parte dos governos e das próprias empresas", alerta.
O levantamento da OMPI mostra que, entre os pedidos de patentes na capital paulista, praticamente metade (49%) são de: tecnologia médica (10%), química fina orgânica (8%), outras máquinas (8%), química molecular (6%), química de materiais básicos (6%), farmacêutica (6%) e manuseio (5%).
Já entre as publicações científicas da capital, os temas são: medicina clínica (13%), cirurgia (11%), biologia aplicada (10%), biologia fundamental (9%), ciências da natureza (8%), química (7%) e tecnologia (7%), que respondem por 65% das publicações.
“Os clusters de ciência e tecnologia estão entre os componentes-chaves para a inovação em qualquer economia. Ao reunir ciência, negócios e empreendedores, essas cidades ou regiões são capazes de construir um ecossistema que traduz ideias cientificas em impacto real,” afirma o diretor-geral da OMPI, Daren Tang.
Indústrias e universidades puxam a inovação
Divulgado nesta terça-feira (27), o ranking detalha, por cluster, as empresas com mais depósitos de patentes e as organizações com mais publicações. Veja:
Patentes
Foram 727 depósitos PCT entre 2019 e 2023, dos quais:
- Braskem: 65 (9%)
- Natura Cosméticos: 23 (3%)
- Dow Global Technologies: 17 (2%)
Artigos científicos publicados
Ao, todo 25.214 artigos publicados entre 2018 e 2022, dos quais:
- Universidade de São Paulo (USP): 12.762 (51%)
- Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): 2.898 (12%)
- Universidade Estadual Paulista (Unesp): 998 (4%)
A OMPI também divulga o ranking dos clusters por densidade populacional. Nesse caso, São Paulo, com 39 depósitos PCT e 1.355 artigos científicos por 1 milhão de habitantes nos últimos cinco anos, fica na 97ª posição.
Mais inovação no horizonte
Desde 2016, a OMPI divulga os clusters de ciência e tecnologia antes do lançamento do Índice Global de Inovação, ranking dos países com maior capacidade inovativa, que utiliza 80 indicadores, como contexto político, educação, infraestrutura e criação de conhecimento. O IGI será divulgado mundialmente em 26 de setembro.
O diretor da CNI lembra que, na última edição, o Brasil esteve entre as economias que tiveram maior salto de desempenho no Índice nos últimos quatro anos: subiu cinco posições, ficando com o 49º lugar. Por isso, ao analisar a posição de São Paulo como cluster, é preciso considerar outras variáveis.
"Temos que olhar para o Brasil do ponto de vista de competitividade. Existem países investindo fortemente em política industrial e em pesquisa e desenvolvimento em áreas estratégicas e isso deve servir de lição. Mas, olhando para dentro de casa, temos um cenário positivo, de novos polos de inovação e políticas relevantes, cujos resultados vão começar a aparecer nos próximos anos”, pondera Jefferson Gomes.
Entre os novos ecossistemas brasileiros, ele cita o Nordeste com energias renováveis, o Norte com bioeconomia e o Sul com tecnologia da informação. E, das políticas de inovação, o diretor da CNI destaca o Programa Mover, o Marco Legal das Startups, o Brasil Mais Produtivo e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), além das instituições de ciência e tecnologia (ICTs), como os Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia.