As tecnologias digitais da Indústria 4.0 permitem aumentar em 22%, em média, a produtividade de micro, pequenas e médias empresas. O resultado foi obtido no programa-piloto Indústria Mais Avançada, executado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) com 43 empresas de 24 estados. O projeto é o primeiro a testar no Brasil, em todas as regiões do país, o impacto na produção do uso de ferramentas de baixo custo, como sensoriamento, computação em nuvem e internet das coisas (IoT).
As empresas participantes já possuíam bom índice de produtividade antes do piloto, pois tinham passado pelo Brasil Mais Produtivo. O programa do governo federal, executado pelo SENAI, elevou em 52%, em média, a produtividade de três mil micro, pequenas e médias indústrias por meio de técnicas de manufatura enxuta (lean manufacturing). Após as duas etapas de atendimento de consultores do SENAI, as companhias aumentaram em 85%, em média, sua capacidade de produzir sem alterar o quadro de funcionários.
“O objetivo do SENAI com a experiência-piloto, chamada de Indústria Mais Avançada, é refinar um método de baixo custo, alto impacto e de rápida implementação, que ajude as empresas brasileiras a se inserirem na 4ª Revolução Industrial”, explica o diretor-geral da instituição, Rafael Lucchesi.
“A iniciativa do SENAI prova que a Indústria 4.0 é para todos: qualquer tipo de empresa, em qualquer estado do Brasil. O resultado nacional é relevante, e, principalmente, houve ganhos significativos para todas as empresas atendidas”, completa.
SENSORES – Os pilotos foram realizados entre maio de 2018 e outubro deste ano em empresas dos segmentos de Alimentos e Bebidas, Metalmecânica, Moveleiro, Vestuário e Calçados. Os especialistas do SENAI instalaram sensores, que coletam dados, e coletores, que os armazenam. Em seguida, as informações eram transmitidas para a plataforma Minha Indústria Avançada (MInA), que permite acesso aos dados de produção da máquina sensoriada. Por meio de tablets e celulares, os gestores podem acompanhar, em tempo real, o desempenho da linha de produção e, com isso, ter maior controle de indicadores do processo e antecipar-se a eventuais problemas.
As empresas da região Nordeste, com aumento médio de 28,2%, foram as que mais tiveram ganhos de produtividade com o Indústria Mais Avançada. A Japastel, pequena indústria de Salvador que produz massas para pastel e pizza, por exemplo, conseguiu elevar em 32,8% sua capacidade produtiva com uso de sensores na máquina de empacotamento de pizza. A empresa já havia alcançado ganho de 100% ao passar pelo Brasil Mais Produtivo. Ou seja, ao participar das duas etapas, a companhia mais que dobrou sua produção com o mesmo time de colaboradores e sem aumentar o custo.
“A tecnologia ajudou a otimizar o tempo e diminuiu o desperdício. Com isso foi possível aumentar o lucro, pois conseguimos utilizar melhor a matéria-prima”, explica Rose Fukuhara, dona da Japastel. Ela conta que hoje tem outra percepção do que é a Indústria 4.0. “Antes eu achava que o investimento seria muito alto”, diz ela. O equipamento instalado pelo SENAI em cada empresa custou até R$ 3 mil.
Os resultados do piloto também foram expressivos na região Centro-Oeste, com aumento médio de 22,44% em produtividade. Em seguida, estão empresas do Norte (22,29%), do Sudeste (18,42%) e do Sul (6,37%).
GANHO MÉDIO DE PRODUTIVIDADE POR REGIÃO
REGIÃO
AUMENTO MÉDIO
Nordeste
28,2%
Centro-Oeste
22,44%
Norte
22,29%
Sudeste
18,42%
Sul
6,37%
Em relação aos estados, as empresas do Piauí, do Rio Grande do Norte, do Acre e de São Paulo foram as que mais tiraram proveito da digitalização de sua linha produção.
O gerente-executivo de Inovação e Tecnologia do SENAI, Marcelo Prim, explica que as empresas que obtiveram maiores ganhos com as tecnologias digitais foram aquelas que utilizavam menos técnicas de gerenciamento da produção antes de participar do programa. “A técnica nova, ao ser introduzida em uma empresa que utiliza poucos métodos de gestão, proporciona um ganho maior em produtividade”, afirma.
Em relação ao segmento da empresa, Marcelo Prim explica que todas as áreas atendidas tiveram, em média, um ganho significativo de produtividade, porém, com pequenas diferenças em relação a quanto cada um conseguiu incorporar a nova tecnologia a seu processo produtivo. "Concluímos que o ganho de produtividade está mais relacionado com o quanto se aprende com o processo produtivo, e como esse aprendizado se transforma em ações concretas. Trata-se mais de uma ciência de dados e de capacitação de pessoas do que de automação de processos produtivos”, diz.
GANHO MÉDIO DE PRODUTIVIDADE POR SEGMENTO
SEGMENTO
AUMENTO MÉDIO
Moveleiro
23,91%
Alimentos e Bebidas
22,14%
Metalmecânica
17,8%
Vestuário e Calçados
16,87%
O gerente do SENAI explica ainda que as micro empresas foram as que mais se beneficiaram do uso inicial de tecnologias digitais. “É provável que tenha sido a primeira vez que a empresa parou para analisar seu processo produtivo e conseguiu compreendê-lo de uma forma ampla. Com isso os ganhos são imensos”, afirma. “Observamos que as tecnologias da Indústria 4.0 são uma grande oportunidade especialmente para a micro e pequenas empresas”, complementa Prim.
As grandes companhias não participaram deste piloto, pois foram selecionadas participantes do Brasil Mais Produtivo, programa direcionado a pequenos e médios negócios.
GANHO MÉDIO DE PRODUTIVIDADE POR PORTE DAS EMPRESAS
PORTE
AUMENTO MÉDIO
Micro
44,82%
Alimentos e bebidas
75%
Moveleiro
19,28%
Vestuário e calçados
10%
Pequena
23,23%
Metalmecânica
36,71%
Alimentos e bebidas
21,6%
Moveleiro
28,22%
Média
11,55%
Moveleiro
24,24%
Metalmecânica
11,5%
Alimentos e bebidas
10%
A análise dos resultados do programa-piloto também mostrou que a percepção do ganho obtido com a tecnologia é muito afetada pelo porte da empresa. As médias e grandes empresas tendem a investir em tecnologias da Indústria 4.0 para dar continuidade aos esforços de aumento de produtividade. Os micro e pequenos empresários, por sua vez, valorizam mais a agilidade permitida pelo sistema.
“O sistema permite aprender com o processo produtivo, diminuindo o tempo de resposta, tornando-o mais ágil e previsível. Garantir que aquilo que o empresário planejou será entregue nos prazos que ele combinou com o mercado traz um nível de competitividade maior para a pequena empresa e ela consegue se inserir mais facilmente nas cadeias de valor”, analisa Prim.
ESTÍMULO – O empresário Domingos Moreira Cordeiro, dono da 3A Alumínio, que produz portas e janelas de metal, é um dos que comemora tanto o aumento de 25% em produtividade quanto de organização do processo após o uso de tecnologias digitais. Na empresa de 90 funcionários, localizada em Taboão da Serra (SP), foram instalados sensores em quatro estações de trabalho que produzem folhas de alumínio.
“O benefício foi grande. Eu tive um ganho de produvidade e hoje consigo ver a performance de cada estação de trabalho em tempo real”, diz ele. A indústria já havia passado pelo Brasil Mais Produtivo, em 2017, quando conseguiu ganhos de 86% em seu sistema produtivo.
A experiência realizada pelo SENAI, a primeira com Indústria 4.0 da empresa, estimulou o empresário, que é engenheiro mecânico, a avançar nesse campo. Com a ajuda de sua equipe de Tecnologia da Informação (TI), ele desenvolveu um novo sistema que controla a saída do produto final, assim como as ordens de serviços em execução, o processo de montagem e o tempo-padrão de produção. Cordeiro conta que o teste com a tecnologia alterou sua percepção sobre o tema.
“Sou um aficionado por Indústria 4.0 e, quando eu comecei a pesquisar, eu achava que era coisa para grande empresa. Com o tempo, eu vi que essa percepção não era real, que eu podia implantar na minha empresa”, conta.
Em São Paulo, o piloto também foi realizado na Engedom Artefatos de Metais, indústria metalmecânica que produz utilidades domésticas. O trabalho ocorreu na área de lavanderia e metalurgia do varal de piso com abas. A tecnologia elevou em 50,41% a produtividade da empresa, que já estava com o processo organizado após ter passado pelo Brasil Mais Produtivo, quando tinha obtido ganhos de mais de 200%.