Quem mora no quilombo Pedra D"agua, na região da cidade de Ingá, distante cerca de 50 km de Campina Grande, sabe bem o que é dificuldade, num local de difícil acesso, onde as oportunidades parecem distantes, e onde a preocupação mais latente é com a sobrevivência, garantida através da agricultura e da produção do artesanato.
E neste cenário, de terrenos íngremes, que abrange aproximadamente 132,4 hectares onde vivem 101 famílias remanescentes de quilombola, algo equivalente a 358 habitantes.
E foi buscando mudar esse cotidiano marcado pela adversidade, que o SENAI através do Centro de Inovação e Tecnologia Industrial – CITI e em parceria com o Instituto Alpargatas, iniciou um curso de modelagem de vestuário, com 160 horas (equivalente a 2 meses e meio de duração) para 13 quilombolas de Pedra D’agua, dando oportunidade de geração de renda para as quilombolas.
Três vezes por semana, as integrantes da comunidade, se deslocam, do Quilombo para Campina Grande, num ônibus da prefeitura da cidade de Ingá, para participarem do curso que proporcionará a elas a realização do sonho de ter uma vida melhor, pautada em novas perspectivas e oportunidades.
Em meio a turma, encontramos histórias marcantes, e de superação. Maria da Penha Gonçalves da Silva, tem 29 anos. A jovem costureira, sempre quis avançar nos estudos, crescer e compartilhar novos conhecimentos com os familiares e amigos do Quilombo. Mas além das dificuldades de acesso a escola, enfrentou a resistência dentro da família, que adiou os sonhos dela por muito tempo.
Para ela que só ouvia falar no SENAI, mas não sabia do que se tratava, a oportunidade que parecia tão distante, bateu as portas do Quilombo esse ano, quando ela e outras amigas foram informadas que estavam abertas as matrículas do curso de modelagem de vestuário, na instituição, e o melhor, elas não precisariam pagar para serem capacitadas.
“A nossa comunidade vive da agricultura, do cultivo do milho, da fava, do feijão, uma cultura que gera lucro somente no ano de inverno, mas quando a chuva não cai, contamos apenas com a boa vontade da população, que envia doações de cestas básicas e outros alimentos para suprir a necessidade de todos. Temos parentes e amigos que deixaram a comunidade para trabalhar fora, viajaram para o Rio de Janeiro e outros estados em busca de oportunidades. Então esse curso trouxe uma nova perspectiva para todas as moradoras do Quilombo”, disse Maria da Penha.
Sempre tive muita vontade de estudar, era um sonho, e mesmo depois que casei e tive meu filho, o sonho continuou, queria aprender mais, adquirir novos conhecimentos, e o SENAI e o Instituto Alpargatas estão me proporcionando essa realização. Depois que concluir o curso de Modelagem, quero participar de outros cursos na área de costura, para poder trabalhar, e ganhar meu próprio dinheiro, construir uma casa, e morar com meu filho, porque o meu maior objetivo é ter um crescimento pessoal, comentou a aluna do SENAI.
Com a oferta do curso, as mulheres do Quilombo, não apenas realizam um sonho, mas dão um passo importante, rumo a profissionalização, e a um futuro de independência, onde poderão se manter através da geração da própria renda.