A iniciação científica, há alguns anos, só acontecia a partir do momento em que o aluno ingressava na universidade, quando passava a ter contato com a pesquisa acadêmica. Hoje o cenário já é outro, várias escolas no mundo têm adotado, em sua metodologia de ensino, a iniciação científica ainda na educação básica.
Pensando nisso, a Escola SESI da Paraíba criou, em 2019, o Laboratório de Iniciação Científica (LIC), para promover e estimular o pensamento científico ainda durante os primeiros anos do processo educativo do indivíduo. Desde que foi criado, centenas de alunos já participaram do projeto e em 2021, foram quase 10 premiações de projetos do LIC nas mais importantes feiras e mostras de ciência e inovação. Para isso, a escola oferece o que há de mais moderno nos laboratórios de ciência e inovação para que os alunos possam desenvolver suas pesquisas.
No último mês de março, três projetos do LIC foram premiados na maior feira de ciências do país, a FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), responsável por estimular a pesquisa científica, a inovação e o empreendedorismo em jovens e educadores da educação básica e técnica. O projeto “Sacola Cactus Biodegradável Antibacteriana”, recebeu o prêmio “Destaque”, como melhor projeto do estado, e ficou no 4º lugar geral da mostra na categoria “Ciências Biológicas”; o projeto “Nutrizon: Uma Alternativa para sua suplementação” recebeu o Prêmio da Feira Mineira de Iniciação Científica, realizada durante a programação da FEBRACE; e o “Clean River: Filtro Biodegradável para limpeza do Rio Paraíba nas imediações da cidade de Bayeux”, ficou em 3º lugar no Prêmio Marinha do Brasil: Mentalidade Marítima, mostrando o potencial dos projetos desenvolvidos no Laboratório de Iniciação Científica da Escola SESI da Paraíba.
Por isso, é importante destacar as atividades e ações do laboratório e sua força na construção do conhecimento dos estudantes. Nesta entrevista, o professor e um dos atuantes dentro do laboratório, Eduardo Adelino, explica como funciona esse projeto pedagógico da Escola SESI da Paraíba e seu papel na formação dos alunos.
Em linhas gerais, o que é o Laboratório de Iniciação Científica e qual é o principal objetivo dessa iniciativa da Escola SESI da Paraíba?
Prof. Eduardo Adelino - O laboratório de iniciação científica trata-se de um projeto pedagógico e educacional que incentiva a ciência e a tecnologia. Trabalhamos a abordagem STEAM no desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos e das alunas da Escola SESI. Na prática, o LIC é um espaço destinado a criação de ideias que solucionam problemas do dia a dia dos alunos. Para isso utilizamos o método científico como fundamento para desenvolver os projetos que venham a atender essas demandas sociais, ambientais, científicas e tecnológicas que são observadas pelos próprios estudantes.
De onde surgiu a ideia de criar um projeto pedagógico para incentivar os alunos a buscarem soluções para problemas da sociedade a partir da pesquisa científica?
Prof. Eduardo Adelino - A ideia é uma iniciativa do Programa de Ciência e Engenharia da Escola SESI da Paraíba e surge da necessidade de integrar os jovens estudantes às áreas de conhecimento da matemática, ciências e tecnologias. Muitos estudantes não se enxergam nessas áreas devido a imagem distorcida que eles construíram desde cedo, e também sobre a influência das mídias. É comum que a imagem do cientista seja sempre representada de maneira estereotipada, muito embora ela venha sendo revista ela ainda é muito presente no imaginário juvenil e infantil. Portanto, mostrar a ciência como ela é e o quanto ela faz e pode fazer pela sociedade, é mais que uma necessidade para a educação brasileira, é uma emergência.
Qual a importância da iniciação científica ainda na educação básica?
Prof. Eduardo Adelino - A iniciação científica faz parte da rotina das universidades e faculdades, já na educação básica é pouco explorada no cenário nacional. Isso se deve muito a questões relacionadas à formação do (a) professor (a), ao incentivo das escolas e do estado, a falta de fomento financeiro, por isso infelizmente muitas habilidades e competências não são desenvolvidas nos alunos e nas alunas. Isso me refiro a um cenário nacional. A iniciação científica traz à escola a prática social das ciências tão debatidas pela literatura. Ela possibilita aos alunos e aos professores uma mudança de posição no processo de ensino e aprendizagem. O aluno torna-se um sujeito ativo neste processo, e a relação entre professor e aluno torna-se horizontal, onde ambos contribuem para a formação um do outro.
Qual o papel da pesquisa científica na formação dos alunos?
Prof. Eduardo Adelino - O papel da pesquisa científica na formação dos alunos está relacionado, principalmente, ao despertar o interesse dos estudantes para as áreas de conhecimento científico e tecnológico. Habilidades como analisar, investigar, trabalhar em equipe, resiliência e persistência, começam a fazer parte dos alunos pesquisadores quando eles desenvolvem pesquisas científicas. No campo socioemocional, percebe-se que muitos dos estudantes lidam melhor com a timidez e trabalham mais o autoconhecimento.
O que a Escola SESI faz para fomentar os projetos do LIC?
Prof. Eduardo Adelino - A mostra de iniciação científica é um evento científico da própria Escola SESI. Somos nós que organizamos, desde as orientações e capacitações dos demais professores para serem orientadores até a organização do evento. Neste evento todos os alunos e alunas podem apresentar uma ideia científica ou tecnológica que seja inovadora e dentro dos padrões do método científico ou de engenharia. Além disso, os estudantes da Escola SESI têm acesso a plataformas e recursos virtuais que estimulam o pensamento científico. As participações em feiras e congressos também é um estímulo aos projetos do LIC. As formações e eventos pedagógicos que o SESI oferece oportuniza subsídios aos docentes da instituição para trabalharem a abordagem STEAM em salas de aula. Então tudo isso é um fomento para os projetos do LIC e também para o pensamento científico e os projetos científicos que são desenvolvidos na escola como um todo.
Quais atividades são desenvolvidas no LIC?
Prof. Eduardo Adelino - No LIC são desenvolvidas atividades direcionadas à produção de pesquisas e projetos científicos, como por exemplo o curso de letramento científico, visitas às universidades da cidade, diálogos com e pesquisadores, workshops, preparação para as olimpíadas e os encontros de orientação dos projetos. Todas essas são atividades que desenvolvemos no laboratório.
Quais os tipos de projetos têm sido desenvolvidos no LIC? Há um foco só nas áreas das ciências exatas e da natureza ou as outras áreas também são abordadas nas pesquisas do laboratório?
Prof. Eduardo Adelino - Incentivamos no Laboratório de Iniciação Científica da Escola SESI, o desenvolvimento de projetos científicos ou de engenharia. Teoricamente o nosso foco é em projetos nas áreas das ciências exatas e da natureza. Mas, os alunos e as alunas são quem propõe a problemática que querem solucionar no LIC. Nessa busca por problemáticas das ciências humanas e sociais surgem também. Em suma as áreas dos projetos dependem de cada um deles. O método científico se aplica a qualquer área do conhecimento, por isso a gente abre o leque para que todas as áreas sejam abordadas no LIC. Tanto as áreas exatas e naturais, como também as ciências humanas e sociais.
Como são as competições e mostras que vocês costumam participar? Há histórico de premiações dos projetos desenvolvidos no LIC?
Prof. Eduardo Adelino - As feiras e os congressos que costumamos participar são de abrangência nacional e alguns também são internacionais. Elas ocorrem anualmente. Devido a pandemia, muitas feiras deixaram de ser presenciais e adotaram o modelo remoto. De certa maneira isso foi até bom para nós, porque possibilitou a participação em várias delas durante o ano. A exemplo eu cito a Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (FEBRACE), a Feira Brasileira de Jovens Cientistas, a Feira Latino-Americana de Ciências (Infomatrix), a Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec) e também a Feira Ciência Jovem, entre outras que já participamos. Com essas participações temos um histórico de 18 premiações e menções. Ganhamos medalhas das categorias e áreas de conhecimento como engenharia, ciências agrárias e ciências humanas, recebemos menção honrosa na feira Infomatrix, a nível América Latina, temos prêmios como Projeto Destaque Paraíba”, terceiro lugar “Por Um Mundo Sem Lixo” e “Jovem Manual do Mundo” que recebemos na FEBRACE. Temos também medalhas de ouro e prata na etapa individual da Olimpíada do Futuro Sapientia, além disso, temos cerca de dez alunos bolsistas CNPq, que conquistaram essa bolsa devido às suas participações nessas feiras.
Na edição 2022 da FEBRACE, 10 projetos do foram selecionados como finalistas. Essa é uma feira muito importante para nós devido a sua abrangência e também devido ao seu histórico. Em 2022 ocorreu a 20º edição, então é uma feira que tem um histórico muito importante e é essencial para o desenvolvimento da ciência e do pensamento científico no ensino médio. Então o fato de termos 10 projetos selecionados como finalista, isso também é uma vitória e é uma menção muito honrosa para o nosso trabalho desenvolvido na Escola SESI.
Como funciona a seleção de alunos para o laboratório?
Prof. Eduardo Adelino - Para fazer parte da equipe de jovens cientistas do laboratório de iniciação científica é necessário participar de um processo seletivo que consiste em algumas etapas. A partir do lançamento do edital as inscrições são abertas e no ato da inscrição o aluno deve entregar uma carta de motivação. A segunda etapa consiste na análise das competências socioemocionais e também da resolução de uma situação problema. E por fim temos a entrevista onde a gente busca conhecer um pouco mais do candidato e assim verificar se essa pessoa tem o perfil pra participar do laboratório.
Texto/Colaboração: Igor Batista