
O Fórum Mundial de Economia Circular 2025 (WCEF2025) começou na manhã desta terça-feira (13), em São Paulo, com um forte chamado à cooperação entre governos, empresas e sociedade civil.
A cerimônia de abertura ocorreu no Parque Ibirapuera, em dois ícones da arquitetura brasileira: o Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, mais conhecido como Oca, e o Auditório Ibirapuera — ambos desenhados por Oscar Niemeyer, cujo traço curvo, sem ângulos retos, simboliza bem o conceito da economia circular, que busca transformar modelos lineares de produção em ciclos contínuos de reaproveitamento de recursos.
O evento segue até o dia 16 de maio, reunindo lideranças globais para debater caminhos para acelerar a circularidade no mundo.
Abertura com apelo à ação
Kristo Lehtonen, diretor do Fundo de Inovação da Finlândia (SITRA), ressaltou a importância de uma regulação inteligente como catalisadora da transição para a economia circular. Segundo ele, o desafio não é mais conceitual, mas de implementação.
"A regulação inteligente é um catalisador necessário para a economia circular. Para acelerar essa transição, precisamos de políticas eficazes, capazes de promover mudanças sistêmicas e tornar a circularidade a norma, não a exceção. Sabemos que a economia circular é uma ferramenta poderosa para enfrentar a crise climática, impulsionar o crescimento econômico e criar milhões de novos empregos. O que falta é ação, não palavras".

Ele chamou atenção para um dado: a taxa global de circularidade caiu para apenas 7%, enquanto a extração e o consumo de recursos seguem em alta. "Estamos extraindo e consumindo mais materiais virgens do que nunca. A distância entre o que poderíamos alcançar e o que de fato fazemos só aumenta. Essa lacuna é um chamado à ação".
O diretor do SITRA finalizou com um convite à mobilização, esperando que o fórum seja um ponto de partida para parcerias e soluções concretas: “Que este fórum seja mais do que uma plataforma de discussão. Que sirva como trampolim para ações concretas: formar novas parcerias, inovar juntos, escalar soluções que funcionam, financiar o que realmente importa e fechar a lacuna da circularidade antes que ela se torne irreversível para nossos filhos”.
Brasil como protagonista
O presidente da Fiero e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Thomé, destacou o papel crescente do Brasil na agenda global de sustentabilidade, lembrando que, ainda este ano, o país sediará também a COP30, em Belém do Pará.

"Temos trabalhado com seriedade e ambição para acelerar o avanço da circularidade no país. Entre os exemplos que se destacam: a participação ativa na construção da norma internacional de economia circular, o engajamento na estratégia nacional de economia circular em diálogo com o governo e a sociedade e a criação da Sustainable Business COP (SB COP), uma iniciativa da CNI que reúne empresas brasileiras e internacionais em torno de uma agenda climática positiva e pragmática", disse.
"Sediar o WCEF 2025 em São Paulo é mais do que organizar um grande evento. É um passo firme rumo à consolidação do Brasil como protagonista da sustentabilidade global, completou. Thomé também destacou dados da sondagem da CNI, divulgada nesta terça, que mostrou que 6 em cada 10 indústrias brasileiras já desenvolvem práticas de economia circular.
"Dois eventos globais no mesmo território, no mesmo ano, evidenciam a relevância do nosso país nas agendas de clima e circularidade e reforçam nosso compromisso em avançar da retórica para a prática. Acreditamos que este fórum será um marco. Um momento de escuta, de aprendizado, de parcerias, mas, acima de tudo, de construção coletiva", ponderou Thomé.
Segundo o presidente do Instituto Brasil +21, com os principais líderes globais reunidos, é a oportunidade de conscientizar que é responsabilidade de todos obter resultados concretos. "Reitero que a indústria brasileira está comprometida com esse futuro. A CNI seguirá mobilizando esforços, somando parcerias e oferecendo contribuições para acelerar essa transição".
União de esforços
O vice-presidente, Geraldo Alckmin, que está no exercício da Presidência, enviou uma mensagem em vídeo para a abertura do evento, destacando a importância da união de esforços entre governo, setor privado e sociedade civil: "O Fórum Mundial de Economia Circular 2025, que inicia hoje, vai apresentar propostas que fortalecem a posição do Brasil na transformação ecológica, por meio da atuação conjunta do governo, setor privado e sociedade civil, a união perfeita em prol da sustentabilidade”.
Pedro Guerra, chefe de gabinete da vice-presidência da República, resgatou um conceito bíblico e ensinamentos da química para ilustrar que a lógica da economia circular acompanha o desenvolvimento humano desde suas origens, mesmo que sua aplicação prática ainda enfrente desafios. Ele destacou que a transformação para uma economia circular depende, acima de tudo, de decisões políticas.

Guerra lembrou ainda que o governo federal tem dado passos concretos nesse sentido, com a estratégia e o Plano Nacional de Economia Circular, documento aprovado na semana passada.
O desafio dos investimentos
Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e vice-presidente da FIESP, apontou as dificuldades enfrentadas pelo setor produtivo para viabilizar economicamente a circularidade, destacando a necessidade de reformas e incentivos.
"Participamos ativamente, inclusive sob a coordenação da CNI, da elaboração das normas ISO de economia circular, lançadas no ano passado. Mas nossa responsabilidade maior é com a melhoria contínua do desempenho ambiental da indústria paulista, que responde por quase 30% do PIB industrial brasileiro e emprega mais de 3 milhões de trabalhadores no setor industrial".
"A transição para uma economia circular, além de trazer uma série de benefícios que certamente poderemos compreender durante esses dois dias de evento, requer investimentos significativos e novas tecnologias, infraestrutura para coleta, classificação e processamento de materiais usados e redesenho de produtos e processos", acrescentou.

Cervone ressaltou ainda os desafios financeiros: "No atual regime tributário brasileiro, o custo das matérias-primas secundárias, às vezes, pode ser maior ou menos estável do que o dos materiais virgens, impactando a competitividade e comprometendo a implementação dessas ações. Mas certamente, o maior desafio que temos — e debateremos nesse primeiro painel de abertura — trata justamente do sistema financeiro e dos modelos de investimento existentes, que em sua maioria ainda são voltados para casos de negócios lineares".
"Há uma percepção de falta de financiamento acessível e incentivos financeiros especificamente para as iniciativas circulares, tanto por parte do setor privado quanto dos bancos de fomento públicos. Acredito que os resultados desse fórum irão demonstrar os benefícios potenciais de uma economia circular, que sejam amplamente reconhecidos e incentivados, inclusive para permitir que o setor privado possa superar um cenário complexo de obstáculos financeiros, regulatórios, tecnológicos, organizacionais e de mercado”, afirmou.
O dirigente encerrou sua fala com otimismo: "A inovação na indústria já começou e podemos juntos fortalecer um círculo virtuoso de empresas, organizações, setor público e a sociedade em geral para enfrentar esses obstáculos e acelerar a transição para um modelo econômico mais sustentável, resiliente e justo. E há uma certeza: cada um de nós realiza individualmente um excelente trabalho, mas individualmente não somos mais suficientes para resolver tais questões. Portanto, meus amigos, a palavra-chave aqui é cooperação”.