O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, enfatiza mais uma vez que a situação inflacionária no Brasil permite, há algum tempo, que o Banco Central abandone o conservadorismo na condução da política monetária em busca de um maior crescimento econômico. Nesse cenário, espera-se que o Banco ao menos mantenha o ritmo de queda da taxa Selic, em 0,5 ponto percentual, nesta reunião de maio de 2024.
“Essa decisão seria compatível com o atual cenário de inflação, sob controle, além de impedir uma redução mais acentuada do crescimento econômico. Além disso, é impraticável a continuidade do projeto de neoindustrialização com altos níveis de taxa de juros”, enfatiza Alban.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses caiu de 4,62%, em dezembro de 2023, para 3,93%, em março de 2024. Além disso, os núcleos de inflação, que excluem preços mais voláteis ou sujeitos a choques temporários, mostram números ainda mais favoráveis: no acumulado em 12 meses até março de 2024, a média de cinco núcleos de inflação foi de 3,6%. A título de comparação, essa média foi de 4,3% no acumulado em 12 meses até dezembro de 2023.
Além da desaceleração efetiva da inflação, as expectativas também são positivas. De acordo o Relatório Focus, do Banco Central, as expectativas apontam inflação de 3,72%, no final de 2024, dentro do limite superior da meta de inflação para 2024, de 4,5%, e mais próximo do centro da meta, de 3%, do que em 2023, quando a inflação de 4,62% ficou mais distante do centro da meta (3,25%).
Portanto, se os preços estão sob controle, manter o ritmo de queda da Selic evita penalizar ainda mais a atividade econômica no Brasil. A taxa de juros real em nível tão elevado, provoca danos consideráveis à economia brasileira. Mesmo com os cortes da taxa Selic realizados desde agosto de 2023, a taxa de juros real está em 6,9% ao ano, ou seja, 2,4 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra, que não estimula nem desestimula a atividade econômica.
Impactos da alta taxa de juros real na economia
A consequência do alto nível da taxa de juros real é a perda de dinamismo da economia brasileira. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), calculado pelo Banco Central, apontou crescimento de apenas 1,23% no trimestre encerrado em fevereiro de 2024, na comparação com o trimestre anterior. Para uma economia que cresceu 2,9% em 2023, é evidente a perda de ritmo de crescimento.
O principal mecanismo através do qual a elevada taxa de juros real atua sobre a atividade econômica é o mercado de crédito. Os dados mostram que, apesar do aumento real de 1,1% nas concessões totais de crédito no acumulado em 12 meses até março de 2024, em comparação com acumulado em 12 meses até março de 2023, as concessões para as empresas tiveram queda real de 1,9%.
É preciso salientar que as projeções para crescimento do PIB brasileiro em 2024 (2,05%), apesar de terem sofrido revisões para cima, indicam queda no crescimento em relação ao registrado em 2022 (3%) e 2023 (2,9%).
Além de crescer menos do que nos anos anteriores, o Brasil deve crescer menos que os demais países emergentes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que o PIB brasileiro deve crescer 1,7% em 2024, enquanto os países emergentes de renda média devem crescer 4%, em média, em 2024.
Ainda que o PIB cresça acima de 2% em 2024, esse ritmo de crescimento não traz pressão inflacionária, pois se encontra abaixo do ritmo de crescimento potencial, estimado entre 2% e 2,5% pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda e em 2,3% pela CNI.
Por esses motivos, uma redução no ritmo de queda dos juros será inadequada, pois há espaço para manutenção do corte de juros por parte do Banco Central, o que contribuiria para melhorar a situação enfrentada pela atividade econômica brasileira.
A redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores é ponto fundamental para a impedir uma desaceleração ainda maior do crescimento econômico.