As tendências da inovação e o que está acontecendo de mais inovador no Brasil foram os temas dos primeiros paineis do 8º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Sebrae, em São Paulo. Executivos de grandes empresas são unânimes na opinião de que a integração entre cientistas e empresas é fator essencial para a inovação avançar no país.
O presidente do Conselho de Administração do Grupo Ultrapar, Pedro Wongtschowski, avalia que a construção de um ambiente de estímulo ao empreendedorismo e à inovação favorecerá não só a economia, mas o diálogo entre empresários e trabalhadores. Ele defende a união entre governos e o setor privado como passo fundamental para o Brasil avançar na área de pesquisa e inovação.
“É preciso elevar a agenda pública e privada para priorizar e dar longa estabilidade ao esforço pela inovação. Precisamos também trabalhar incansavelmente pela redução do déficit tecnológico atual, que separa as empresas brasileiras das práticas mais avançadas”, afirmou Wongtschowski, que é um dos líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), grupo liderado pela CNI que reúne executivos de mais de 200 grandes empresas.
“A MEI nos proporcionou a resiliência de quem consegue empreender em águas turbulentas. Lembrem-se, nós só estamos reunidos neste Congresso porque conseguimos vencer a corrida de obstáculos em que foi transformada a atividade empresarial no Brasil”, avalia Wongtschowski
Moderador da sessão “O Brasil Inovador: o que está acontecendo de mais relevante”, o presidente da Cisco Brasil, Laércio Albuquerque, mencionou pesquisa que a multinacional realizou em 118 países sobre a preparação dos países para o mundo digital. Segundo ele, o Brasil aparece em um nível intermediário, mas em situação incompatível com a condição do país de 9º maior economia do mundo, aparecendo em 10º lugar na América Latina. “Infraestrutura básica e de investimentos colocaram o Brasil para cima. Já os pontos que mais puxaram o país para baixo foram os ecossistemas de inovação e de startups, e a educação - não a acadêmica tradicional, mas a educação digital”, destacou Albuquerque.
CIÊNCIA DE QUALIDADE – Sócia-fundadora e diretora executiva da Tismoo Biotech, Graciela Pignatari observou que a ciência brasileira tem qualidade, apesar do baixo investimento direcionado para pesquisas. Ela reconheceu, porém, que os pesquisadores precisam estar cada vez mais conectados com o mundo empresarial. “Pensar juntos é algo fundamental para que a gente possa vencer todos os obstáculos do futuro, que não serão poucos”, disse Graciela, que foi acadêmica e se tornou empreendedora.
Caminhando em sintonia com a academia, a Visiona Tecnologia Espacial lançará em breve o primeiro nanossatélite – como são conhecidos satélites de até 10 kg – desenvolvido pela indústria nacional. O presidente da empresa, João Paulo Campos, ressaltou a importância da parceria entre indústria e pesquisadores. No caso da Visiona, o satélite é produzido em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, sediado em Florianópolis (SC). “Estudei fora e vi o grau de integração entre os institutos de pesquisa e empresas privadas. Aqui no Brasil aprendi a confiar na capacidade do brasileiro de inovar”, frisou Campos.
No mesmo sentido, o diretor de Inovação e Gestão do Conhecimento do Hospital Israelita Albert Einsteis, José Cláudio Terra, contou que promoveu a integração entre profissionais de diferentes áreas, como engenheiros, pessoal do financeiro e de negócios para promover a agenda da inovação no Einstein. “Criamos um ecossistema forçando a barra para que as pessoas se encontrassem todas as semanas”, detalhou.
FORÇA DE TRABALHO – Apesar do otimismo de executivos que demonstram confiança em uma arrancada do país rumo ao maior desenvolvimento da inovação, o presidente do Conselho de Administração da Totvs, Laércio Cosentino, lembrou que o país ficou para trás na agenda de ciência, tecnologia e inovação. “O Brasil perdeu tempo nos últimos anos. Precisamos muito mais que um plano de poder, mas um plano de país de curto, médio e longo prazo”, enfatizou.
Cosentino mencionou como prioridade o investimento em educação básica e técnica para que o país avance na formação de uma nova força de trabalho. “Se não nos movimentarmos agora teremos um grande apagão de mão de obra qualificada para fazer com que o Brasil cresça”, alertou o empresário, depois de citar bons exemplos de empresas que têm trabalhado para gerar empregos e tornar o país mais competitivo.
PROCESSO DECISÓRIO – Para o fundador e presidente da GranBio, Bernardo Gradin, o fator essencial para se inovar é ter uma liderança, responsável pelas decisões, aberta às criações e inovações. “Para qualquer forma de inovar, o processo decisório é o mais importante. Inovar é preciso, mas é preciso inicialmente criar um ambiente organizacional favorável”, disse Gradin. Ele aponta a redução da carga tributária como a prioridade número um para as empresas inovarem no país.
Embora classifique a inovação como atividade de alto risco, o presidente da Qualcomm para a América Latina, Rafael Steinhauser, apontou que uma empresa só cresce e se torna competitiva se aportar recursos em pesquisa e desenvolvimento. A Qualcomm, segundo ele, investiu mundialmente 53 bilhões de dólares no setor nos últimos 30 anos. “É um atividade de alto risco, pois investir em algo que ainda não existe envolve risco. Mas aquilo que vinga traz um retorno muito grande”, afirmou. Ele acrescentou que o Brasil precisa com urgência de aperfeiçoar normas regulatórias e gerar mais segurança jurídica, sob o risco de receber cada vez menos investimentos internacionais.