Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a maior parte das empresas industriais não buscou contratar ou renovar suas linhas de crédito nos três primeiros meses de 2019. No que diz respeito ao crédito de curto prazo, os dados mostram que 68% das empresas não conseguiram ou sequer tentaram renovar ou contratar novas linhas de crédito no primeiro trimestre. No crédito de longo prazo, 75% não conseguiram ou não tentaram realizar essas operações.
No caso das linhas de crédito de curto prazo, 29% das empresas afirmaram que renovaram ou contrataram esse tipo de empréstimo no primeiro trimestre do ano. No de longo prazo, apenas 17% das empresas consultadas afirmaram ter renovado ou contratado linhas de financiamento de longo prazo no período analisado.
Os dados constam da Sondagem Especial 74 - Crédito de Curto e Longo Prazos, divulgada nesta segunda-feira (14), realizada em parceria com as federações estaduais de indústria. Ao todo, a pesquisa ouviu 1.770 empresas entre 1 e 12 de abril de 2019. Do total, 734 são pequenas, 634 médias e 402 grandes.
“A indústria continua com situação financeira delicada, o que aumenta a preocupação do empresário em elevar o endividamento da empresa, e trabalhando com alta ociosidade e estoques em excesso, o que diminui a intenção de investir”, afirma o economista da CNI Marcelo Azevedo.
O crédito de curto prazo é buscado pelas empresas, geralmente, para atender a demandas de capital de giro, como pagamento a fornecedores, despesas com funcionários e compra de insumos para a produção. O de longo prazo, por sua vez, é comumente destinado ao financiamento de investimentos, como compra de máquinas e equipamentos, investimento em tecnologia da informação e ampliação de fábricas.
CONDIÇÕES DE RENOVAÇÃO - Na hora de renovar o financiamento no primeiro trimestre de 2019, mais da metade das empresas que renovaram suas linhas de crédito o fizeram em condições semelhantes às contratadas anteriormente.
Para as linhas de crédito de curto prazo, 59% afirmaram ter renovado em condições semelhantes. Pouco mais de um quarto (26%) conseguiu condições melhores que as oferecidas anteriormente e 12% renovaram em condições piores. No caso dos financiamentos de longo prazo, 55% afirmaram ter renovado suas linhas de crédito em condições semelhantes. Outros 32% conseguiram condições melhores que as oferecidas anteriormente e 9% renovaram em condições piores.
Na avaliação da CNI, esse resultado está relacionado com as dificuldades que as empresas enfrentam para contratar crédito, sobretudo as elevadas taxas de juros. Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) no menor patamar histórico, os empresários ainda se deparam com juros elevados quando buscam crédito no mercado.
“Com os juros em queda, a expectativa é que mais empresas tivessem conseguido condições melhores na renovação do crédito. Esse dado reforça, mais uma vez, a necessidade de se reduzir o spread bancário no Brasil”, afirma Marcelo Azevedo.
O spread bancário é a diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar recursos e a que cobram do consumidor final. Para a CNI, as políticas de redução do spread passam por medidas como a redução da concentração bancária, com reflexo sobre a margem de lucro dos bancos, a redução da inadimplência até a redução do volume compulsório, que segue ainda sendo bem mais elevado do que a maioria dos outros países.
O compulsório é um percentual de depósitos que as instituições financeiras devem manter no Banco Central. O objetivo dessa medida é regular a quantidade de dinheiro no mercado e, com isso, contribuir para o controle da inflação.
CRÉDITO POR PORTE DAS EMPRESAS - Quando se analisa a renovação/contratação de linhas de crédito considerando o porte das empresas, verifica-se que o percentual de empresas que renovaram e ou contrataram linhas de crédito nos primeiros três meses de 2019 aumenta de acordo com o porte, tanto no caso de financiamentos de curto prazo, quanto de longo prazo.
Entre as pequenas, o percentual de empresas que contratou ou renovou linha de crédito de curto prazo foi de 21%; no caso de linhas de financiamento de longo prazo, 11%. Considerando as médias empresas, esses percentuais sobem para 29% (curto prazo) e 14% (longo prazo). No caso das grandes, os percentuais sobem para 32% (curto prazo) e 20% (longo prazo).