Três amigos e a paixão por cerveja. Há alguns anos, nas horas de folga, eles se reuniam para produzir a própria bebida e testar novos sabores. Foram muitas tentativas até aprenderem as técnicas corretas. Até que em 2010, Pedro Reis, Evandro Marini e Francelo Carraro sentiram que já podiam dar um passo a mais e participaram de um concurso da Associação Brasileira de Cervejeiros Caseiros onde ganharam dois prêmios. Foi ali que eles viram a possibilidade de ganhar dinheiro com o que, até então, era apenas um hobby. “Opa! A gente faz cerveja boa. Isso pode virar um negócio”, lembra Pedro Reis, sócio da cervejaria Insana.
Sim. O hobby virou negócio: produção de cervejas artesanais de sabores diferentes. E ganhou nome: Cervejaria Insana. “Algumas pessoas disseram que nós éramos doidos, que ninguém iria querer beber estas cervejas”, explica Pedro sobre o nome da empresa. A fábrica nasceu em 2013, com capacidade de produzir 30 mil litros/mês, na cidade de Palmas (PR), quase divisa com Santa Catarina.
Mas nem tudo foi fácil. Nos 2 primeiros anos, a empresa amargou resultados ruins. E os sócios viram que era preciso abrir mercados e tentar novos projetos.
Cerveja de pinhão: projeto de preservação das matas de araucária no Paraná
Na busca por novidades, os sócios resolveram apostar em um sabor regional. “Tínhamos o desejo de criar um estilo de cerveja brasileiro. Nossa ideia era usar ingredientes nacionais tradicionais, e o pinhão acabou sendo uma escolha natural”, explica Pedro.
O pinhão é um produto bem típico do Paraná. E o uso desta semente fez parte de um projeto de preservação das matas de araucária no estado, ameaçadas de extinção. Os sócios apostaram na parceria com pequenos produtores locais e, desde o início, só compram pinhão de origem sustentável, de áreas preservadas. Desta forma, fecham uma cadeia de geração de renda para pequenos produtores locais e contribuem com a preservação da araucária, árvore símbolo do estado.
Foram muitas as tentativas dos cervejeiros insanos, até descobrirem que o sabor característico do pinhão precisava ser extraído da casca. Assim, a casca e a amêndoa entram separadas e em momentos diferentes, no processo de fabricação da cerveja.
O primeiro lote ficou pronto no inverno de 2014 com atraso porque, na época eles ainda não tinham um sistema eficiente para descascar o pinhão. Mas as cinco mil garrafas da Insana Pinhão, produzidas naquele ano – um total de 200 quilos de semente – tiveram ótima aceitação no mercado.
Cerveja com sabor sustentável
A colheita do pinhão começa, normalmente, no fim de abril. Hoje toda a produção vem de 5 ou 6 famílias de pequenos produtores. E elas participam de todo o processo: manuseio, descasco e moagem. Entregam o pinhão do jeito que a fábrica precisa para fazer a cerveja.
A cerveja é lançada apenas no período do inverno, para que se respeite a proibição legal da colheita de pinhão. Normalmente, a bebida chega ao mercado no fim de julho e o estoque dura uns 2 meses.
Em 2019, a produção do pinheiro foi muito ruim. Por isso, não houve fabricação da cerveja. “O primeiro foco é sempre a preservação. Então se optou por deixar o pinhão cair pra produzir semente”, explica Pedro.
O engajamento da nova bebida no esforço pela proteção da árvore ganhou força com o Projeto Araucária+, da Fundação Certi, de Santa Catarina, uma iniciativa de valorização econômica das florestas de araucária, por meio da criação de uma rede sustentável de consumo e de produção. “Foi um casamento perfeito: eles estavam procurando soluções que demandassem a industrialização do pinhão, para aumentar a rentabilidade dos produtores, e nós queríamos que nosso produto tivesse um cunho social e sustentável. Queríamos garantir que estávamos contribuindo para a preservação”, explica Pedro.
Receita reconhecida como caso de inovação
Hoje a Cervejaria Insana tem 17 funcionários. 5 sócios administram a empresa. O desenvolvimento do projeto da cerveja de pinhão, com o incentivo da indústria alimentar local e a preservação ambiental foi reconhecida como caso de inovação, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Para nós foi o entendimento de que estávamos no caminho certo, produzindo inovações. Nosso intuito sempre foi buscar projetos novos, um produto que surpreenda e não o consumo em massa. Este reconhecimento confirmou o que a gente buscava. E para o mercado é positivo ter a chancela de uma instituição respeitada como a CNI”, avalia Pedro.
Atualmente a cervejaria Insana produz oito rótulos. Entre eles uma cerveja feita com grãos de café com indicação geográfica. Mas a Insana Pinhão, sozinha, representa 50% do faturamento no período de inverno e 12% do resultado anual, que gira em torno de R$ 3 milhões.
Sem medo de concorrência, a cervejaria estimula o surgimento de outros rótulos de cerveja de pinhão. Pedro explica que não existe fidelização nesse mercado, tendo em vista que o cliente sempre quer provar novos sabores. “Quanto mais cervejas e cervejarias entrarem no mercado, tentando ensinar às pessoas que existe um mundo de opções, mais consumidores eu vou ter”, explica Pedro, que continua apostando na inovação. Sempre.