Na primeira reunião do Conselho Temático da Indústria de Defesa (Condefesa), realizada nesta terça-feira (27), em Brasília (DF), o presidente do colegiado, Glauco Côrte, afirmou que a indústria brasileira trabalhará para apoiar projetos estratégicos que contribuam para o crescimento da indústria da defesa. O Conselho foi criado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em novembro de 2018.
Glauco Côrte, que também é um dos vice-presidentes executivos da CNI, destacou que, com o novo conselho, os projetos serão desenvolvidos por meio da denominada “tríplice hélice”, um sistema integrado composto pelo governo, pela academia e pela indústria. Na prática, o objetivo dessa integração é contribuir para fortalecer a inovação tecnológica e para possibilitar o uso comum das tecnologias entre as áreas civil e militar.
“O Condefesa é uma instância consultiva da CNI e tem o principal papel de promover a aproximação entre indústria, Forças Armadas, forças auxiliares, governo e academia”, disse o presidente do conselho. “Vamos trabalhar pela geração de oportunidades de parcerias entre esses setores, bem como pelo desenvolvimento da inovação nessa área estratégica para o Brasil”, afirmou Côrte.
O presidente do conselho ressaltou que, em 2017, o Brasil ficou em 11º lugar no ranking mundial dos países que realizam gastos limitares. “Para isso, o Brasil alocou cerca de R$ 25 bilhões em gastos militares, o que representa menos de 2% do gasto militar global”, afirmou. “Na América Latina, o nosso país é o que mais investe em gastos militares. Somos responsáveis por 50% dos gastos militares regionais”, disse Côrte, que ressaltou ainda que, no mundo, os produtos da indústria da defesa movimentam cerca de R$ 1,5 trilhão ao ano.
A estimativa é que a base industrial de defesa movimente cerca de 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Esse mercado é responsável por cerca de 60 mil empregos diretos e 240 mil indiretos e por um processo de desenvolvimento com alto valor agregado na produção, elevada intensidade tecnológica e grande potencial de exportação.
Também presente na reunião, o presidente da CNI em exercício, Paulo Afonso Ferreira, disse que a iniciativa privada deve atuar em parceria com o governo e a sociedade para contribuir para o crescimento do país. “Estamos todos dentro do mesmo barco chamado Brasil. Há alguns anos, tínhamos em torno de 2% do comércio mundial. Hoje, temos pouco mais de 1%. Temos de estar integrados para avançar”, afirmou Ferreira.
Durante a primeira reunião do Condefesa, representantes dos conselhos estaduais de Defesa apresentaram cases de projetos desenvolvidos no setor e suas prioridades na área. Também participaram do encontro representantes dos comandos das três Forças Armadas – Aeronáutica, Exército e Marinha – e dos ministérios da Defesa, das Relações Exteriores e da Justiça e Segurança Pública.
DEMANDAS – O ex-comandante do Exército Brasileiro e atual assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Eduardo Villas Bôas afirmou que, nesta primeira reunião, foi identificada uma grande quantidade de iniciativas regionais, de diferentes setores, na área de defesa. “O próximo passo é uma convergência e uma coordenação entre essas iniciativas porque isso se fará com que tudo se potencializa no sentido de obtermos resultados mais elevados”, afirmou o general, que, quando comandante do Exército, foi um dos incentivadores da criação do conselho.
Durante seu discurso na mesa de abertura da reunião, Villas Bôas ressaltou que, hoje, diante do enorme vazio no território brasileiro, muitas vezes as Forças Armadas são a única presença do Estado em muitas localidades do país.
O general disse ainda que, pelo fato de não haver qualquer percepção de ameaça do ponto de vista da defesa nem por parte da população nem das autoridades, a tarefa de convencer sociedade e governo sobre a importância de alocação de recursos adequados para a defesa se torna árdua.
Villas Bôas destacou, no entanto, que a tarefa das Forças Armadas vai muito além de se preparar para “fazer face ao inimigo”. Essa tarefa, segundo ele, envolve desde o atendimento a demandas da sociedade e do território nacional como um todo, passando pela projeção do Brasil no exterior, até a proteção da identidade nacional.
“Nesses aspectos, temos que levar para a sociedade e para os decisores para que eles entendam que defesa não é gasto, mas investimento”, enfatizou o general, acrescentando que, mais importante do que os recursos, são sua “regularidade e previsibilidade”.
Para Villas Bôas, o Brasil está ficando “perigosamente defasado”, na comparação com países semelhantes a ele, do ponto de vista do seu aparato de defesa. Ele destacou, por exemplo, as dificuldades enfrentadas em função da crise e do confronto com a Venezuela.
Diretor-geral do SENAI e superintendente do SESI, Rafael Lucchesi afirmou que a agenda de tecnologia, modernização, emprego e renda tem forte articulação com o domínio da tecnologia. “Nenhum Estado nacional faz isso sem um sistema de defesa. A tecnologia é fundamental em qualquer sistema industrial bem desenvolvido”, afirmou.
O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da Associação de Estudos de Defesa, Alcides Costa Vaz, por sua vez, ressaltou a relevância da atualização dos estudos na área para que a sociedade se sensibiliza sobre a estratégia de defesa e segurança nacional. Já o presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa (Simde), Carlos Erane de Aguiar, considerou necessária a articulação entre universidade, governo e indústria com o objetivo de aumentar o protagonismo da indústria de defesa brasileira no exterior.
SOBRE O CONDEFESA – O Condefesa foi implantado pela CNI em novembro de 2018. O novo órgão vai trabalhar para incentivar o crescimento do setor da defesa, por meio da aproximação da indústria, das Forças Armadas e do alinhamento dois oito conselhos já implantados nas federações das indústrias em todo o Brasil.
Entre as atribuições do conselho estão a proposição e o acompanhamento de políticas que tratem dos interesses da indústria da defesa; a elaboração de estudos; e a antecipação a demandas prioritárias da defesa e segurança em termos de projetos, novas tecnologias e produtos e serviços.