A Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16) começa nesta segunda-feira (21), em Cali, na Colômbia, e a indústria brasileira terá participação intensa nas negociações e discussões na Convenção sobre Diversidade Biológica. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lidera a maior delegação empresarial brasileira já reunida para a assembleia, que chega à 16ª edição.
Como membro observador, a CNI apresenta subsídios técnicos e científicos que são fundamentais para as negociações. Neste ano, a confederação apresentará o documento Visão da Indústria sobre a COP16, em que explora sete temas críticos que refletem as prioridades da agenda internacional e conversam diretamente com o setor industrial.
Nele, constam proposições e alertas relacionados às metas nacionais e ao monitoramento do plano de biodiversidade, à repartição de benefícios pelo uso de informações de sequências genéticas digitais e a recursos necessários ao financiamento da biodiversidade.
“O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo e potencial para liderar, pelo exemplo, a busca por soluções que conciliem a conservação ambiental e o progresso econômico. A participação propositiva da indústria brasileira na COP16 é essencial para assegurar que as decisões tomadas sejam relevantes e possam ser aplicadas ao contexto nacional”, destaca o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Ele aponta que o documento Visão da Indústria sobre a COP16 contempla temas considerados estratégicos pela CNI para o Brasil e para a indústria nacional nas negociações em Cali. “Mais uma vez, pretendemos contribuir com esse debate, fundamental para o futuro do planeta e o bem-estar das pessoas”, complementa Alban.
Uma das principais preocupações da entidade é quanto ao avanço na atualização das Estratégias e Planos Nacionais relacionadas à conservação e uso sustentável dos recursos da biodiversidade. Essas metas representam compromissos para a proteção e o uso sustentável dos recursos naturais, além de serem a base para impulsionar novas políticas e incentivos.
Outro ponto relevante é o planejamento, monitoramento e revisão do Plano de Biodiversidade. A CNI defende a adoção de mecanismos claros e eficientes, que possibilitem o acompanhamento transparente do progresso, identificando lacunas e permitindo uma tomada de decisão informada para o alcance das metas estabelecidas.
Financiamento da biodiversidade não chega a 20% da necessidade
Outro desafio da COP16 é mobilizar recursos financeiros concretos e provenientes de diferentes fontes para acelerar a implementação dos compromissos ambientais dos países. Atualmente, estima-se que o financiamento destinado à biodiversidade cubra de 16% a 19% da necessidade total para deter a perda da biodiversidade no mundo. Isso significa um déficit médio de US$ 711 bilhões por ano.
A repartição justa dos benefícios resultantes do uso de Informações de Sequências Digitais (DSI) é outro tema de grande interesse da indústria brasileira. Na COP15, realizada em 2022, no Canadá, os países concordaram com o estabelecimento de um Mecanismo Multilateral para este fim, e nesta edição na Conferência, há expectativa que as negociações avancem para a formulação do instrumento mais adequado, que seja eficiente e eficaz. O tema coloca o Brasil e a indústria em posição estratégica nas negociações, promovendo o desenvolvimento tecnológico e a inovação de forma justa e inclusiva.
A CNI também recomenda o aperfeiçoamento dos vínculos entre biodiversidade e mudanças climáticas para criar soluções resilientes e adaptadas e o aprofundamento das discussões relacionadas à biologia sintética como campo de grande potencial para a inovação.
“Com essas propostas, a CNI destaca sua posição de protagonismo e compromisso com a sustentabilidade, propondo caminhos e soluções concretas para o Brasil continuar avançando em direção a um futuro no qual a conservação, o uso sustentável da biodiversidade e a prosperidade econômica sejam plenamente integradas”, frisa o diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz.
Confira as principais recomendações da CNI sobre os sete temas:
Progresso para a atualização da Estratégia e Plano nacional:
- Adoção de abordagem integrada do governo e da sociedade na internalização das metas nacionais de biodiversidade, com a participação do setor industrial.
- Transparência na apresentação das metas e clareza e consistência na disponibilização das informações críticas no modelo padronizado para a submissão das metas.
Monitoramento do Plano de Biodiversidade:
- Garantir que a indústria participe ativamente do processo de construção dos indicadores que deverão integrar os relatórios nacionais a serem submetidos pelo Brasil em 2026 e 2029.
- Uso de estruturas e padrões voluntários de sustentabilidade que orientem empresas e instituições financeiras a avaliar, mensurar e reportar os seus riscos, impactos e dependências em relação à biodiversidade.
Planejamento, monitoramento e revisão:
- Assegurar um processo participativo para formulação de propostas que viabilizem o alcance das metas globais de biodiversidade até 2030.
- Facilitar o engajamento da indústria, organizações da sociedade civil, academia, povos indígenas e comunidades locais e todos os níveis de governo em todas as etapas de desenvolvimento e implementação da Estratégia e Plano de Ações nacionais.
Repartição de benefícios para DSI:
- Deve se basear em procedimentos operacionais simples e transparentes, que incentivem ampla participação e garantam o direito de acesso e uso a DSI e não deve impor restrições e cobrança ao acesso e ao uso de DSI para não prejudicar investimentos em pesquisa e inovação.
- O mecanismo multilateral deve alavancar a repartição de benefícios do uso de DSI e ser uma das fontes para apoiar a implementação do Marco Global de Biodiversidade, fortalecendo a bioeconomia e incentivando pesquisa, inovação e investimentos.
- Povos indígenas e comunidades locais devem ser beneficiados diretamente na repartição de benefícios.
Mobilização de recursos financeiros:
- Desenvolvimento de diretrizes e compartilhamento de boas práticas sobre soluções financeiras inovadoras para diversificar o financiamento para a biodiversidade.
- Flexibilidade na integração da biodiversidade ao financiamento privado, assegurando a diversidade de modalidades de financiamento.
Biodiversidade e mudanças do clima:
- Incorporar estratégias que previnam a perda de biodiversidade e potencializem a resiliência dos ecossistemas.
- Estimular estratégias que integram produção e conservação, por exemplo, o incentivo a sistemas agroflorestais, combinando árvores e cultivos agrícolas para aumentar a resiliência climática e produtividade sustentável e o uso de biomassa como fonte de energia renovável.
Biologia sintética:
- Assegurar que os avanços na biologia sintética estejam acessíveis globalmente e que suas aplicações beneficiem todos os setores.
- Fomentar o apoio financeiro e técnico para iniciativas de capacitação e transferência de tecnologia, especialmente para países em desenvolvimento, abrangendo pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) na área de biologia sintética.
- Evitar a implementação de barreiras restritivas, como uma moratória global, que podem inibir o avanço da pesquisa em biologia sintética
Participação da CNI na COP16
Este ano marca a maior participação do setor industrial brasileiro numa COP da Biodiversidade. A delegação da CNI tem cerca de 80 integrantes, entre técnicos e dirigentes da CNI, de federações das indústrias e de associações setoriais e empresários do setor.
Segmentos industriais que atuam diretamente com insumos da biodiversidade, como papel e celulose, cosmético, químico e biotecnologia, participam das principais atividades e dos diversos eventos paralelos que acontecem durante a conferência.
A agenda de eventos do setor industrial contempla a participação nas negociações oficiais, em eventos paralelos nos estandes e espaços de interação para as partes interessadas, em fórum de negócios e em discussões específicas voltadas para o segmento empresarial.