Os produtos importados estão atendendo o crescimento da demanda interna registrado tanto em 2006 quanto neste ano, em detrimento da produção nacional, conclui estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado nesta terça, 10 de julho. No ano passado, a demanda interna expandiu-se 5,1%, enquanto a produção da indústria de transformação cresceu 1,6%. Nos primeiros três meses de 2007, a demanda interna evoluiu 5,8% em relação ao mesmo período do ano passado, e o crescimento da indústria, na mesma base comparativa, foi de 2,8%. Tanto em 2006 quanto neste ano, o volume importado de bens e serviços cresceu a um ritmo três vezes maior do que o da demanda interna.
Os dados vão na direção oposta às características históricas do crescimento do pais. A indústria de transformação, historicamente, lidera o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país) em períodos de expansão significativa da demanda interna. Segundo o estudo da CNI, em cinco ocasiões nos últimos 15 anos (NULL, 1994, 2000, 2004 e 2006) a demanda interna aumentou mais do que 4%. Nesses períodos, a indústria de transformação sempre cresceu tanto ou mais do que a demanda interna. A exceção foi 2006.
O principal motivo disso é o real valorizado. De acordo com o estudo, a taxa de câmbio "apresenta-se atualmente como uma das grandes fontes de perda de competitividade dos produtos fabricados no Brasil" e não há perspectiva de que a valorização do real, que encareceu os produtos brasileiros em relação aos importados, se reverta.
"Nesse contexto", diz o estudo, "torna-se imprescindível que se promova a redução dos custos de produção no Brasil, como forma de contrabalançar a perda de competitividade provocada pela taxa de câmbio". O texto sugere que o país precisa "insistir" em reformas que levem à expansão do investimento, à redução dos impostos sobre a produção e sobre a folha de pagamentos e também à melhora do ambiente de negócios, com ênfase na redução da burocracia.
O estudo mostra ainda que a indústria de transformação brasileira pode ser dividida hoje em três grupos: o dos setores que combinam forte aumento das importações com queda da produção industrial; o dos que têm baixo crescimento da produção industrial e enfrentam importações que crescem pelo menos cinco vezes mais; e o dos que têm crescimento significativo tanto da produção quanto das importações, demonstrando uma certa complementaridade.
Fazem parte do primeiro grupo os setores de calçados, madeira, celulose e papel, por exemplo. No segundo bloco estão os setores de têxteis, químicos, vestuário e minerais não-metálicos, entre outros. No último, figuram os setores de maior crescimento, como veículos automotores, móveis, máquinas, aparelhos e materiais elétricos, alimentos e bebidas e metalurgia básica.