O mercado esperava variação de IPCA um pouco menor, mas não chega a descartar a possibilidade de a projeção para 2007 confirmar a sexta queda consecutiva na segunda-feira, quando o Banco Central divulgar sua pesquisa semanal de indicadores. "Parte do mercado esperava IPCA um pouco mais baixo, mas o resultado de fevereiro não muda nada no curto prazo. O índice foi pressionado por educação, item que afetou os demais índices em janeiro. O IPCA acumulado em 12 meses vai acelerar, mas é quase nada", garante Otávio Aidar, especialista em análise de preços da Rosenberg & Associados.
A consultoria é mais uma a reduzir a estimativa de IPCA para 2007, de 4% para 3,6 %. Para 2008, a projeção da Rosenberg é de 3,8%. Inflação distanciando-se da meta central de 4,5% deste e do próximo ano, Selic cadente e o segundo mandato caminhando para os primeiros 100 dias recomendam ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva botar o bloco na rua. Mera formalidade ou não, a expectativa é de que o presidente anuncie a composição do ministério na próxima semana.
O comando da equipe econômica está preservado. Tampouco se espera mudança no BC, já desfalcado com a saída do economista Afonso Bevilaqua, que respondia pela diretoria de Política Econômica - agora pilotada por Mário Mesquita, também diretor de Estudos Especiais.
Cartas na mesa
Formalizado o ministério, e com as lideranças do governo no Congresso definidas e anunciadas, resta trabalho para o governo.
O Programa de Aceleração do Crescimento foi apresentado há quase dois meses e ainda desperta dúvidas sobre o impacto que terá na economia, pelo menos no curto e médio prazos. O mercado trabalha com taxa de crescimento maior neste ano, ante 2,9 % de 2006, mas não espera que o PAC puxe a economia que, acreditam analistas, continuará sendo estimulada por maior poder de compra dos trabalhadores e crédito farto. Há mais de seis meses, bancos e consultorias mantém a projeção de aumento do PIB em 3,5% neste ano. "Esperamos crescimento de 3,4%, com aceleração maior da indústria ao longo do ano", comenta Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria Integrada.
Leitura dos antecedentes
A produção industrial brasileira, calcula a economista, deve avançar 3,7% neste ano. Em 2006, a indústria cresceu 2,8%. Para o dado de fevereiro, os indicadores antecedentes de ritmo de atividade disponíveis apontam pequena alta.
"Temos a produção de veículos da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e o consumo nacional de energia, monitorado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico)", diz. "Dessazonalizados, os dados mostram queda de 2,3% na produção de veículos e queda de 0,8% no consumo de energia. Mas o resultado final do modelo que estima a atividade sinaliza leve alta de 0,3% da produção em fevereiro." Marcela destaca o comportamento da indústria em média móvel trimestral - critério que suaviza movimentos mensais mais voláteis - e explica que fevereiro fechará mais um trimestre positivo, ainda que em patamar baixo. "Importa, de fato, que as variáveis que determinam a produção são todas positivas, a começar pela expansão forte de bens de capital nos últimos meses. Isso significa investimento que terá impacto favorável adiante."
Diagnóstico errado
Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, diz que "o aumento dos investimentos e o uso da capacidade ociosa na indústria trarão o crescimento em 2007 para próximo de 3,5%". Ele considera o PAC "um programa tímido que está longe de ser um programa voltado para a aceleração do crescimento econômico". Pastore explica que o PAC parte de um diagnóstico errado sobre como acelerar o crescimento, e não terá êxito em elevar a expansão do Produto Interno Bruto a 4,5% neste ano e a 5% ao ano daí para frente. "Se o PAC tivesse proposto reformas reduzindo permanentemente o crescimento dos gastos públicos, e abrindo o caminho para uma queda gradual da carga tributária no futuro, teria criado algumas condições necessárias para um crescimento econômico mais acelerado", afirma.
Fora da forca
A redução dos gastos públicos, na avaliação de Pastore, tiraria o setor privado da forca imposta por carga tributária de 38% do PIB. Essa carga poderia ser reduzida no tempo, liberando recursos privados para investimentos. "O governo já consolidou o ajuste no balanço de pagamentos. Assim, ao reduzir os riscos associados à política fiscal, o governo criaria condições para diminuir as barreiras tarifárias, permitindo o aumento mais acelerado das importações e a queda do superávit nas contas correntes."
O economista conta que essa combinação de ajustes daria duas contribuições ao crescimento: aumento da poupança externa e redução dos preços dos bens de capital e matérias-primas importados, estimulando a formação bruta de capital fixo, que no Brasil depende fortemente das importações. "Mas essas propostas são neoliberais que não sensibilizam o governo Lula, que tem uma preferência por ações diretas do Estado e não do setor privado no campo da infra-estrutura, e que não abre mão da sustentação de elevadas transferências de renda, que impedem a queda da carga tributária", lamenta.
Fotos: www.jorgeduardo.com
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