Para debater a importância do ambiente econômico para o futuro do setor industrial, o jornal O Estado de S. Paulo promoveu, esta semana, o Fórum Estadão Think – A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã, que contou com o apoio institucional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), do Centro das Indústrias do estado de São Paulo (Ciesp), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
Durante a abertura do evento, o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, afirmou que a indústria de transformação precisa recuperar o protagonismo porque o setor é fundamental para o desenvolvimento de um país com dimensões continentais como o Brasil.
Josué pontuou que é a indústria que aumenta a produtividade na economia como um todo e, principalmente, produz inovação e desenvolvimento tecnológico. Por isso, defende que os polos de tecnologia e inovação precisam estar próximos dos centros de manufatura e produção.
“Espero que o Brasil perceba a importância da indústria de transformação e passe a defendê-la com vigor”, disse.
O presidente da Fiesp lembrou ainda as três décadas do Plano Real, que pôs fim à hiperinflação, mas levou os juros a patamares elevadíssimos. “Infelizmente, algo que deveria ser transitório acabou se transformando em permanente”, afirmou. “No Brasil, viver de renda se tornou um grande negócio e produzir, um péssimo negócio”.
“Mesmo se levarmos em consideração os últimos 25 anos desde a criação do tripé macroeconômico, nós vamos ver que a taxa de juro, em média, foi de 12,4% contra uma taxa de inflação medida pelo IPCA de menos 6,5%. Taxa de juro real de quase 6% ao longo de 30 anos, sendo que vivemos com taxas de juros negativas no mundo desde 2008”, criticou.
Segundo Josué, no Brasil, tomar recursos de terceiros é proibitivo e a carga tributária pesada faz com que a existência própria de caixa, outra fonte de investimento, também seja diminuída. “Como manter produtividade num contexto como esse?”.
O Diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Rafael Lucchesi, afirmou que existem três processos em curso atualmente em termos mundiais que estão sempre sobre a mesa. A nova revolução industrial baseada na big data, na internet das coisas e na inteligência artificial; os extremos climáticos, que fazem acelerar a necessidade da transição energética; e a nova geopolítica, que mostra um deslocamento entre o ocidente e o oriente.
“Precisamos fazer mais do que discutirmos a questão fiscal. Temos de ter estratégia, uma missão. A reindustrialização precisa vir de uma política de estado”, disse Luchesi.
O Brasil, segundo ele, é o país que mais retrocedeu em termos de competitividade por causa de uma ausência de políticas industriais ativas, ao contrário dos países mais ricos que despejam atualmente quase US$ 13 trilhões nesse tipo de política. “O rentismo sem produção também vai condenar o futuro no Brasil”, afiançou Lucchesi.
De acordo com o presidente do Ciesp, Rafael Cervone, do ponto de vista estratégico, o Brasil precisa de um Plano Safra para chamar de seu. O Plano Safra é uma política pública que vem sustentando o crescimento do agronegócio por 20 anos e que, para 2024/2025, estão reservados R$ 400 bilhões.
Assim como Josué, ele também pediu atenção à questão tributária, que ainda cria tensão.
“A lista extensa de benefícios tende a gerar distorções nos ganhos da Reforma Tributária em curso no Congresso”, pontuou Cervone.
Para Carlos Erane de Aguiar, vice-presidente da Firjan, além das questões fiscal e tributária, outras áreas precisam ser atacadas para que a indústria brasileira volte ao protagonismo, como a falta de segurança, gargalo que resulta bilhões de reais em prejuízo.
“Atividades ilegais cibernéticas, como roubo de propriedade intelectual, têm um impacto devastador para toda a sociedade. Toda a insegurança na indústria precisa ser tratada como uma abordagem integrada”, defendeu Erane.
O Fórum Estadão Think – A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã – apresentou três painéis: Reforma Tributária e Fiscal, Política Monetária e Financiamento.