Conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação do meio ambiente não é tarefa fácil. Exige investimento, sentido de urgência, ousadia, coragem e união entre empresas, governos e países.
Não fazer nada para avançar em direção à economia verde já não é uma opção há alguns anos. Mas agora chegamos ao ponto no qual fazer apenas o básico ou o mínimo para mitigar as consequências da crise climática não são mais suficientes.
“Para a maioria dos nossos desafios temos tecnologia para resolver. Certamente temos o dinheiro. Na verdade, temos mais dinheiro no mundo do que sabemos lidar. É só uma questão de melhor distribuição. Dos US$ 8,3 trilhões gastos em investimentos verdes, apenas 7% estão indo para os mercados em desenvolvimento onde vivem 70% da população mundial”, aponta o líder empresarial e ativista Paul Polman.
O holandês que é coautor do livro “Impacto Positivo: Como empresas corajosas prosperam ao dar mais do que recebem”, foi um dos palestrantes do segundo dia do B20 Summit Brasil que acontece em São Paulo (SP).
Segundo Polman, temos tecnologia para lidar com 80% dos desafios no mundo e capital para solucionar 100% desses problemas. “O que não temos é o luxo do tempo para começar a agir”, alerta.
Polman fala sobre economia verde com a autoridade de quem liderou como CEO a Unilever por 10 anos (entre 2009 e 2019). Durante esse período, a multinacional passou por vários desafios pelo fato de apostar no investimento em economia verde, que traz retornos a longo prazo.
Na palestra o ativista elogiou as iniciativas do B20, mas cobrou mais ousadia e coragem de empresas e governos. “O desenvolvimento sustentável que eu trabalhei fala sobre não deixar ninguém para trás. Os cinco pilares do B20 mostram que vocês se importam com o planeta. As recomendações de vocês refletem isso. São propostas que trazem a preocupação com humanidade”, avaliou.
Os pilares são:
- promover o crescimento inclusivo e combater a fome, a pobreza e as desigualdades;
- promover uma transição justa para “net-zero”;
- aumentar a produtividade por meio da inovação;
- promover a resiliência das cadeias globais de valor; e
- valorizar o capital humano.
O palestrante defendeu também o crescimento inclusivo com uma transição carbono zero justa por meio de inovação e não a custo de pessoas. “As recomendações de vocês são ambiciosas, tem foco forte, são relevantes práticas e com certeza muito tangíveis. Acredito que estarão presentes em muitas empresas e nações nos próximos anos”, projeta.
Precificação do carbono é medida urgente
Segundo Polman, é fundamental que todas as nações coloquem um preço para taxar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), um dos principais responsáveis pela crise climática.
Ele aponta que 25% das nações ricas do mundo já estão fazendo isso, e está na hora do Brasil, como líder mundial na economia verde, fazer isso também.
Para Polman, além das péssimas consequências da crise climática, o mundo vive um cenário cada vez mais bélico, desmobilização, choques econômicos, com fragmentação política além das consequências do coronavírus. Durante a pandemia o mundo gastou trilhões de dólares para salvar a vida das pessoas.
“Como comparativo foram gastos menos de 20% desse valor para uma transição energética verde que todos nós buscamos. Nós temos uma oportunidade única para fazer a transição para uma economia mais verde, inclusiva, sustentável. Não será fácil, mas é possível e não temos outra escolha”, afirma.
O palestrante também destacou as consequências drásticas do aquecimento global para o meio ambiente. “Perdemos nos últimos 50 anos cerca de 70% das nossas espécies. Incluindo metade das florestas mundiais. Vivemos uma batalha para sobrevivência de nós mesmos”.
Polman ressaltou também que cientistas climáticos alertam que a humanidade está chegando num “looping negativo” no qual não conseguiremos mais lidar com os danos que estamos causando.
“Tudo isso está aumentando quando vemos a mãe natureza nos mostra cada vez mais fenômenos como terremotos, queimadas, tempestades. Só na América Latina foram registrados 3.5 mil desastres naturais. Muitas pessoas perdendo suas vidas, seus lares além de bilhões de dólares em danos”, disse.
Desenvolvimento sustentável pode economizar US$ 43 trilhões
O palestrante criticou o fato de o mundo gastar anualmente cerca de 10% a 12% do PIB mundial em eventos de conflitos e guerras. O valor, segundo ele, é duas a três vezes maior do que precisamos gastar para implementar medidas em prol do desenvolvimento sustentável. Segundo Polman, caso a trajetória de aquecimento global atual permaneça, o mundo precisará gastar US$ 178 trilhões até 2070.
“Se nos dedicarmos ao desafio de manter a temperatura em, no máximo, 1,5 ºC, teremos uma economia de US$ 43 trilhões. Logo, o custo de não fazer nada é maior do que o custo de fazer algo”, afirma.
Apesar desse ambiente macroeconômico incerto, Polman apresenta um dado no qual 91% dos executivos de grandes corporações enxergam a transição verde como uma oportunidade.
Desses, 74% relatam aumento de investimentos para chegar nessa transição de emissões zero. “Não é surpreendente para mim que as empresas que lideram a transição verde têm mais recompensas por isso. Têm mais oportunidade de se dar melhor do que suas concorrentes e atrair desenvolvimento e investimentos que precisam”.
Segundo Polman, em 2023 foram investidos US$ 1,8 trilhão na economia verde, como energia solar, eólica e baterias renováveis, que são responsáveis por 30% da demanda de energia global.
A energia verde é mais barata em 80% dos países em todo o mundo. Para ele, com as expectativas da queda de custos para investimentos na energia limpa nas próximas décadas, esta transformação deve ser acelerada.
“Mas a realidade é que não estamos fazendo o suficiente. Ainda criamos os problemas num ritmo mais acelerado do que aplicação das soluções. Investimentos verdes precisam triplicar, produtividade e eficiência precisam duplicar. Embora não seja fácil é necessário pensar e agir rápido”, declarou.
Paul finalizou sua palestra se dirigindo aos CEO’s de grandes empresas mundiais com uma espécie de desafio para responderem duas perguntas. Como posso lucrar solucionando os problemas do mundo e não criar mais problemas? Será que o mundo está melhor porque minha empresa está nele?
“Há muitos CEO’s no mundo e ainda existem poucos que podem responder a ambas as perguntas de forma positiva. Não é mais suficiente que as empresas esperem os governos aprovarem legislações que exijam mudanças. É preciso que as empresas trabalhem junto com o governo para essa transição verde de forma ambiciosamente eficaz”, finaliza.
O B20 Brasil 2024
O B20 é o fórum de diálogo mundial que conecta a comunidade empresarial aos governos do G20, mobilizando mais de mil representantes do setor privado dos países membros. A edição brasileira reúne sete forças-tarefas e um conselho de ação.
Os grupos de trabalho são formados por empresários do Brasil e estrangeiros que debateram, desde o início do ano, propostas de temas urgentes: Comércio e Investimento, Finanças e Infraestrutura, Emprego e Educação, Transição Energética e Clima, Transformação Digital, Integridade e Compliance, Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura, além do Conselho de ação Mulheres, Diversidade e Inclusão em Negócios.
O B20 Summit Brasil está sendo realizado no Clube Monte Líbano, em São Paulo, e tem o patrocínio da Sabic, Aramco, Equinor, Mastercard, JBS, Vrio-Sky, Google, BNDES, BRF-Marfrig, ABDI e Finep, além do apoio institucional do Sebrae e do Conselho do Serviço Social da Indústria (SESI).