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Nos céus, em terra firme e na indústria: todo lugar é lugar de mulher

Por Agência CNI de Notícias - Publicado 08 de março de 2019

Atuação feminina no mercado de trabalho é cada vez mais versátil

Difícil encontrar uma tarefa ou uma profissão que não tenha a participação das mulheres. E se houver, as chances de elas estarem chegando lá são grandes.

A presença da mulher no mercado de trabalho avançou muito nas últimas décadas e apesar de isso não significar um cenário ideal, hoje em dia é possível ver grande participação feminina em atividades tipicamente masculinas, como a troca de pneus e a pilotagem de aviões. Todo lugar é lugar de mulher.

Desde a 1ª Revolução Industrial, no final do século XVIII, as mulheres fazem parte do mercado de trabalho. Elas precisavam trabalhar para sustentar as famílias enquanto os homens estavam na guerra e as fábricas precisavam de mão de obra. Dessa forma o sexo feminino foi inserido na indústria.

Começou aí a era da jornada dupla, pois assumir empregos industriais não eximiu as mulheres da responsabilidade sobre o trabalho doméstico. Muito pelo contrário. As atividades remuneradas eram as mesmas para trabalhadores independentemente de gênero. Só o salário que não. Mulheres chegavam a ganhar até 60% menos do que os homens.

Passadas três revoluções industriais, sendo a 4º revolução em pleno desenvolvimento, o sexo feminino ganhou mais importância. Segundo dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres compõem 51% dos trabalhadores brasileiros. Na indústria, elas respondem por 30% dos cargos, de acordo com o Ministério da Economia, rompendo barreiras e preconceitos para atuar em diversos ramos.

A coordenadora de vendas e recapagem Caruani de Lucenas Minozzi faz parte desses números. Ela começou a trajetória na Goodyear, em São Paulo, há 12 anos, como auxiliar e foi conquistando cargos melhores na empresa no decorrer do tempo. Inserida em um setor predominantemente masculino, ela dedica parte significativa de seu tempo a viagens acompanhando e conhecendo melhor seus clientes.

Em casa, como outras mulheres, Caruani também administra tarefas domésticas e a criação dos dois filhos. A força que a motiva diariamente para seguir a rotina cresceu ainda mais há 5 anos, quando o marido sofreu um acidente e ficou com algumas limitações.

“Quando ele se acidentou eu tive que ser ainda mais forte e não deixar a peteca cair. Eu não tinha tempo para me vitimizar e isso me ajudou muito a chegar onde eu cheguei”, relata.

Ela é formada em marketing e defende o poder do público feminino e condições iguais em qualquer segmento. “Nós precisamos nos valorizar e mostrar para a companhia as nossas qualidades. Saber competir, entender como funcionam os negócios e definir nossas prioridades, mostrando também que nós temos competência”, afirma Caruani.

NOS CÉUS – As mulheres também estão conquistando os céus. O mais recente levantamento realizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) aponta um crescimento de 106% no número de licenças concedidas a mulheres para atividades aéreas, entre 2015 e 2017, excluindo a carreira de comissário de bordo que, historicamente, sempre teve mais participação feminina.

O Brasil fechou 2018 com 1.645 pilotas. Uma delas é Fabíola Castro, única pilota de testes do país, que trabalha na Embraer. Ela descobriu a paixão por aviões na infância, enquanto brincava com as miniaturas do irmão. “Ele ganhou uma caixinha de carrinhos de ferro e vieram dois aviões, um prata e um branco. Era uma coleção daquelas de ficção e ele deixou os aviões para mim”, explica Fabíola.

O tempo passou e ela decidiu ingressar na universidade de turismo, área na qual se formou e atuou por anos, até o dia em que resolveu apostar no antigo sonho de pilotar. “No final de 2010, larguei tudo, voltei para o Paraná e falei: ‘eu quero ser pilota e eu vou ser pilota”, conta Fabíola.

Quando disputou a vaga de piloto de testes na Embraer, ela tinha como concorrentes outras duas candidatas, prova do aumento da participação feminina no setor aeronáutico. Aprovada há um ano, ela trabalha todo dia com o que sempre quis: testar e demonstrar aeronaves executivas e comerciais da empresa, como os jatos das famílias E1 e E2 e o Lineage 100E, sobrevoando, pousando e decolando em regiões de montanhas, mares, desertos, florestas nos quatro continentes.

MULHER DE VISÃO – Mulheres também estão à frente de pequenas, médias e grandes empresas. Estão ainda no mundo das startups, empresas novas, de base tecnológica. A médica e arquiteta Fernanda Bonatti ingressou nesse ramo em 2005. Sócia e diretora da Bonavision, empresa da Incubadora USP/IPEN-Cietecdedicada a encontrar soluções para melhorar a vida de pessoas com problemas de visão, Fernanda não tem dúvidas do potencial das mulheres.

“A capacidade intelectual da mulher, somada à sua grande habilidade de relacionamento interpessoal, resulta na excelência em ocupar qualquer papel que ela quiser no mercado de trabalho”, acredita.

O produto mais famoso da empresa é a Prancha de Leitura com Lupa Deslizante. Fernanda conta que a ideia surgiu no fim da faculdade de Arquitetura, inspirada no avô que tinha deficiência visual. Para retirar o projeto do papel, ela fundou a empresa Bonavision com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Consegui aplicar e integrar os meus conhecimentos da medicina e da arquitetura/design. As inovações surgem de projetos multidisciplinares. É preciso agregar conhecimentos de áreas diferentes para a obtenção de novos resultados”, explica.

Ela vivenciou muitos momentos de superação, mas um dos assuntos que destaca é a maternidade na carreira das mulheres. Para ela, o currículo profissional anula essa fase da vida, mas não significa que não houve trabalho e aprendizado. “A criação de filhos representa um período de superação também, um enorme aprendizado, em que a mulher é obrigada dar atenção a várias coisas ao mesmo tempo, a ser muito organizada, a trabalhar e cuidar dos filhos, a ter empatia e lidar com frustrações e dificuldades”, defende Fernanda.

O VALOR DA DIVERSIDADE – Na Alemanha, 71% das mulheres trabalham, segundo a Agência Federal do Trabalho. Foi lá que a vice-presidente de Serviços Técnicos e Infraestrutura da BASF para a América do Sul, Vera Felbermayer, aprendeu desde cedo que a mulher não tem de agir como um homem para chegar ao poder. “Mulheres não precisam se vestir como homens, reagir ou falar como eles para ser boas profissionais. Diversidade é sobre isso: é sobre ter pessoas diferentes, com diferentes pontos de vista em uma mesma sala”, afirma Vera.

Atualmente morando no Brasil, a alemã é responsável por um time com mais de 500 colaboradores das áreas de projetos e engenharia de manutenção, manufatura inteligente 4.0, ambiental, saúde e segurança, excelência operacional e energias aqui na América do Sul e conta que por muito tempo foi a única mulher nos ambientes de trabalho. 

Antes mesmo de chegar ao mercado de trabalho, ela também já era uma das poucas no ramo. Na faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Darmstadt, na Alemanha, apenas 1% da turma era do sexo feminino, mas nada fez com que ela desistisse. “Pode parecer um clichê, mas nunca deixar de ser você mesma é o meu conselho”, afirma ela para as mulheres que desejam ingressar nesse ramo ou em qualquer outro.

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