Mesmo em tempos digitais, o encantamento da leitura e o seu poder transformador continuam tendo efeito positivo, inclusive para gerações que “já nasceram com um tablet na mão”.
Um projeto literário implementado em escolas do Serviço Social da Indústria (SESI) distribuiu livros de autores como Monteiro Lobato e Ziraldo para estudantes da educação básica. O resultado foi surpreendente: estudantes super motivados, com maior capacidade de produção textual e mais entrosados com o professor.
Prova de que nem mesmo o videogame mais moderno consegue levar os estudantes para aventuras tão instigantes quanto viajar até o Reino das Águas Claras, onde vive o Príncipe Escamado, do livro Reinações de Narizinho.
De iniciativa do Departamento Nacional do SESI, o Projeto Literário SESI — Monteiro Lobato e Ziraldo, foi criado para estimular o interesse pela leitura, ampliar a capacidade de produção textual dos estudantes e contribuir com o acesso de professores, alunos e familiares a obras da literatura brasileira, especialmente em tempos de isolamento social.
No ensino fundamental, cada aluno do 2º ao 5º ano recebeu uma maleta com oito obras do Ziraldo, enquanto os alunos dos outros anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio receberam maletas com obras do Monteiro Lobato (8 obras para o Ensino Fundamental e 6 obras para o Ensino Médio). Os professores também receberam uma maleta com os mesmos títulos dos alunos e um guia com sugestões de atividades e breve histórico dos livros.
O estudante do SESI Gama (DF), Vinícius Moura Lima, de 11 anos, sempre gostou de ler, mas ainda não conhecia Monteiro Lobato. Ele já leu dois exemplares e se prepara para começar o terceiro. Em uma das atividades feitas pela professora, ele conta que gostou muito de explicar os personagens. “Emília é uma das minhas favoritas porque sempre foi muito esperta e extrovertida”, conta.
“(Monteiro Lobato) ele se inspirou nas bonecas de pano de antigamente, com um tom mais alegre. Uma das ideias que mais me marcou foi quando ela (Emília) quis fazer uma reforma da natureza, trocar o lugar da jabuticaba com o da abobora, aumentar o tamanho dos cogumelos pra fazer sombra pra ela se deitar”, conta o estudante sorrindo, e finaliza: "são personagens quase inesquecíveis”.
A mãe de Vinícius, Jéssica Moura Lima, afirma que o estudante, de fato, sempre se interessou pela leitura, mas nunca tinha acessado um material com tamanha capacidade de fomentar a imaginação do pequeno. “Foi realmente uma válvula de escape nesse período de quarentena, em que as crianças estão muito ansiosas, sempre no celular e no videogame. Aí, chegou uma coisa nova e ele amou. Lê com gosto, é uma diversão pra ele”, comenta.
Professora de Língua Portuguesa do 6º e 7º anos, Edna Mendes, conta que boa parte dos estudantes não conhecia as obras de Monteiro Lobato, muitos deles sequer contavam com um cantinho de leitura em casa. Por isso, o primeiro projeto realizado nas aulas - que continuam à distância por conta da pandemia – foi justamente o de cada aluno montar a sua própria biblioteca.
“Cada aluno criou seu espaço de leitura em casa, para que todos da família pudessem participar, e os pais ficaram encantados porque puderam apreciar leituras da infância”, conta a professora.
“Para muitos foi o início de um novo tempo, porque ainda não tinha esse espaço. Para alguns alunos, estes foram os primeiros livros que eles ganharam na vida, por isso, foi ainda mais encantador”, afirma a professora, que também criou um clube da leitura com os alunos. Toda semana tem convrsa sobre os livros e seus personagens.
Projeto amplia leitura e melhora a escrita dos alunos
O gerente de Educação Básica do SESI, Wisley Pereira, acompanhou relatos das experiências nos estados e conta que, além do aspecto do incentivo à leitura, muitos professores notaram melhora no processo de escrita, de produção de texto dos alunos. “Por mais que a nossa rede seja referência pelo uso de tecnologia, nós, como educadores, sabíamos do valor que esse tipo de leitura traria para a vida de nossos estudantes, ainda mais em um ano tão complicado de ensino à distância”, afirma.
Em Pernambuco, mais de 6 mil alunos foram contemplados com as obras para estimular o gosto pela literatura. Para engajar os estudantes, o SESI-PE lançou um desafio: cada unidade teve que elaborar um projeto usando como fonte de inspiração os autores Monteiro Lobato e Ziraldo.
A estudante do 3º ano do Ensino Médio do SESI Caruaru Letícia Freitas acredita que o Programa Literário é uma ótima chance tanto para o aluno quanto para a família de conhecer mais sobre os renomados autores da literatura brasileira. “Já li algumas crônicas de Monteiro Lobato e, agora, terei a possibilidade de me aprofundar na obra dele, além de exercitar outras áreas de conhecimento, como sociologia e história. Neste momento de pandemia da Covid-19 que estamos vivendo, nada melhor que criar o costume de ler”, disse.
Já o estudante do Mato Grosso, Lucas Jackson Gonçalves, de 16 anos, 2° ano do Ensino Médio é apaixonado por livros e foi um dos estudantes mais entusiasmados ao receber um kit com obras de literatura da escola.
“O que mais gostei foram os livros do mais que magnífico Monteiro Lobato, um ícone que escreveu as histórias que inspiraram a criação de um dos melhores desenhos que assisti na infância: Sítio do Pica-pau Amarelo. Não há momento mais oportuno do que esse para a escola dar vida a essa nobre iniciativa", diz.
As pessoas estão passando por momentos difíceis, tanto fisicamente quanto psicologicamente, e é em ocasiões como essa que os livros mais devem servir de apoio”, acredita o Lucas.
Outra aluna que aprovou o projeto foi a Vanessa Rita, também do 3° ano do Ensino Médio Sesi Senai. Ela confessa que se encantou pela maleta assim que a viu. “Posso até dizer que foi amor à primeira vista. Eu sempre gostei de livros, mas o contato com eles ficava restrito ao material da escola. Agora, estou abrindo a mente para obras literárias”.