Produtos inovadores desenvolvidos na rede de Institutos SENAI de Inovação vão ajudar os brasileiros a enfrentar a pandemia do novo coronavírus. Raios ultravioleta para desinfecção de transportes públicos, uso de supercomputação e inteligência artificial para diagnostar a doença, monitor que avalia se a ventilação de pacientes está correta, spray e tecidos que eliminam o coronavírus são exemplos dos 34 projetos selecionados na categoria Missão contra a Covid-19 da Plataforma de Inovação para a Indústria.
A categoria surgiu da parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Foram investidos R$ 27,7 milhões nos projetos selecionados, que ajudam a prevenir, diagnosticar e tratar a Covid-19.
A solução apresentada pela startup SII Technology é de luminárias de raio UV-C instaladas dentro de ônibus ou vagões acionadas por uma base móvel que funcionará fora do veículo, operada por um técnico. Uma unidade pode desinfectar até 40 ônibus por noite. O raio UV-C não deixa resquícios químicos, sendo mais seguro para as pessoas. Além disso é mais sustentável do que outras formas de desinfecção, pois não gera resíduos tóxicos para o meio ambiente.
Como a pandemia de coronavírus pode durar um período longo, o CEO da empresa, Felipe Gásparo, disse ser imprescindível pensar em estratégias para a normalização da economia, sem deixar de priorizar a saúde e a segurança das pessoas. “Estamos na fase de lote-piloto, que, quando concluído, já pode ser comercializado, mas ainda estamos trabalhando em ajustes para tornar o produto mais eficiente”, explica Gásparo.
Segundo ele, a meta é reduzir pela metade o tempo do processo de instalação e desinstalação do produto, que leva 30 minutos por ônibus. A eficiência do sistema foi testada por meio de medições confiáveis de laboratório que receberam grande apoio dos parceiros da Plataforma. “Estamos muito impressionados com o apoio que estamos recebendo. Eles não estão poupando esforços para entregarmos o projeto dentro do prazo”, avalia.
Supercomputador usa inteligência artificial para diagnosticar doença
Supercomputador localizado no SENAI-Cimatec, em Salvador (BA), também está a serviço do enfrentamento do novo coronavírus. A Plataforma de Inovação para a Indústria selecionou projeto apresentado em parceria com a empresa Repsol Sinopec Brasil. “Com a inciativa, nos juntamos ao SENAI para viabilizar capacidades computacionais a fim de acelerar estudos com relação ao problema da Covid-19”, conta Leo Soares, R&D GGRE Manager da Repsol.
Entre outras ações, será desenvolvida ferramenta de suporte ao diagnóstico usando imagens médicas de raio X e de tomografia para identificar o potencial de lesões que se caracterizem como da Covid-19. Segundo o coordenador do projeto, Erick Giovani Sperandio Nascimento, são usados dados de imagens públicos de padrões normais e anormais que tenham lesões causadas pela Covid-19.
A inteligência artificial será capaz de avaliar as imagens e dar o percentual de chance de o paciente estar ou não com Covid-19. “Isso pode ser muito útil em locais com escassez de recurso, falta de profissionais de saúde, e volume grande de pacientes atendidos, locais onde não há testagem em massa”, explica
Outra solução dentro do projeto prevê a utilização de inteligência artificial para dar suporte a instituições, governos e entes governamentais. A avaliação de cenários permite identificar quais são as ações mais efetivas para diminuição de curva de contágio e o impacto das medidas sobre a economia, por exemplo.
“O projeto faz a previsão da curva de contágio, considerando casos confirmados e mortes, utilizando o histórico do passado recente da curva; as medidas de mitigação adotadas e informações de mobilidade urbana, a fim de prever a curva de contágio, o pico previsto, o ponto de inflexão da curva de subida e descida e também o impacto que essa situação causa”, completa Nascimento.
Uma plataforma aberta também dá acesso ao supercomputador a pesquisadores de todo o Brasil que possuem soluções de combate à pandemia. “Às vezes, pesquisadores do Brasil precisam de muito poder computacional e não têm, e os projetos acabam sendo limitados”, pontua Adhvan Novais, do SENAI Cimatec.
De acordo com ele, pode-se trabalhar, por exemplo, com modelos complexos para detectar se um medicamento é eficiente ou não para determinado formato do vírus, quando se quer analisar a parte genômica, fazendo análise sobre todas as combinações genômicas.
Para ter acesso a toda a infraestrutura do supercomputador, basta cadastrar o projeto na plataforma. A proposta inscrita é avaliada por uma comissão interna para verificar se possui aderência à Covid-19. Atualmente, existem cinco pesquisas em andamento utilizando o supercomputador.
Aparelho mede pressão e concentração de gás carbônico na expiração de pacientes
Outra selecionada pela Plataforma, a empresa MDI Indústria e Comércio de Equipamentos Médicos, de Lauro de Freitas (BA), desenvolve o primeiro monitor de capnografia autônomo fabricado no Brasil. A capnografia mede a pressão e concentração de gás carbônico na expiração de pacientes e serve para aferir como está a troca gasosa em nível pulmonar, sendo a forma mais precisa de verificar se está adequada a ventilação de pessoas com dificuldade para respirar. Segundo a empresa, grande parte dos monitores existentes nos leitos hospitalares no país não possui um sensor de capnografia.
“Alguns fabricantes oferecem capnografia como acessório, mas é sempre um módulo importado e por isso há muita dificuldade em preço e disponibilidade de entrega. O nosso produto, além de ser inteiramente fabricado aqui, funcionará de modo autônomo, ou seja, sem necessidade de se conectar a um monitor de sinais vitais ou integrado, suprindo as duas necessidades no mercado”, explica o diretor-executivo da MDI, Luis Meireles, um dos três sócios da empresa.
“Além de dar informação fundamental aos médicos, como é autônomo e portátil, poderá ser usado em ambulatório, emergência e em pacientes ventilados”, completa.
Com apoio do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Avançados de Saúde, localizado em Salvador (BA), o equipamento foi desenhado e a expectativa é ter um protótipo funcional pronto para validação médica. A previsão é que, até dezembro, sejam produzidos pelo menos 200 aparelhos, após validação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Existe uma demanda grande por esses aparelhos e a oferta é pequena no momento. O que podemos afirmar é que com certeza nosso equipamento será muito competitivo face aos concorrentes estrangeiros”, avalia Meireles.
Spray e tecido eliminam novo coronavírus
Pensando em soluções para diminuir o contágio por meio de gotículas do nariz ou da boca de pessoa infectada, a empresa TNS Nanotecnologia se perguntou: e se as próprias superfícies possuírem a capacidade de eliminar o coronavírus SARS-CoV-2? A ideia se transformou em projeto, que também foi selecionado pela plataforma.
No revestimento antiviral, são utilizadas diferentes tecnologias para a ancoragem das nanopartículas de prata, tornando superfícies comuns em áreas capazes de inativar o vírus. O produto será de fácil manuseio e aplicação por spray, sem a necessidade de preparar a superfície previamente. Com uma quantidade pequena, é possível revestir uma grande área, na qual se forma uma película de proteção muito fina e transparente que, ao se aproximar do vírus, libera um íon, capaz de eliminar ou inibir a propagação.
O revestimento poderá ser usado em maçanetas, mesas, bancadas, balcões de atendimento de materiais como inox, madeira, laminado sintético e tecidos. O projeto, realizado em parceria com a Paumar (WEG Tintas), está sendo desenvolvido e testado no Instituto SENAI de Inovação em Eletroquímica, no Paraná.
Já o Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras uniu-se a Bio-Manguinhos/Fiocruz e à Diklatex para o desenvolvimento de um tecido capaz de neutralizar o novo coronavírus. Os testes preliminares realizados no início de junho demonstraram que amostras do tecido foram capazes de inativar mais de 99,9% das partículas virais respiratórias do sarampo e da caxumba. Após testar positivamente para os dois vírus, os pesquisadores chegaram à confirmação da mesma eficácia para a Covid-19.
Agora está sendo avaliada, experimentalmente, a ação de tecidos antivirais para a produção de máscaras e aventais no Laboratório de Tecnologia Virológica (Latev) da Bio-Manguinhos. A expectativa é que com o tecido antiviral sejam produzidas 600 mil peças por mês, entre máscaras, aventais e scrubs. Desde março, equipes com médicos, microbiologistas, engenheiros têxteis, de materiais e químicos vêm trabalhando no desenvolvimento da solução.
Iniciativa já selecionou mais de mil projetos inovadores
A Plataforma de Inovação para a Indústria (antigo Edital de Inovação para a Indústria) é uma iniciativa do SENAI e do Serviço Social da Indústria (SESI). Desde que foi criado, em 2004, foram selecionados mais de mil projetos inovadores, nos quais foram investidos mais de R$ 680 milhões. As propostas selecionadas recebem recursos e apoio para desenvolvimento de uma prova de conceito, passando por processos de validação, de protótipo e de teste na rede de inovação e tecnologia do SENAI.
A rede nacional Institutos SENAI de Inovação possui 27 unidades distribuídas pelo país. Desde que foi criada, em 2013, mais de R$ 1 bilhão foram aplicados em 1.086 projetos concluídos ou em execução. A estrutura conta com mais de 700 pesquisadores, sendo que cerca de 44% possuem mestrado ou doutorado. Atualmente, 15 centros são unidades Embrapii, e têm verba diferenciada para financiamento de projetos estratégicos de pesquisa e inovação.
A Indústria contra o coronavírus: vamos juntos superar essa crise
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