O Serviço Social da Indústria (SESI) reuniu nesta sexta-feira (16), em São Paulo, representantes de indústrias contratantes de planos de saúde médico-hospitalares para discutir melhorias e formas de proteger o benefício dos trabalhadores e suas famílias.
O encontro ocorre na esteira dos números divulgados pela da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que mostraram que os planos tiveram, em 2022, um prejuízo operacional de quase R$ 12 bilhões e resultado financeiro líquido positivo de R$ 1,5 milhão – o pior resultado desde o início da série histórica feita pela agência, em 2001.
Esses dados preocupam a indústria, já que o setor é responsável, parcial ou integralmente, pelo financiamento de 27% dos beneficiários de planos de saúde coletivos, ou seja, 10,8 milhões de usuários. Entre 2008 e 2021, o aumento de despesas com planos de saúde chegou a 513%, quatro vezes maior que a inflação acumulada no período (124%).
Diante desse cenário, os participantes da 14ª reunião do Grupo de Trabalho da Indústrias sobre Saúde Suplementar (GTSS), coordenado pelo SESI, debateram soluções para o uso racional dos recursos dos planos de saúde e apontaram como caminhos para combater as ineficiências, melhorar o desempenho em saúde e proteger o benefício dos trabalhadores:
- gestão e análise de dados de saúde suplementar;
- atuação conjunta dos contratantes;
- e o fortalecimento das estratégias de Atenção Primária à Saúde (APS).
Gestão e análise de dados
"As agendas de saúde e segurança convergem para um modelo de análise de big data e de estudos epidemiológicos", disse o diretor superintendente do SESI Nacional, Rafael Lucchesi, na abertura da reunião.
A fala de Lucchesi foi reforçada pelo ex-secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna. O cardiologista destacou como o intercâmbio de dados em saúde pode ser essencial para uma melhor gestão da saúde populacional.
Segundo Vianna, a disponibilização de dados clínicos e de satisfação dos usuários e dos prestadores de serviços possibilita esclarecer o que é eficaz e por que é eficaz. Assim, as empresas que contratam planos de saúde para seus funcionários, por sua vez, podem usar essas informações para:
- monitorar as condições de atenção à saúde dos trabalhadores;
- planejar e avaliar sua atuação em favor da saúde do trabalhador, prevenindo doenças, acidentes e incapacidade e promovendo a saúde e a qualidade de vida;
- incentivando o uso mais racional do sistema;
- e negociando reajustes a partir da maior transparência de dados.
"Os dados revelam que algumas empresas já estão gastando mais com os benefícios do que com seus colaboradores. Então, temos que avançar. E qualquer proposta tem que estar muito bem embasada em dados. Talvez, esse seja o norte da nossa discussão aqui hoje: como qualificar os nossos dados", disse Denizar Vianna.
Ainda na avaliação do ex-secretário do Ministério da Saúde, a pandemia de Covid-19 acelerou os efeitos diretos do descompasso entre receitas e despesas das empresas operadoras de planos de saúde.
Para Vianna, essa escalada dos efeitos coloca em risco o equilíbrio do sistema, o que pode levar ao aumento dos beneficiários, sobrecarregando ainda mais o Sistema Único de Saúde (SUS).
Soma de esforços
A CEO da Purchaser Business Group on Health (PBGH), Elizabeth Mitchell, dividiu suas experiências com o sistema de saúde privado dos Estados Unidos para ajudar no debate de soluções para a eficiência operacional da saúde suplementar.
A PBGH é uma coalizão sem fins lucrativos que representa quase 40 empregadores privados e entidades públicas nos EUA que gastam, coletivamente, US$ 350 bilhões anualmente na compra de serviços de saúde para mais de 21 milhões de americanos e suas famílias.
“Nós estamos pagando para o sistema de saúde. Precisamos encontrar uma solução para consertá-lo”, afirmou Elizabeth Mitchell. “Gastamos quase o dobro da média dos outros países ricos, e o dinheiro que estamos gastando não está tendo um impacto na qualidade de vida dos beneficiários”, completou.
De acordo com a CEO da PBGH, o momento, tanto nos EUA, como no Brasil, é de soma de esforços de todos os agentes da cadeia de serviços em saúde, como as operadoras, os prestadores de serviço e os fornecedores, as empresas e a própria sociedade, na busca por um sistema de saúde suplementar mais harmônico e que proteja o benefício dos empregados.
As indústrias participantes do encontro resumiram essa soma de esforços como “sinergia” entre os entes envolvidos.
“Que a gente possa se unir enquanto empresas e estabelecer as boas práticas na contratação. A gente precisa, de fato, pensar em um formato muito mais eficiente”, apontou Marcelo Ruiter, Principal Estratégia e Gestão de Saúde Suplementar na Suzano.
Também estiveram no encontro representantes de 47 indústrias, entre elas: o gerente de saúde da Abbott, Alexander Buarque, o superintendente da Fundação Zerrener/Ambev, Eduardo Spinussi, e as gerentes sêniores da Natura e dos Programas de Saúde da General Eletric na América Latina, Maria Cristina Nader e Marcia Agosti, respectivamente.
Atenção Primária à Saúde
Os participantes da reunião ressaltaram ainda a necessidade do fortalecimento das estratégias de Atenção Primária à Saúde (APS) como uma das ferramentas para racionalizar os gastos e melhorar o acesso à saúde. Para isso, deram ênfase nas ações de prevenção de doenças e de gerenciamento de riscos e doenças crônicas, que são responsáveis por 54,7% das causas de mortes no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.